Cimeira da UE: avanço ou recuo na reconstrução da Europa? Texto 17 – A Cimeira Europeia vista do outro lado do charco: “Ressurgimento Europeu”. Por John Mauldin

Europa avanço ou recuo 6

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Texto 17 – A Cimeira Europeia vista do outro lado do charco: “Ressurgimento Europeu”

john mauldin Por John Mauldin

Publicado por mauldin economics logo  em 31/07/2020 (“European Resurgence”, ver aqui)

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Ir demasiado longe

Solução comum

Relativos tropeções

Uma das muitas consequências menos óbvias da COVID-19 é a forma como nos faz olhar para dentro. Enfrentar a mortalidade sempre se fez, é claro. O Juiz Roy Bean do Texas Ocidental terá alegadamente dito: “Nada foca tanto a mente como um bom enforcamento”. Para as pessoas vulneráveis e para nós de uma certa idade (hum), este vírus vai para além dos riscos diários normais.

A diferença desta vez é que somos vulneráveis com base na proximidade. O vírus ameaça-nos apenas se este estiver fisicamente próximo. Essa é uma das razões pelas quais os americanos não o levaram a sério no início. Foi notícia vinda de longe, da China e da Itália. Como a leitura sobre a perspetiva de colapso da barragem das Três Gargantas da China, ou a atual fome em África. Sabe-se que é mau, mas não está no nosso quintal.

Então, à medida que o vírus se espalhava aqui, as nossas medidas de proteção exigiam uma maior consciência das condições locais. Se esse estranho está a aproximar-se demasiado de si pode ser mais importante do que os acontecimentos que se passam no estrangeiro.

Como resultado, não temos prestado atenção suficiente a alguns desenvolvimentos importantes noutros locais. Têm-se produzido grandes coisas na Europa. O mesmo continente que há dois anos atrás sobre o qual eu  disse que estava a passar por uma “retirada da droga monetária”, está agora a ultrapassar o crescimento dos EUA por uma larga margem. E o crescimento dos Estados Unidos, que liderou o mundo durante anos, parece agora provável que venha a ficar para trás.

Essa reviravolta tem potenciais consequências importantes no mercado, que podem ser boas ou más, dependendo do mercado. Temos de prestar atenção. O que acontece em todo o mundo afeta-nos e aos nossos mercados. A conectividade global pode ser hoje um pouco menor, mas não está a desaparecer. Hoje vamos rever o que está a acontecer e o que pode significar para cada um de nós.

Mas primeiro, temos de dar uma olhada rápida a alguns números americanos. De Peter Boockvar, hoje:

… continuamos à espera que o Congresso faça um acordo com o prolongamento do subsídio de desemprego como ponto principal. Para quantificar, com 30 milhões de pessoas a receberem benefícios, esses $600 extra são $18 mil milhões por semana de dinheiro extra que as pessoas têm vindo a receber. Isso é cerca de 72 mil milhões de dólares por mês. São $216 mil milhões de dólares nos últimos três meses. Muito dinheiro de que a Amazon e a Apple têm sido grandes beneficiárias uma vez que são vendedores de eleição. O Facebook e o Google beneficiaram certamente do dinheiro do programa de estímulo à economia com o Covid19 (PPP), pelo que qualquer extensão desse dinheiro também será relevante. Repetindo, de acordo com um estudo da Universidade de Chicago, 68% dos que recolhem este dinheiro têm vindo a receber mais do que o que ganhavam anteriormente com o aumento mediano de 34% mais. Tenho visto algumas propostas diferentes sobre uma extensão. Uma, que provavelmente não vai acontecer, é apenas reduzi-la para 200 dólares. Outra é reduzi-la nos próximos meses para eventualmente 300 dólares até outubro. Portanto, uma extensão irá acontecer, mas a taxa de mudança irá abrandar.

Se isso continuasse, expandiria ainda mais a dívida dos EUA, para além de todos os outros programas contemplados. O défice dos EUA não vai cair tão cedo, nem o de mais ninguém. A China está a utilizar enormes despesas em infraestruturas impulsionadas por dívida mesmo para manter um crescimento do PIB ao menos de 2-3%. Qualquer coisa menos que isso porá em causa a legitimidade do atual governo. Países de todo o mundo estão a fazer o mesmo: usando a dívida para sustentar o crescimento e o emprego.

Os nossos amigos da Quill Intelligence oferecem-nos este gráfico. A produtividade das famílias americanas tem vindo a baixar há dois anos. A produtividade das empresas começou a cair coincidentemente com a recessão do COVID.

