O QUE SE ANDA A PASSAR? Por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

O que se anda a passar no mundo? E entre nós?

Não acredito que as gerações que acompanharam e festejaram o 25 de Abril estejam tão desiludidas que se tenham abstido de lutar, cada vez mais, pela democracia.

Foram muitos os nossos sonhos! Liberdade, igualdade, conhecimento, saúde, habitação, liberdade de expressar os nossos pensamentos, lutar pela dignidade de todos, não tolerar injustiças…

Já vivi mais anos em democracia do que em ditadura e, esta, nunca mais.

Temos uma responsabilidade acrescida pelo facto de termos vivido os dois lados da sociedade (como se só houvesse dois lados).

Com fome, sem tecto, sem agasalhos, sem saúde não se tem força para lutar pelos direitos básicos de cada ser humano.

Esta vivência de 40 anos de democracia ensinou-nos que nada é irreversível se não lutarmos dia a dia em casa, no trabalho, com os amigos. Não se trata de ir a manifestações ou a comícios, trata-se de dar o exemplo com o nosso comportamento.

Se tratar mal o meu filho estou a magoá-lo e a estigmatizar uma pessoa que deveria crescer em paz, com afecto, com confiança e auto estima.

Se estiver desempregado fico sem capacidade de lutar…

Se cometer um crime vou para a cadeia, mas as cadeias estão mais do que cheias, e não há reabilitação dos reclusos

O que se passa? Parece que todos os dias há meninos e meninas maltratados, mulheres agredidas ou mesmo assassinadas!

Corrupção por toda a parte, basta ter um bocadinho pequenino de poder.

Esta realidade não surgiu, agora em Democracia, sempre existiu, mas não havia liberdade de expressão e portanto não se sabia, ou não se queria saber porque a realidade incomoda…

Que idade têm estes e estas agressores? Parece-me que muitos há que cresceram e viveram sempre numa sociedade democrática…

Andaram na escola que se queria libertadora, usufruíram do direito ao voto. Podem assumir a sua sexualidade, casar e adoptar crianças. Têm tribunais para os defenderem e de lutarem pela sua inocência e, se assim não for, têm o Tribunal dos Direitos Humanos.

Não nos é proibida nem a expressão do que somos nem a nossa defesa.

 Faz 30 anos que Zeca Afonso morreu fisicamente, mas está bem vivo nos corações e acções de muitos portugueses.

Sim é preciso avisar a malta, venham mais cinco, canta camarada, bairro negro, vejam bem, não, ainda não estamos cansados, afinal nada fica conquistado porque se virou uma página na nossa História.

Tal como uma flor ou como um livro temos que cuidar deles para que não morram ou não se estraguem.

Hoje temos muita gente que anda a estragar a democracia.

Na Assembleia da República dão-se os piores exemplos aos portugueses. Os deputados que elegemos, para fazerem leis cada vez mais justas, insultam-se, têm uma linguagem  feia e uma mensagem destrutiva.

Mas nada nos fará desistir de querermos uma vida sem medos. Temos que inventar uma nova forma de lutar porque manifestações e concentrações não chegam aos governantes. Acabou-se a contestação dos proletários contra os patrões, a luta tem de ser mais abrangente e consistente, por isso a escolarização é tão importante porque eu só penso com as palavras que tenho…

1 Comment

  1. A Constituição da República, que é tão festejada pelos supostos de esquerda, encerra todas as possibilidades da malandragem mandar – e mal – na População. Sem um texto que garanta o concurso activo, inexorável e constante dos Eleitores, a Democracia resvala para o espectáculo em curso. Votar-se para o Legislativo, apenas, de quatro em quatro anos só por troça. tanto mais que os mandatos dos parlamentares não são imperativos. Se os partidos políticos fazem falta para informar e formar a opinião pública – é o direito à livre expressão – não significa terem o direito de serem detentores do privilégio de intermediar os actos eleitorais nem, tão-pouco, de representarem os círculos eleitorais que – haja Democracia – devem tornar-se unipessoais. Temos uma Constituição feita à medida dos interesses dos arregimentados que, quantos deles são, sobretudo, alienígenas. Lutar por manifestações é, como escreve, um conselho excelente mas por aquelas que tenham em vista algo com um valor político estratégico – no caso constitucional – e não meramente táctico como todas, depois do 25 de Novembro, têm sido. CLV

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