FRATERNIZAR – 25 de Abril, 43 anos depois: D. Marcelo, o palavroso, e alguns tiranetes mais! – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

Marcelo, o palavroso, está a tornar-se insuportável. E o país, anestesiado com Fátima, com o Futebol dos milhões e seus demenciais comentadores nos canais ditos de notícias ao minuto, mais os repetitivos discursos do chefe do governo e respectivos ministros, dos chefes dos partidos políticos de direita e de esquerda, dos chefes dos grupos parlamentares, dos chefes das centrais sindicais e da Frente dos Sindicatos da Função Pública, todos bem falantes e vestidos a rigor, já nem dá por nada. E porque ele é um presidente que não dorme, ou dorme apenas três horas por noite, já nem sequer deixa dormir as cidadãs, os cidadãos do País. A verdade é que continuamos a ser, 43 anos depois de Abril, um povo desgraçadamente sem voz e sem vez e, para cúmulo, ainda baleado-massacrado por overdoses de discursos dos agentes de turno dos poderes e de notícias, sempre as mesmas.

A tão apregoada liberdade dada de bandeja pelo 25 de Abril 1974 é, afinal e exclusivamente, a liberdade do grande Capital que, desde então, está ao comando de tudo o que é notícia no país e na UE. É ele que tudo permite, promove e financia, como é também ele o único que sai a ganhar com este tipo de mundo e de eventos-comemorações. Os seus súbditos portugueses, em vez de fazerem acontecer o Abril sonhado e cantado mas nunca realizado, insistem, cada ano, em sair às ruas, a mostrar quão gratos estão pelo feriado que ele lhes dá, e ao qual se junta, este ano, o dos cem anos das “aparições” de Fátima, a tolerância de ponto no próximo dia 12 de Maio, para que, desse modo, os funcionários públicos possam ver o papa Francisco, sem dúvida, o maior prestidigitador católico romano criado por ele.

Neste nosso Portugal que constitucionalmente se diz uma República, o grande Capital tem no rei D. Marcelo, o palavroso, o seu porta-voz e o seu rosto. Como ele, é omnipresente, omnipotente, omnisciente. Nada se faz sem ele e tudo o que se faz é graças a ele que se faz. Nunca o grande Capital esteve tão bem servido neste país dominado, desde a fundação, por clérigos e reis católicos, como está agora com o católico presidente da República. Ele e o Capital são um só. E todos os mais, seus reféns. É o que o 25 de Abril 2017 gritantemente revela, ainda que teimemos a não querer ver. À realidade, preferimos a erncenação, o faz-de-conta. Insensatamente. E o que mais tememos é levantar-nos politicamente desarmados do chão e sairmos do túmulo em que nos obrigam a permanecer, como mortos-vvos, do nascer ao morrer.

Não é por acaso que este ano o 25 de Abril foi todo do rei D. Marcelo, o palavroso. Outros, seus inferiores na pirâmide institucional do Poder ao serviço do grande Capital, também usaram da palavra, mas o que fica na mente das populações súbditas, atentas e reverentes, são as palavras dele na AR, as selfies com ele nas ruas e nos jardins do palácio de Belém – não me enganei, é mesmo palácio de Belém, não uma casa comum com gente dentro – e na demorada e palavrosa cerimónia da entrega das condecorações e dos elogios fúnebres a quem, a título póstumo, ou presencialmente, ainda se presta a este macabro e sinistro tipo de iniciativas. Escutaram o sublinhado dele, na AR, a uma “mais justa repartição da riqueza”? Pensam que ele quer ver o país, a UE e o mundo a darmos corpo ao princípio fundador da Humanidade, De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades? Nada disso. É na Caridadezinha, estúpidos, é na Caridadezinha que ele está a pensar, que essa é a regra primeira do grande Capital!

Acontece que no 25 de Abril de 1974, os bispos portugueses estavam reunidos em Fátima, seu berço e mausoléu de eleição. Não! Não estavam lá de terço na mão – coisa para a arraia miúda, não para eles, suas excelências reverendíssimas – como fazem crer aos seus ainda muitos súbditos, os remediados, a maioria, e os eruditos, uma minoria. Estavam a congeminar como haviam de continuar a lidar com a chamada “primavera marcelista”, com os muitos presos políticos em Caxias e em Peniche, com a Guerra Colonial em África e – coisa ínfima, mas não despicienda – com a minha absolvição, pela segunda vez consecutiva, no Tribunal Plenário do Porto, quando o próprio Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, também presente, agraciado a título póstumo, este ano por D. Marcelo, o palavroso, com a Grã Cruz da Ordem de Santiago e Espada, já me havia retirado o título e a função de pároco de Macieira da Lixa, só porque eu, como o colectivo de Juízes do Tribunal Plenário do Porto é o primeiro a dar como provado, pela segunda vez consecutiva, que eu sou um pároco exemplar e que havia sido preso político, sem direito a qualquer caução, apenas por pregar o Evangelho de Jesus na paróquia. E o bispo não só já me havia retirado o titulo e a função, como ainda fazia constar entre os párocos da diocese que não sabia mais o que fazer comigo. Vejam só!

E não é que este ano, 43 anos depois, os bispos portugueses voltam a estar reunidos em Fátima, covil de ladrões e privilegiado local de conspiração religiosa católica contra a existência de povos livres, iguais, também em género, e irmãos, um local que eles sabem protegido por terra, mar e ar, dado que é a maior galinha de ovos de ouro da igreja católica e do Turismo religioso em Portugal, a que até o papa Francisco não resiste a vir dar uma mãozinha e levar daqui grande parte do proveito financeiro, com as duas desgraçadas canonizações já anunciadas urbi et orbi. De modo que é aí, em Fátima, que o Governo português de turno lhes faz chegar a sua bênção laica e republicana, feita notícia em primeiríssima mão, de que a vinda do papa justifica bem tolerância de ponto, sexta feira12 de Maio, o pai e a mãe de todas as canonizações, criancinhas criminosamente manipuladas por clérigos, incluídas. Porque, para o grande Capital e seus agentes religiosos e laicos, vale tudo, até tirar olhos.

Entretanto e porque o mundo não é só Portugal e a senhora de Fátima, Trump e a Coreia do Norte não desarmam. A Rússia, a China e a Índia, tão pouco. Assim como a Alemanha e a França. Atrevam-se a desencadear entre eles um inferno nuclear que logo se tornará global. E é o fim da vida, tal como a conhecemos neste planeta Terra a dançar dia e noite e ano após ano, à volta de si própria e do Sol. E tudo, só porque, depois que ela, em nós, conseguiu chegar à condição de racional, resiste a dar um salto qualitativo em frente, que é passar à condição de relacional cordial, por isso, plena e integralmente humana. De modo que o Terceiro Milénio que já é pós-cristão, tem de ser já, plena e integralmente humano, relacional cordial. Nem que seja apenas aquele pequeno resto que, num inesperado terceiro dia, depois do inferno nuclear global, se levanta, inteiro e limpo. num novo big-bang sem mais lugar para o grande Capital, nem para reis e papas palavrosos. Apenas seres humanos, todos diferentes, todos iguais, maieuticamente religados uns aos outros, politicamente ocupados a cuidar uns dos outros e do Cosmos que lhes serve de casa e de mesa sem muros nem ameias.

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