Da crise atual à próxima crise, sinais de alarme – Leituras em torno de Chemnitz I – «As agressões da extrema direita recordam Weimar»: a Alemanha não deve votar Salvini. Por Pauline Mille

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Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Leituras em torno de Chemnitz I

«As agressões da extrema direita recordam Weimar»: a Alemanha não deve votar Salvini

Por Pauline Mille (*)

REINFORMATION.TV em 29 de agosto de 2018

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Em Chemnitz, na Saxónia, a reação popular à criminalidade dos imigrantes provocou cenas um pouco brutais que os meios de comunicação transformaram em «ratonnades»[1] (violências), para dissuadir, através do vocabulário apropriado (Weimar, extrema direita), a Alemanha de trazer, através do voto, um émulo de Matteo Salvini para o poder.

Tudo começou em 2013. Nesse tempo, a Alemanha morria docemente, entre uma indústria que trabalhava mais ou menos, uma demografia de vampiro fatigado e um governo estável. As eleições tinham tido um resultado ambíguo. Nem os liberais do FDP nem os nacionalistas da AfD tinham conseguido eleger deputados no parlamento federal, uma vez que não tinham atingido 5 % dos votos. Os Verdes e a extrema esquerda (Die Linke) tinham, cada um, um pouco menos de 9 % e uns sessenta deputados, o SPD socialista 25,73 % e 193 deputados, o centro direita da CDU/CSU 41,54 % com 311 deputados. Faltando-lhe aliados à direita para constituir uma maioria, a chanceler inamovível Angela Merkel, ancestral da Stasi reconvertida em mundialista de choque, foi obrigada, após três meses de consultas, a formar o seu governo com o SPD, naquilo que na Alemanha se apelida a GROKO (a grande coligação). Depois, a partir de 2014, ela abriu a Alemanha e a Europa a mais de um milhão de imigrantes ilegais, sob pretextos humanitários, demográficos e económicos.

 

Mau voto estilo Weimar

Apesar das recomendações da ONU e a aprovação da UE, as coisas não correram bem. A violação tornou-se o crime mais comum na Alemanha (ninguém diz entretanto que isso recorda 1945), a São Silvestre em Colónia [agressões sexuais na celebração do 31 de dezembro de 2015 em Colónia] permanece na memória de todos, e lobos solitários desequilibrados ganharam o hábito de atacar o alemão médio à machadada ou à facada, nos comboios e na rua. O povo, que não se acostumava sem humor á vaga turca, irritou-se com este crescendo de imigração exótica e delinquente. Foi formada uma associação, PEGIDA, contra a islamização da Alemanha.

Nas eleições de 2017, os Verdes e o Die Linke praticamente não se alteraram, a ideologia conserva, mas o SPD e a CDU/CSU entraram em queda livre (respetivamente 20,51 e 32,93 %), em proveito da AFD que fez entrar 94 deputados no Bundestag. Ainda não era Hitler e o incêndio do Reichstag, mas já era comparável à república de Weimar sob a ameaça da «extrema direita», e «a ascensão dos populismos na Europa».

Na Alemanha, os tipos da grande coligação continuam a trabalhar

A senhora Merkel afastou, claro, qualquer ideia de coligação com a AfD, declarando-a de extrema direita, e os liberais recusaram aliar-se com Merkel porque ela mantinha teimosamente a Alemanha aberta à imigração. Ao fim de seis meses de tergiversações, não querendo regressar às urnas por receio de um novo impulso da extrema direita e desejosa de fazer um quinto mandato na chancelaria, Angela Merkel acabou por se voltar para o SPD. A Alemanha tinha votado massivamente contra a grande coligação e a imigração, ela manteve a grande coligação e a política de imigração. O eleitor acabou por compreender que gozavam com ele. Violações e agressões sucediam-se sem surpresa e os tipos mundialistas continuavam a bombear imperturbavelmente imigrantes para a Alemanha e a Europa.

 

Kurz, Trump, Salvini: a extrema direita não pára de expandir-se

A paciência do povo alemão é grande, mas as pessoas têm internet e televisão, e as donas de casa que não se atrevem a sair apercebem-se que na Hungria, na Polónia, na república Checa, os muros e as fronteiras impedem que os imigrantes passem, com os seus estranhos costumes. E isso começa a ocorrer num país germanófilo, a Áustria, depois que o chanceler de direita moderada Kurz fez uma aliança com o FPÖ, a extrema direita. E eis que a Itália segue, com Salvini, o barbudo que preconiza devolver os barcos de imigrantes ao remetente.

O alemão compreende depressa desde que se lhe explique longamente. Ele vai estar fortemente tentado pelo voto populista de extrema direita. É aí que intervem a reflexão política da chanceler: já temos Trump, Orban e Salvini, não nos vamos juntar com uma Marion Le Pen na Alemanha. Que corta fogos, que oposição imaginar para parar o populismo?