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Fonte: Quill Intelligence

Dois pontos principais:

Primeiro, a redução da assistência federal e estadual terá um impacto negativo nos gastos dos consumidores. Claramente, a assistência federal ao desemprego estava a ser gasta. (o programa PPP é um desastre, dando dinheiro a empresas que não precisam dele e não a hotéis e outras pequenas empresas, sob qualquer forma utilizável. A menos que o Congresso atue em breve, a indústria hoteleira irá simplesmente entrar em colapso e levar consigo dois milhões de empregos, mais outros seis milhões dependentes da indústria. Eu argumentaria que os hotéis são pelo menos tão importantes como as companhias aéreas).

Em segundo lugar, os medias falarão no futuro de recuperação em termos de trimestre a trimestre. Daqui a doze meses, falaremos de ano para ano, o que obviamente deveria ser melhor (esperamos desesperadamente!). E embora isso seja bom, a verdadeira análise da recuperação utilizará números trimestrais de 2019 como comparação.

A recuperação vai levar anos. O mundo está a ver reavaliado o seu preço. Até finais de agosto, calculo que mais de 100.000 pequenas empresas (e algumas grandes) tenham fechado definitivamente. Vai ser preciso dar mais tempo e mais dinheiro a estes empresários do que se poderia pensar para descobrir um novo plano de jogo num cenário empresarial completamente diferente.

E isso traz-nos à Europa. Eles também têm os seus desafios.


Ir demasiado longe

As pessoas sonharam com uma “Europa unida” desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e com razão. O continente é tão variado (geográfica, linguística e culturalmente) que durante muito tempo (como durante 2.000 anos) foi propenso a conflitos improdutivos e ocasionalmente destrutivos. Ninguém gostava dessa parte, mas a questão era como ter simultaneamente políticas económicas coerentes e autonomia nacional.

A União Europeia é uma tentativa para fazer isso. O pacto monetário da zona Euro é outra. Ambos têm vantagens e inconvenientes, que a crise da dívida grega destacou. Mais recentemente, a Itália tem sido o centro das atenções.

O problema central: é difícil sustentar políticas comuns e/ou uma moeda comum sem uma autoridade central que possa emitir dívida comum. E para o fazer, a autoridade central precisa de poder de tributação.

Foi ir longe demais para muitos no Reino Unido, razão pela qual nunca adotou o euro e uma das razões pela qual finalmente deixou completamente a UE. Alguns outros membros também não ficaram muito contentes. Muitos observadores, incluindo eu, eram céticos quanto à possibilidade de a união monetária se manter unida num mundo onde a descentralização era a tendência dominante.

Depois veio o COVID-19. Agora parece ter mudado tudo, mas não foi esse o caso no início. Em março/abril (que agora parecem ser história antiga, eu sei) o vírus atingiu a Itália e a Espanha muito duramente. Os membros da aliança “fronteiras abertas” começaram, em vez disso, a fechar fronteiras, juntamente com o açambarcamento de material médico e, em geral, a culparem-se mutuamente. Foi feio durante algum tempo. A conversa de desintegração  da UE soou visivelmente mais alto.

Por essa altura, a cobertura noticiosa americana voltou-se para os nossos próprios surtos, e a maior parte das vezes ignorámos a Europa. Os líderes europeus, percebendo a fraqueza dos EUA como garantia de uma recessão global, viram uma ameaça existencial para as suas economias dependentes das exportações. Os adeptos da linha dura tornaram-se subitamente flexíveis.

Podiam fazê-lo porque também conseguiram colocar o vírus sob alguma aparência de controlo. Fizeram-no por vários meios, mas, na maioria dos casos, através de confinamentos mais longos e mais rigorosos do que os que vimos nos EUA (sendo a Suécia a exceção óbvia). Foi necessário um terrível custo económico. A Europa não está, de forma alguma, livre de vírus. A vida quotidiana não está de volta ao normal. Partes de Espanha estão a ter surtos, levando o Reino Unido e a Alemanha a impor restrições de viagem. Mas os países da UE lidaram geralmente com a pandemia muito melhor do que os EUA, e estão agora a recuperar mais rapidamente. Podemos debater as razões, mas a estrutura política e a coesão cultural parecem fazer parte dela. Como por vezes acontece nas famílias, a crise uniu um grupo disfuncional.


Solução comum

A Alemanha e a França são as duas maiores economias da UE e os principais exportadores. Entre os danos autoinfligidos pelo confinamento e a recessão global, ambas entraram nesta primavera a enfrentarem sérios prejuízos económicos. Angela Merkel e Emmanuel Macron perceberam que a única solução viável exigiria medidas drásticas às quais muitos membros da UE, particularmente a Alemanha, tinham resistido anteriormente.

