A propósito de uma exposição enviada ao Primeiro-ministro, ao Ministro da saúde, ao Hospital Pediátrico de Coimbra, e de um texto de reflexão sobre o 25 de Abril de outrora e o 25 de Abril de agora, uma precisão adicional aqui vos deixo
Por Júlio Marques Mota
Ainda sobre as filas de espera no Hospital Pediátrico de Coimbra, que são na ordem dos seis meses e, sobre isto, estamos a falar de crianças, recebo a seguinte resposta que a seguir reproduzo.
O Serviço Nacional de Saúde respondeu-me através de um robot, ainda que com a assinatura de uma mulher, Carla Cristina Filipe Carvalho, o Hospital Pediátrico responde-me através do gabinete do Cidadão nos termos acima reproduzidos.
Para já, estes termos valem o que cada um entender que valem, mas tratando-se de uma exposição feita às autoridades portuguesas a quem o tema está diretamente ligado, continuo a ter de acreditar, até prova em contrário e se a houver, que irá ser detetado o problema das longas filas de espera e que este será, depois, rapidamente resolvido. A bem dos nossos filhos e netos que, afinal, são o futuro do País.
Tanto mais tenho de acreditar que assim é, uma vez que eu saiba muitos médicos ter-se-ão disponibilizado para fazer horas extras, necessariamente remuneradas é claro, para acabar com esse flagelo das filas de espera para as nossas crianças. Isto prova mais uma vez que muitos problemas destes, como é este o caso, podem no plano de curto prazo ser facilmente resolvidos, mesmo que de forma transitória, dada a qualidade, a grande disponibilidade e empenho dos nossos profissionais de saúde, a quem também a situação incomoda e não é pouco. Assim estejam as respetivas administrações hospitalares disponíveis para tal, sendo certo que para isso, e desculpem-me mais uma vez a expressão, não podemos ser todos Centeno como afirmou Sua Excelência o senhor Ministro da Saúde, antes pelo contrário, como afirmei no texto sobre o 25 de Abril de outrora e o 25 de Abril de agora:
“Tudo isto exige que não sejamos todos Centeno, antes pelo contrário, exige-se que todos nós sejamos contra Centeno, exige que se tenha como meta a alcançar o aprofundamento da Democracia em vez da austeridade, e as duas metas são entre si contraditórias. Há pois que escolher, senão é a fúria da realidade que escolherá por nós e aí será, então, tarde de mais para a Democracia, para as esperanças renovadas de Abril que a geringonça voltou a alimentar.“
Mas o problema, de solução aparentemente rápida no curto prazo, mesmo que transitória apenas, não está resolvido e isto para mim só pode significar uma coisa: a cegueira pela redução dos valores do défice, custe o que custar, custe a quem custar. E é pena que seja isto o que tem sido feito.
Neste contexto, a minha neta, que não tem outra cobertura de saúde que não seja o Serviço Nacional de Saúde e que como meio de assegurar uma infância condigna pouco mais tem que o dinheiro da reforma dos avós do lado materno, irá por mim ser encaminhada para ser tratada numa clínica privada, a Sanfil em Coimbra. Aqui, no plano lógico, a despesa que aí será feita é, por definição, uma receita pelo lado do prestador de serviço, a receita da clínica, e como rendimento será tributada, aumentando assim as receitas do Estado. No plano lógico, ou seja, não importando os valores absolutos de tudo isto mas apenas os princípios, tudo isto é também simplesmente lamentável, uma vez que ao não cumprir com as suas devidas obrigações o Estado ainda recebe impostos por não as ter cumprido! Isto é a lógica da austeridade cega quando transposta para o nível nacional, global, isto foi a lógica de Passos Coelho ao serviço da Troika, isto é também a lógica de Centeno ao serviço de desígnios que desconheço e que o futuro nos dirá quais são. Por isso, a minha afirmação de que atualmente devemos todos ser contra Centeno.
Veremos pois se a partir de agora se começa a resolver este problema, primeiramente de forma transitória mas em que ao mesmo tempo se devem criar os mecanismos de resolução estrutural a médio e longo prazo dos problemas subjacentes a estas longas filas de espera, para que estes problemas desapareçam depois, definitivamente, do nosso horizonte temporal.
Coimbra 27 de Abril de 2018
Se ainda houvesse o Engº Cunha Leal, então, Centeno, tal como Salazar, seria chamado ” a maravilha fatal do tempo”. CLV