Selecção e tradução de Júlio Marques Mota. Revisão de Francisco Tavares.
MONTE DEI “PACCHI” DI SIENA / RENZI & OS AMIGOS AMERICANOS
Andrea Cinquegrani, MONTE DEI “PACCHI” DI SIENA / RENZI & GLI AMICI AMERIKANI
Voce della Voci, 24 de Outubro de 2016

Sim, nós podemos. Com estas palavras certamente Obama tranquilizou o grande amigo
- Obama com Matteo Renzi
italiano, Matteo Renzi, antes de o abraçar pela última vez como Presidente. Podemos também ajudar a desarmar a “bomba suja” que ameaça estourar no teu país! A lutar contra uma bomba-relógio chamada Monte dei Paschi di Siena [MPS]. O Banco de Siena entrou agora no Guiness dos registos de recordes, com um terceiro resgate em poucos anos. E à cabeceira do banco mais antigo do mundo – como sempre enfatiza o nosso Primeiro-ministro – estão as tropas com a bandeira americana, com a do Banco JP Morgan na primeira linha, seguido dos grandes fundos americanos E um general a comandar as operações, bem escondido dos olhares indiscretos, um antigo Secretário do Tesouro, Timothy Geithner. Será que os nossos heróis conseguirão impedir o rebentamento da bomba e sobretudo serão eles capazes de evitar os colossais efeitos em cadeia, o devastador “efeito de fragmentação em cadeia”? A esconder debaixo do tapete – como nos melhores salões – toda a sujeira acumulada nos últimos anos resultante de uma escandalosa má gestão feita à base de derivados tóxicos para os aforradores e milagrosos para os bolsos dos gestores de topo? E a evitar um outro efeito colateral, a situação de suspense criada com o desaparecimento de David Rossi, o homem da comunicação “suicidado”, porque estava prestes a abrir o saco para o promotor de justiça do ministério público? Um complexo mosaico. Vamos tentar reconstituir as peças.
DOS GRILLI AOS PASSERA, TODOS AO FUNDO

Começamos pela primeira peça americana em campo, JP Morgan. Pertence ao seu CEO, Jamie Dimon, a assinatura na parte inferior do primeiro plano de resgate lançado há alguns meses atrás, aceite por todos nós, e levado numa bandeja de prata ao palácio Chigi no início de Julho por Dimon e Vittorio Grilli, que desde meados de 2014 é presidente de “Corporate & Investment Bank” para a Europa, África e o Médio Oriente do colosso financeiro americano. O plano acordado com o nosso Mediobanca baseia-se essencialmente em duas partes: empacotamento de todo o crédito considerado de muito difícil cobrança (quase 28 mil milhões, uma dupla financeira) e venda em saldo (70 por cento de desconto, com uma previsão de 9 milhões de euros); imediatamente após a sua recapitalização, com 5 mil milhões. Mas há um “pacote” a reboque: a bela quantia de mil milhões de comissões, um bonito emblema oficial (quanto mais os bastidores). E para cozinhar ao ponto o prato previsto pelo plano, aqui está ao forno o novo chefe, o recém-nomeado CEO Marco Morelli, que substituiu Fabrizio Viola “demitido” precisamente para satisfazer JP Morgan: permanece nos anais a ordem simultânea, chegada dos Estados Unidos e do Palácio Chigi, ao ministro da Economia Carlo Padoan, com o nome do novo CEO para substituir o Presidente do MPS, Massimo Tononi, outro dirigente com os dias contados. A prova dos nove? Morelli que no seu pedigree possui duas anteriores e importantes referências, ambas dos EUA: Merrill Linch Itália e JP Morgan, irá assegurar – como planeado – um necessário “empréstimo-ponte” de pelo menos outros 5 mil milhões para garantir o sucesso de toda a operação. E para ajudar no resgate devem-se obter alguns fundos e não poucos: árabes uber alles, com Qatar e Kuwait à cabeça mas ainda chineses.
Bonecreiro italiano, o doravante londrino Vittorio Grilli, uma vida na direcção-geral do

Tesouro, depois Ministro da economia no governo Monti, e em seguida passado para o topo da pirâmide de JP Morgan: no visor – segundo a Piazza Affari, a Bolsa – está a poltrona de governador do Banco da Itália. Uma manobra, esta última já tentada: focalizando sobre uma série de amizades, de verdadeiros pesos pesados, algumas delas não pouco questionáveis (como o OK do seu grande amigo, Massimo Ponzellini). E outras “derrapagens” têm ameaçado colocá-lo fora do caminho: a consultoria de ouro entregue por Finmeccanica à sua esposa, Lisa Lowenstein; ou a casa comprada a preço de saldo – um super cadastro – em Parioli.
Passemos ao segundo peão americano, os grandes dos “fundos”, em que na primeira fila está

