De setembro de 2008 a setembro de 2018, uma década perdida, uma década que se quer esquecida – Narrativas sobre a incapacidade, a recusa e a desonestidade intelectual dos nossos dirigentes face aos mecanismos que levaram à crise – 1. A narrativa delirante da União Europeia sobre a crise.

3 set20082018 VENDEDOR BA BANHA DA COBRA

10 anos passaram desde o rebentamento da crise, mesmo que o ponto de referência seja setembro de 2007 quando o BNP Paribas fechou três dos seus fundos de investimento nos Estados Unidos. Um ano depois o Lehman Brothers era declarado falido.

Curiosamente o Publico de hoje escreve:”os bancos ignoram regulador e aceleram no crédito de risco”.

Curiosamente também, o Wall Street Journal de hoje escreve: “O FED não irá salvar os mercados emergentes – O Fed não salvará os mercados emergentes mercados – os anteriores disfuncionamentos dos mercados emergentes terminaram com as descidas nas taxas de juro da Reserva Federal, mas agora é muito improvável que o Banco Central americano acabe com a sua atual politica de subida das taxas de juro.“

Mas estamos a dez anos de 2008 e tudo indica que não se aprendeu nada com a crise supostamente passada. Disso nos fala a pequena série de textos que iniciamos hoje e que tem como tema “De Setembro de 2008 a Setembro de 2018, uma década perdida, uma década que se quer esquecida – Narrativas sobre a incapacidade, a recusa e a desonestidade intelectual dos nossos dirigentes face aos mecanismos que levaram à crise”.

A série consta de sete textos cuja ordem de leitura que recomendo é a que se segue:

  1. A narrativa delirante da União Europeia sobre a crise contada pelas autoridades de Bruxelas e Frankfurt.
  2. Um texto de Gillian Tett, Financial Times, intitulado “Cinco surpreendentes resultantes da crise financeira
  3. Um texto de Claudi Pérez, El País, intitulado “Recessão à grande: crónica dos 10 anos de crise que mudaram o mundo”
  4. Um texto de Nouriel ROUBINI, BRUNELLO ROSA intitulado: “A gestação de uma recessão a rebentar por volta de 2020 e a crise financeira
  5. Um texto de Doug Nolan intitulado “Aproximando-nos do 10 aniversário do rebentamento da crise
  6. Um texto do Conselho Editorial do New York Times intitulado “Convidando à próxima crise financeira
  7. Um texto de Adam Tooze intitulado “A História Esquecida da Crise Financeira – o que o mundo deveria ter aprendido em 2008

Sublinho a alta qualidade dos textos numerados de 2 a 7, com excecional relevo para o texto nº 7, de Adam Tooze.

Uma série que tomo a liberdade de dedicar ao meu amigo jornalista João Marques que tanto tem denunciado a financeirização das economias a que temos estado a assistir e que neste momento passa por uma situação de saúde bem delicada.

Júlio Marques Mota, 17 de setembro de 2018

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1. A narrativa delirante da União Europeia sobre a crise

Crise estalou há 10 anos: recuperação está de volta graças a medidas rigorosas da UE (Comissão Europeia – Comunicado de imprensa de 9 de agosto de 2017)

A crise financeira mundial começou há 10 anos e trouxe à União Europeia a pior recessão das suas seis décadas de história. A crise não começou na Europa, mas as instituições e os Estados-Membros da UE tiveram de reagir com determinação para atenuar os seus efeitos e suprir as deficiências da criação da União Económica e Monetária. As medidas rigorosas deram resultado: neste momento, a economia da UE está em crescimento pelo quinto ano consecutivo. O desemprego encontra-se no nível mais baixo desde 2008, os bancos estão mais fortes, o investimento está a aumentar e as finanças públicas estão em melhores condições. Os desenvolvimentos económicos mais recentes são encorajadores, mas há ainda muito a fazer para apagar o rasto dos anos de crise. A Comissão Europeia está plenamente mobilizada para cumprir a sua agenda para o emprego, o crescimento e a justiça social.