Vamos parar aqui e sublinhar algo que é relevante. Nos EUA, estamos habituados a que o Congresso aprove legislação por maioria de votos. Alguém perde sempre. A UE opera mais por consenso total. Nada de importante acontece, a menos que todos os governos membros concordem. Isso torna mais difícil chegar a um acordo, mas eles têm mais “adesão” uma vez feito o acordo.

Por isso, em maio, Macron e Merkel concordaram que a UE deveria fazer empréstimos e subsídios enormes a países duramente atingidos. Isto foi parcialmente autopreservação. As suas próprias economias precisam dos outros países para comprar produtos franceses e alemães.

Entenda-se, sem ajuda, a Itália estava numa trajetória para deixar a UE. Existe (ainda) um significativo movimento anti-UE na Itália. Para quê fazer parte de uma união monetária que deixaria uma das suas nações entrar em colapso, esta não é uma pergunta irracional, especialmente se já se tem tendência a ser um cético da UE.

Merkel, Macron e outros reconheceram o perigo. A UE ajudou a Grécia, mesmo que eles tenham forçado Atenas a entrar em depressão por cinco anos. A ideia de um país partir era impensável. A UE sem a Itália entra em colapso. O Brexit foi um despertar para a liderança da UE.

História pessoal: Há três anos, estive em Frankfurt a fazer um discurso para uma conferência de um fundo alemão de pensões. Disseram-me que os mais de 200 participantes representavam a maioria significativa dos ativos da previdência alemã. Com a permissão do anfitrião, perguntei aos participantes se achavam que a UE era uma coisa boa. Mais de 90% levantaram a mão. Perguntei-lhes então se estariam dispostos a financiar alguns dos países do sul da Europa em crise para manter a UE unida. Menos de 10% levantaram a mão. Lembrando-lhes que a Alemanha era 50% exportadora e que um euro que fosse principalmente alemão seria muito mais elevado em relação ao sul da Europa e devastaria a Alemanha e a sua economia, você consideraria ajudar o sul da Europa? Cerca de 90% ainda ficaram de braços cruzados.

Eram pessoas economicamente sofisticadas. Eles entendiam exatamente o que eu estava a dizer. Acompanhei essa conversa nos corredores e nos jantares e encontrei pouca diferença nas suas posturas públicas e privadas. Eu dei-me conta de que se esse grupo estivesse tão determinado a não usar o financiamento alemão para ajudar o sul da Europa, o que pensariam os bons burgueses alemães da Baviera? Macron também tem uma grande oposição dentro da França. Para Merkel e Macron, reconhecer a necessidade de um plano de financiamento pan-europeu e ter a capacidade de o concretizar é absolutamente espantoso.

O plano dará efectivamente à UE a sua própria política fiscal, indo além das várias medidas de apoio de menor dimensão tomadas na última crise do euro. Há muito que tenho vindo a constatar que não existe na história nenhuma união monetária que não tenha acabado por englobar a união fiscal. Para a Europa, isto significaria a mutualização de grande parte da dívida nacional. Sempre senti que, sem essa mutualização, a UE acabaria por se desmembrar. Não se enganem, o último plano europeu é um pequeno passo que conduz a um salto ainda maior para uma União Europeia mais próxima. Como é que isto se deu?

Um grupo de nações do norte da Europa, sendo a Alemanha a maior, bloqueou durante muito tempo tais ideias por razões de “risco moral”. Essas objecções parecem ter-se dissipado, pelo menos para este primeiro pacote de 750 mil milhões de euros. É possível olhar nos olhos a sua própria mortalidade económica. Concentrou muito as suas mentes coletivas. Mas dêem crédito a Merkel e Macron, também. Eles persuadiram outros líderes a engolir o seu orgulho/reservas e conseguiram que todos os 27 membros concordassem.