Warburg Pincuss. Sob a direção de Corrado Passera, cuja ação relâmpago permitiu que o exausto título do MPS ganhasse, por magia, quase 40 por cento do seu valor, agora em mínimos históricos. Uma semana para recordar, em que MPS muda literalmente de pele, com um terço dos seus acionistas a serem novos em folha. Os salteadores, especuladores em grande parte, olham para a piazza Affari. Mas não só e especialmente ” não melhor”. “Perdido por um fio – é ainda explicado – Passera tem cartas para jogar e pode contar com fortes ligações construídas ao longo dos anos. E nada o impede de pensar que no final os dois peões no tabuleiro alcançarão um acordo que a todos beneficie: se os porta-aviões se estão a mover, isso significa que a partida é muito importante, o primeiro-ministro que de outro modo se afogaria deve ser salvo a todo o custo, uma bela operação “Restaurar a Esperança. “
GEITHNER, DO BANCO MORGAN PARA O FUNDO PINCUS
E talvez seja precisamente por isso que a varinha mágica pode passar mais pelas mãos de quem sabe mais que toda a gente sobre orçamentos públicos e riquezas privadas: Timothy Geithner, durante anos ao comando do Tesouro dos EUA, cérebro e braço financeiro de Barack Obama. O seu nome, surgiu à ribalta das crónicas há um bom par de anos atrás, com o lançamento de um dos seus livros, “Stress Test”, no qual reconstituía algumas histórias de economia e de política internacional: incluindo a “demissão” em 2011, do primeiro-ministro Berlusconi e a chegada dos “não eleitos “, a começar por Mario Monti, um nome obviamente bem visto nos EUA (como Mario Draghi). Entre as douradas “portas giratórias” do establishment americano, a referência Geithner brilha de um modo muito especial: da gestão pública com o Tesouro americano, passa com armas e bagagens para uma zona altamente seleta do espaço privado: logo para os braços do JP Morgan, como primeira experiência. E depois de alguns anos, aqui o vemos no Warburg Pincus, o gigante dos fundos, 400 funcionários e um volume de negócios anual de cerca de 40 mil milhões de dólares
Observa um analista financeiro dos EUA: “o jogo é bastante claro, temos que ver quais os

procedimentos operacionais que serão identificados como sendo os mais credíveis. Renzi pediu um forte apoio aos Estados Unidos, a Obama, uma vez que o MPS significa muito para o destino do governo: se der errado, vai ao ar todo o executivo. Uma espécie de um segundo referendo! Aqui entram em cena os dois peões, que conduzem sempre à referência Estados Unidos. Grilli e Passera encontrarão um acordo porque é isto que quer o governo americano, o que ainda é mais seguro se ganha Clinton, porque é isso que querem os gigantes das finanças, também para tornar mais fácil a colonização. E durante toda a operação os homens de ouro sempre terão que pensar sobre como ganhar à boa maneira de Scrooges: pensem só como é que alguns dos amigos de Geithner têm ganho milhões de dólares, a trabalharem com o Goldman Sachs, Citigroup, Blackstone e outros grandes bancos de Wall Street: para citar apenas dois casos, 3 milhões de Lee Sachs com Mariner Investment Group, um hedge fund sediado em Nova Iorque e 1,2 milhões de Gene Sperling com a Goldman Sachs.
Mas regressemos a Siena, ao seu multimilionário e sumptuoso pálio em torno do MPS, à estratosférica fortuna acumulada por algumas das suas papoilas, recentemente enviadas a tribunal (e os outros?), como sempre à custa dos aforradores privados e dos cofres públicos, tendo em conta o custo dos dois resgates anteriores. Efetivamente, começará em Milão, a 15 de dezembro, o julgamento de 16 réus, após as investigações do promotor de Siena e da transferência do processo para aquela cidade. Entre os VIPs, Giuseppe Mussari, Gianluca Baldassarri e Antonio Vigni, que têm como companhia Raffaele Ricci, diretor de vendas do banco Nomura (a sigla dos derivados super tóxicos) para a Europa e Oriente Médio. Debaixo dos holofotes estão os contratos de derivados Santorini e Alexandria, sobre o empréstimo híbrido Fresh e sobre a titularização Chianti Classico. Entre as partes civis, além obviamente de milhares de investidores, está a nova gestão do mesmo Monte dei Paschi, o Banco Central de Itália e a Entidade responsável pela Fiscalização dos Mercados Financeiros, a Consob. Inacreditável, mas verdade: aqueles que testemunharam, desde 2011, o massacre, dão agora um triplo salto para se colocarem como censores.
De facto, a primeira minuciosa denúncia enviada à Consob é na verdade datada de 28 de julho de 2011. Uma denúncia anónima (reproduzida abaixo) em que se detalha, operação a operação, tipologia a tipologia, a estratégia de negócios da “banda dos 5 por cento,” que levou aos enormes buracos nas contas do banco MPS e à criação de fundos secretos – quase sempre com sede em paraísos fiscais – para os membros da banda dos 5 por cento.
DA ACUSAÇÃO ANÓNIMA AO QUERER DE DAVID ROSSI