O Vice-Presidente Valdis Dombrovskis, responsável pelo euro e pelo diálogo social, declarou: «Graças à resposta política determinada à crise, a economia da UE está agora em recuperação firme e a União Económica e Monetária mais sólida do que antes. É preciso aproveitar esta evolução, concluir a união financeira, reformar as nossas economias para promover a convergência, a inclusão e a resiliência, e manter a sustentabilidade das finanças públicas. Ao fazê-lo, temos de manter uma abordagem equilibrada, na qual a redução e a partilha dos riscos sejam indissociáveis e a unidade do mercado único seja preservada.»

O Comissário Pierre Moscovici, responsável pelos assuntos económicos e financeiros, fiscalidade e União Aduaneira, afirmou: «Dez anos após o início da crise mundial, a recuperação da economia europeia confirmou-se e tem vindo a aumentar. Temos de aproveitar esta dinâmica positiva para concluir a reforma da nossa União Económica e Monetária. Nem todos os legados do passado se corrigem automaticamente. Temos assistido ao aparecimento de maiores divergências sociais e económicas dentro dos Estados-Membros e entre eles. É essencial que o nosso trabalho futuro contribua para a convergência real e sustentada das nossas economias.»

Há dez anos, a 9 de agosto de 2007, o BNP Paribas foi o primeiro grande banco a reconhecer os efeitos da sua exposição aos mercados de crédito hipotecário de alto risco (sub-prime) nos Estados Unidos, tendo congelado os fundos expostos. Nos anos que se seguiram, a crise financeira inicial tornou-se uma crise bancária e uma crise da dívida soberana, que rapidamente atingiram a economia real. A União Europeia caiu na pior recessão da sua história, que deixou marcas profundas nos cidadãos, empresas e economias dos Estados-Membros.

Nesta adversidade, as instituições e os Estados-Membros da UE tomaram decisões políticas sólidas para conter a crise, preservar a integridade do euro e evitar efeitos ainda piores. A UE tomou medidas para regular o setor financeiro e melhorar a governação económica, para promover novos quadros institucionais e jurídicos comuns, para criar um sistema de proteção da área do euro, para apoiar os países com problemas financeiros, para melhorar as finanças públicas dos Estados-Membros, para prosseguir reformas estruturais e estimular o investimento, para combater o desemprego dos jovens, para melhorar a supervisão do setor bancário, para aumentar a capacidade de reação das instituições aos futuros desafios e para estabelecer formas de melhor gerir e evitar as eventuais crises.

Devido a essas medidas, a União Económica e Monetária da Europa foi substancialmente reformulada e a economia europeia – nomeadamente a economia da área do euro – voltou a estar em forma. A retoma na Europa é duradoura e o desemprego tem diminuído com regularidade. O número de Estados-Membros que integram a área do euro passou de 12 para 19 e, atualmente, esta é a segunda moeda mais importante a nível mundial. Dos oito Estados-Membros da UE que obtiveram apoio financeiro, apenas a Grécia se encontra ainda sujeita a um programa, mas deve poder sair dele em meados de 2018. Apenas três Estados-Membros estão neste momento sujeitos à vertente corretiva do Pacto de Estabilidade e Crescimento, conhecido por procedimento dos défices excessivos; no auge da crise, havia 24 Estados-Membros nesta situação. O Plano Juncker, ou o Plano de Investimento para a Europa, lançado em novembro de 2014, deverá mobilizar mais de 225 mil milhões de EUR em todos os Estados-Membros, 72 % dos 315 mil milhões originalmente previstos.

Apesar de consideravelmente mais robusta, a UEM continua incompleta e o euro está ainda a dar os primeiros passos. Do Relatório dos Cinco Presidentes, de junho de 2015, ao documento de reflexão sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária, de maio de 2017, muitas iniciativas foram tomadas nos últimos anos para retirar ensinamentos da crise e preparar ainda melhor a UE para os desafios do futuro.

Texto disponível em: http://europa.eu/rapid/press-release_IP-17-2401_pt.pdf

 

 

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