O meu amigo Ian Bremmer, geopolítico de topo do Eurasia Group, chamou-lhe, “de longe, a mais bem sucedida e proactiva demonstração de liderança internacional desde o início da pandemia (e, de facto, desde o fim da grande recessão em 2008-2009)”. Isso não é algo que ele diria de ânimo leve. Ele continuou (esta é da sua carta de 27 de julho de 2008):

“A curto prazo, todos são vencedores, algo que não estamos a dizer muito nestes dias pandémicos. A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron impulsionam uma agenda pró-europeia integracionista, enfraquecendo os eurocéticos, tanto em casa como em todo o continente. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pode dar uma resposta bem sucedida, liderada pelo governo, a uma contração económica de 10%, que não sobrecarrega ainda mais os Estados-membros com níveis de dívida mais altos e espaço fiscal limitado. Os italianos e espanhóis recebem o apoio desesperadamente necessário, impulsionando ambos os governos contra (o que vinha sendo) os crescentes surtos anti-establishment europeu internamente. Enquanto os líderes populistas existentes na Europa Oriental tiveram os seus potenciais vetos comprados, assegurando a existência de condições políticas limitadas para a transferência. Mesmo os chamados países frugais, liderados pelo primeiro-ministro holandês Mark Rutte, foram capazes de embolsar ganho político suficiente face aos seus círculos eleitorais internos, algumas reduções nas suas contribuições para o orçamento da UE e também  a capacidade de atrasar os pagamentos caso a política económica dos Estados beneficiários não resultasse numa reestruturação económica séria (reformas do mercado de trabalho e das pensões), o que os “Frugais” querem ver.”

Isto também tem implicações mais amplas. Os Estados mais pobres que vão receber este dinheiro são também aqueles onde os sentimentos populistas e anti-UE são mais fortes. Os empréstimos e as subvenções devem aproximá-los pelo menos um pouco mais da União Europeia .

Resumindo: A possibilidade muito real, há apenas alguns meses, de sentimentos tipo Brexit levar a uma rutura com a UE parece agora fora de questão – pelo menos por mais alguns anos. Os líderes pró-UE têm usado com sucesso a pandemia para expandir o poder da UE e comprar a oposição. Esta é uma grande mudança no espírito da época. Vai ter consequências financeiras em todo o lado. O princípio de que a Comissão Europeia pode emitir obrigações e cobrar impostos para as pagar está agora estabelecido. Isto é um grande acordo.

Mas vamos traduzir isso analisando se pode ficar a ganhar com essa transição.


Relativos tropeções
Os operadores dos mercados financeiros e investidores de ativos sabem de algo chamado “spread” trade. É usado quando se pensa que um ativo vai subir mais do que outro. Você compra o que mais rapidamente vai subir e vende a descoberto o que menos sobe. O que importa é o “spread” entre eles, não a direção. Você aposta que o perdedor será mais fraco que o vencedor, quer ambos subam ou desçam ou não.

Em breve poderemos ver algo parecido a isso com as economias dos EUA e da UE. Aconteça o que acontecer no próximo ano, mais ou menos, a Europa parece ir ter um desempenho superior. Isso pode significar que apenas encolhe menos, mas mesmo assim seria importante. Considere o que sabemos:

  • A UE tem, pelo menos por enquanto, suprimido os casos COVID-19 que estão a um nível muito inferior. Isto está a permitir que a Europa retome alguma semelhança com uma atividade económica normal.
  • Entretanto, o aumento de casos e mortes nos EUA obrigou alguns governadores a reimpor restrições comerciais e de movimento. É provável que as precauções extensivas continuem no Outono, à medida que as escolas reabrem (ou tentam reabrir) e a época normal da gripe começa.

Temos também protestos de rua generalizados e uma eleição contenciosa, nenhum dos quais ajuda a resposta da saúde pública.

As projeções de crescimento dos EUA estão todas na ordem do dia. O segundo trimestre deste ano foi brutal. Ainda podemos esperar um “salto” no terceiro trimestre, mas está a tornar-se menos provável que seja tão significativo como se esperava, numa base anual. A última estimativa de Atlanta Fed GDPNow Q3 é de +11,9%. Isso seria bom, mas ainda nos deixa no fundo do buraco. Vai parecer significativo e dar origem a grandes títulos nos media. Mas em qualquer caso, é difícil ver a economia dos EUA a ultrapassar a da UE.

O meu amigo Sam Rines da Avalon Advisors partilhou estes gráficos mostrando que o PIB da zona Euro deverá ultrapassar o PIB dos EUA em 1,60 pontos percentuais em 2021. Isso é enorme. Se isso acontecer, será o melhor crescimento relativo da Zona Euro desde 2007. Preste atenção ao segundo gráfico.

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Fonte: Avalon Advisors
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Fonte: Avalon Advisors

Agora, olhem para esses períodos de desempenho europeu superior e reparem como o euro se fortalece em relação ao dólar durante esses períodos. Quando os EUA superam significativamente a zona euro, como aconteceu nos últimos anos, o euro cai em relação ao dólar. Chegou perto de atingir a marca de um dólar ou mesmo a paridade. Voltou agora para 1,18 dólares. Poderíamos ver o euro subir muito mais à medida que a Europa supere os EUA no próximo ano ou nos próximos dois.