Sarah Wagenknecht, o voto de extrema direita de esquerda

Primeira resposta: Sarah Wagenknecht, chefe do grupo parlamentar de Die Linke. Uma bonita mulher revestida de uma fina película. Ela quer juntar o sucesso Syrisa na Grécia e o da Aurora Dourada. Grosso modo, seria um Mélenchon que criticaria a imigração. Ela está farta da «boa consciência de esquerda sobre a cultura de acolhimento». Acrescenta ela que uma «fronteira aberta a todos, é uma ingenuidade. Sobretudo não é uma política de esquerda». Adepta da preferência nacional sem a palavra, ela preconiza reservar a ajuda social desperdiçada pelos imigrantes para os alemães necessitados e assinala além disso que «mais imigrantes significa mais concorrência para conseguir empregos no setor de baixos salários». Em resumo, ela é uma socialista nacional. Ele vai de resto batizar o seu movimento de «Aufstehen» (De pé!), que recorda o conhecido slogan «Deutschland Erwarche!» (Alemanha, desperta !).

 

A Alemanha de linhagem que não existe

Os presságios dividem-se quanto às hipóteses de êxito deste desvirtuamento do populismo. Mas o sistema tem a várias cordas para tocar. A exasperação dos alemães perante a insegurança provocada pelos imigrantes permite também jogos policiais. Os alemães não aguentam mais o palavreado das suas elites, nomeadamente a última tirada do presidente Frank-Walter Steinmeier, para quem não existem «alemães de estirpe»: eles sabem que os requerentes de asilo somalianos violam precisamente alemães de estirpe e refugiados afegãos degolam precisamente alemães de estirpe. Os imigrantes não foram formados no antiracismo. Então os alemães de estirpe inflamam-se. Quando a diversidade e o viver em conjunto matam a golpes de faca os alemães de estirpe multiculturais (que não existe), eles descem às ruas. Os novos e os velhos. Os professores, os rapazes da charcutaria e os desempregados. É então que intervém a polícia.

 

Violências mediáticas sem mortos nem feridos

O primeiro estagiário de informações de carácter geral dir-vos-á, nada é mais fácil de infiltrar que um grupúsculo de extrema direita ou um movimento que tenha começado por ser um grupúsculo de extrema direita. É o caso da Pegida e da AfD. Assim, se quiser desacreditar as manifestações contra a escalada migratória para dissuadir a Alemanha de votar mal, manipula-se o grupúsculo e inspira-se-lhe a ideia de violência. É o que acaba de se passar em Chemnitz. Graças a um ou dois excessos, foi transmitida pelos meios ocidentais uma imagem duma imensa violência em Chemnitz. De facto, não houve um morto, apenas alguns feridos ligeiros, bem menos que em qualquer rixa de subúrbios numa noite de sábado. Mas é o discurso da imprensa sobre a violência que é importante, e é isso que permitiu a manipulação policial.

Para o Spiegel, «quando multidões excitadas de extrema direita criam agitação no coração da Alemanha e o Estado de direito é ultrapassado pelos acontecimentos, isso recorda um pouco a situação da República de Weimar». Ah, Weimar! É um objeto retórico de luxo: simboliza a democracia demasiado fraca que o grande lobo mau nazi comeu. há que não imitar o seu exemplo, defender-se com unhas e dentes contra o monstro!

Para o grande jornal dos meios de negócios, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, «o Estado abdica» em Chemnitz, não soube conter a multidão de extrema direita, é necessária a consequência política: é necessário restabelecer a ordem para impedir a ascensão de um novo nazismo. A pequena desordem de Chemnitz dramatizada deve servir para afastar do populismo assim diabolizado o tranquilo alemão que vota.

 

A extrema direita de Weimar vota Salvini

Para encontrar a realidade basta inverter o processo dos meios de comunicação. Numa altura em que a população invadida reclama a proteção do Estado que a abandona contra os imigrantes, o Estado criminaliza esta reação continuando a negar os factos que a causam.

Os meios de comunicação ajudam com talento. A diretora da fundação Amadeu Antonio contra o racismo, convidada pela cadeia N-TV declarou: «Em Chemnitz, constituiu-se uma aliança bastante inacreditável misturando hooligans, néonazis, a AfD e os militantes de Pegida. As violências mostram que se juntam movimentos que afinal são todos farinha do mesmo saco». E o PSD declarou pela voz de Burhard Lischka que «a extrema direita» que se mostrou em Chemnitz sonha com a «guerra civil». No mesmo momento em que o sistema ensaia um verdadeiro National-Socialismo com Sarah Wagenknecht, ele apresenta a reação popular à inação perversa do Estado como uma manifestação de nazismo, pela magia encantatória da palavra Weimar.

 

Texto original em https://reinformation.tv/ratonnades-extreme-droite-weimar-allemagne-vote-salvini-mille-87408-2/

Nota

[1] N.E. Violência física exercida contra pessoas de origem norte-africana. Por extensão, o termo pode aplicar-se às violências exercidas contra uma minoria étnica ou um grupo social. vd. https://fr.wikipedia.org/wiki/Ratonnade

 

(*) N.E. Pauline Mille, além de colaboradora no Reinformation Tv [termo habitualmente associado à informação alternativa de extrema direita], escreve também no Polémia, fundação criada em 2003 por Jean-Yves Le Gallou, classificado de extrema direita, membro da Front Nationale, integra a cisão da FN para a criação do MNR (Mouvement Nationale Republicain) em 1998. O MNR apresenta-se como movimento liberal clássico e nacionalista, opõe-se à imigração, islamização, filo semitismo e a UE, mas apoia mercados livres, a desregulamentação e a privatização.

 

 

 

 

 

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