“Desde há muitos anos – é o principio do Eu acuso- trabalho dentro do grupo Monte dei Paschi. Presenciei várias inspecções (em Milão e Siena) feitas pela Consob, pela Polícia Financeira e pelo banco da Itália. Foram detetadas pequenas irregularidades processuais. Nenhuma dessas inspeções, notou fosse o que fosse quanto às irregularidades, abusos e autênticas fraudes financeiras feitas ao longo dos anos por alguns altos executivos que controlam o banco. Factos extremamente graves que poderiam pôr em risco a continuidade da atividade bancária e afetar gravemente muitos pequenos aforradores que investiram em títulos do Monte dei Paschi “. E ele continuou: “Não é nenhum segredo que os bancos italianos estão cheios de títulos de dívida pública italiana (dezenas de milhares de milhões de euros só no MPS), não é segredo que a sua reavaliação a preços de mercado reduziria drasticamente o capital social de um banco subcapitalizado como o MPS; nem todos sabem, porém, que muitas das transações efetuadas para montar estas posições estratégicas geram sistematicamente buracos negros em benefício dos altos quadros e dos funcionários envolvidos no esquema”.
E há em baixo uma lista enorme de excelentes nomes – em primeira linha o então chefe de

finanças Baldassarri, no comando há mais de uma década, o diretor-geral Vigni e o responsável pela área de trading do MPS em Londres, Pompeo Pontone – sigla ecrã para as perigosas operações dos ” corretores amigos “, que vão desde GDP a Enigma securities, ambas com escritórios em Milão e Lugano; de preços “fora do mercado” dos fluxos gigantescos de “títulos a negociar “; do “Flipping tão amado pelos colegas da Corporate Bonds da rua Rossellini 16 em Milão”; da “Surpresa”, à base de títulos obrigacionistas, divertida acrobacia (para aqueles que os criam, não para aqueles que sofrem os seus efeitos, os habituais aforradores) que MPS utilizou ao longo dos anos “com Nomura, com Jefferies, com CSFB e com JP Morgan”. Por coincidência, precisamente aqueles que agora andam envolvidos no “resgate”…
Atenção às datas. O período de ouro da banda dos 5 por cento, liderada por Baldassari, vai desde 2008 a 2011, quando a empresa-irmã Enigma movimenta mil milhões de euros, especialmente em direção a bancos de Malta, a bancos ingleses, suíços, do Luxemburgo, das Bahamas e de Singapura. Para salvaguardar o todo, aparecem outras siglas dinâmicas, Lambda Asset managment e Lamba securities, Vasco Shipping, Atrium Portfólio. No articulado jogo de caixas chinesas e nas vertiginosas reciclagens surgem também a firma de S. Marino SMI do conde Henrico Maria Pasquini (que se tornou mais conhecido recentemente devido à Ferrotramviaria spa, empresa propriedade da familia Pasquini, em cuja linha de Puglia se deu um trágico choque de comboios) e a United International Bank, empresa financeira posta de pé nas ilhas Vanuatu, no Pacífico, pelo cunhado de Pasquini, Andrea Pavoncelli.
Em julho de 2011, um anónimo envia a missiva explosiva para a Consob que lava daí as suas mãos e a envia para o banco da Itália. Este, na primavera seguinte, realiza uma inspeção, enquanto entretanto tinham já começado as investigações do Ministério Público. Depois, em fevereiro de 2013: numa muito rápida sucessão, dá-se a prisão de Baldassarri, o voo (considerado suicídio) de David Rossi (que no dia seguinte era esperado na Procuradoria onde ia prestar declarações) do quinto andar da Rocca Salimbeni (sede do Banco), o primeiro resgate de 4 mil milhões de obrigações subscritas pelo Estado, os famosos (famigerados?) títulos Monti. Daqui até que se tenham dado investigações mais precisas sobre as contas da banda dos 5% passa um ano: de facto, em Fevereiro de 2014 dá-se uma grande operação desencadeada pela Polícia Financeira que passará a pente fino uma série de residências e escritórios de Baldassarri & Associados.
O OMNIPRESENTE MASSIMO CAPUTI