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Fonte: Avalon Advisors

Temos também o compromisso da Reserva Federal de manter as taxas de juro perto de zero. Esta perspetiva “mais baixa por mais tempo” tem um efeito sobre o dólar americano. Tem sido relativamente forte porque as nossas taxas, embora baixas, pelo menos não são negativas como no Japão e em grande parte da Europa.

Normalmente, um dólar mais fraco tem benefícios. Torna as exportações dos EUA mais baratas. Mas com a maior parte do mundo a tentar ser o mais auto-suficiente possível (além de estar em recessão), provavelmente não devemos esperar nada como ter os volumes normais de comércio.

O vencedor mais óbvio nisto é o ouro. Taxas de juro mais baixas reduzem (ou mesmo eliminam) o custo de oportunidade de deter um ativo não rentável. Embora o baixo crescimento esteja a manter as perspetivas de inflação suaves, não é zero. Isso também ajuda o ouro.

Agora, grande parte disto depende da pandemia. Pode melhorar ou piorar de ambos os lados do Atlântico. Se os ensaios em humanos forem positivos, uma vacina poderá estar disponível no início do próximo ano. Mais analistas sanguíneos pensam que não veremos uma vacina até ao final de 2021. Em qualquer caso, as questões chave serão a rapidez da sua distribuição, e quem a obteria primeiro.

O mesmo para os tratamentos. Se os cientistas encontrarem um medicamento que previna a maioria das mortes e reduza as estadias hospitalares, ele poderá restaurar a confiança suficiente para que os consumidores saiam novamente das suas casas. As viagens podem recomeçar sem medo de que a sua vida esteja em risco indevido. Um tratamento é muito mais provável dentro de um ano.

Retire o vírus da equação e regressamos a uma economia governada pelos outros fatores que a precederam. A partir do ponto de desenvolvimento das trocas comerciais, é provável que veja os EUA mais uma vez a superar o desempenho e o euro cair. Sic transit gloria.

Essa economia pré-COVID não era especialmente grande coisa , mas era muito melhor do que a que temos agora. Podemos estar a entrar num mundo radicalmente diferente para o próximo ano, mais ou menos, em que a liderança económica dos EUA já não é assumida. Exatamente o que isso poderá parecer  não é claro. Scott Gottlieb, antigo comissário da FDA, tem um palpite.

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Fonte: twitter

Uma possibilidade sombria é vermos uma dissociação Covid global, onde grande parte da Europa e da Ásia são capazes de manter a epidemia à distância, mas os Estados Unidos não conseguimos, e vemos uma infeção mais elevada e persistente e um crescimento mais lento do PIB e um cordão sanitário imposto a nós por outras nações.

Isso seria feio em todo o lado, especialmente para o dólar, mas isso é possível se não obtivermos uma vacina ou tratamentos em breve – ou, no mínimo, se não se controlar o vírus. Imagine um mundo em que os americanos não podem sair e os estrangeiros não podem entrar, enquanto os europeus podem atravessar as fronteiras muito mais livremente. O que é que isso faz ao crescimento económico relativo de cada lado?

Mas eu sou um otimista. Acredito que vamos sair disto, de uma forma ou de outra. Não posso dizer quando ou como, nem posso prometer que será fácil, mas penso que iremos sair um pouco aos tropeções. Vamos tentar não raspar os nossos joelhos mais do que o necessário.

(…)

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O autor: John Mauldin, reputado especialista financeiro, com mais de 30 anos de experiência em informação sobre risco financeiro. Editor da e-newsletter Thoughts from the Frontline, um dos primeiros boletins informativos semanais proporcionando aos investidores informação e orientação livre e imparcial. É presidente da Millennium Wave Advisors, empresa de consultoria de investimentos. É também presidente de Mauldin Economics. Autor de Bull’s Eye Investing: Targeting Real Returns in a Smoke and Mirrors Market, Endgame: The End of the Debt Supercycle and How It Changes Everything, Code Red: How to Protect Your Savings from the Coming Crisis, A Great Leap Forward?: Making Sense of China’s Cooling Credit Boom, Technological Transformation, High Stakes Rebalancing, Geopolitical Rise, & Reserve Currency Dream, Just One Thing: Twelve of the World’s Best Investors Reveal the One Strategy You Can’t Overlook e The Little Book of Bull’s Eye Investing: Finding Value, Generating Absolute Returns and Controlling Risk in Turbulent Markets.

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