É cada vez mais visível que a democracia que hoje vivemos, não passa da sua própria ideia. Mas uma ideia a precisar de um aggiornamento urgente, de uma renovação das mentalidades e práticas para possibilitar melhorias estruturais, sem relembrar nem apelar a modelos obsoletos que tanta calamidade verteram e deixaram neste mundo.
Vivemos uma época onde a História foi posta de lado ou reduzida a resumos de cento e quarenta caracteres, com igual dimensão atribuída à Sociologia e à Filosofia, o reflexo mais perceptível e comum de uma sociedade digitalmente colonizada.
Vê-se pelas preferências, respeitando totalmente os ditames de uma indústria global e impositiva – a uniformização pelas valias mais banais e inconsistentes, invocando os valores de identidades vazias e muitas vezes inventadas – mas a apontar para objectivos que só visam o lucro puro e duro, sem nunca revelar o poder de organizações que estão por trás.
São assim postergados os inconvenientes também hoje penados por todos, aliás devidamente documentados por estudos de autoridades e organizações insuspeitas e respeitadas.
Os pesticidas, o petróleo, os plásticos, as armas, as bandeiras, os ismos e toda uma quantidade de males que qualquer media sério poderá apontar, sempre os mais temerosos e perigosos, mas só por e para quem se preocupa com estas ‘banalidades’.
Para a maioria, só conta a ligação permanente em que já vive, ou onde anseia viver, arrastando cada um a mergulhar numa outra dimensão do tempo, fundada numa sucessão interminável de presentes com isolamento do próximo, sem nunca se considerar qualquer antes ou um qualquer depois, a não ser o presente da próxima ligação.
É a confirmação do crescimento de uma sociedade composta por gente que, nas instituições onde devia ser formada, já vem treinada a esquecer a rebeldia, a obedecer cegamente às hierarquias (como bem se vê nas caloiradas) mesmo sem lhes reconhecer qualidade e competência, para serem transformados em bons e acéfalos carregadores de botões, por também já não lhe ensinarem os porquês do carregar, nem o depois de o terem feito.
Todo este arrazoado é consequência do muito visível bullying com que a extrema-direita e seus títeres estão a tentar amansar a humanidade, usando e abusando da ‘facebookisação’ e da ‘whatsappisação’ com as ‘fakenews’, a acusar moderados e progressistas de abandonar os mais desprotegidos, trocando-os pelo favorecimento aos que, são até exactamente os mesmos que lhes pagam as campanhas, onde defendem o regresso ao passado.
É, está já a ser! um enorme drama, basta ver a ‘patética capicua’ em que, com um ‘trumpa’ lá em cima e, a partir de Janeiro, com ‘outro’ lá em baixo e graves conflitos no meio, estão transformadas as Américas!
A terminar, transcrevo um pensamento de Viriato Soromenho Marques, no DN do passado dia 21
«qual o nosso papel e que podemos fazer no meio deste drama global em marcha acelerada? Temos de escolher entre a responsabilidade da lucidez, ou continuar distraídos no imenso mercado de “divertimento”, que nos ajuda a esquecer a dura realidade: o destino do mundo só permanece na mão de canalhas porque a multidão dos distraídos, por actos e omissões, lhes outorga o seu consentimento»
Uma escolha bem difícil, a ver pelos telemóveis e ecrãs que nos rodeiam em permanência, também a fazer-me lembrar de alguém ter escrito uma vez, ‘razão tinha Nietzsche quando dizia que quando se olha muito para o abismo, o abismo passa a olhar também para nós’
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor