A Guerra na Ucrânia e os seus impactos — “Nota de leitura para uma série de textos em torno da crise ucraniana e dos seus impactos”. Por Júlio Marques Mota

 

 

25 m de leitura

Nota de leitura para uma série de textos em torno da crise ucraniana e dos seus impactos

 

 Por Júlio Marques Mota

     Coimbra, 29 de março de 2022

 

A guerra continua. As atrocidades somam-se e só se fala em guerra em vez de se falar em paz

A tragédia é de tal ordem que a continuação da guerra só pode ter mais do que um culpado, muito mais que um, Putin, o do costume, e para responsabilidades devemos começar pelos signatários do Acordo de Minsky de que estranhamente toda a gente se quer agora esquecer.

Por outro lado dizer, que esta guerra não é redutível a nenhuma outra só pode ser entendível de forma simétrica à ideia que os autores desta afirmação pretendem com ela expressar : eles pretendem ilibar o Ocidente de qualquer culpa nesta guerra enquanto eu diria, esta guerra é suja como todas as outras e portanto tratável da mesma maneira que todas as outras, com uma enorme diferença: é mais grave que todas as outras quer pelo potencial poder bélico em presença que pode levar à destruição do mundo, quer pela cumplicidade assumida ou escondida das grandes potências Ocidentais que podem assim aprofundar a balcanização [1] da Europa e, mesmo na ausência de bombas nucleares, recriar assim todos os mecanismos que levaram à Segunda Grande Guerra. E assim poderem estar a preparar a Terceira Guerra Mundial. Relembro aqui a resposta de Einstein à pergunta que lhe foi feita sobre como seria a Terceira Guerra Mundial e a resposta foi: a Terceira Guerra Mundial não sei como será, mas sei como seria a quarta: feita com pedras. Este segundo aspeto, a quota parte de responsabilização do Ocidente na situação a que se chegou tende a ser branqueado por muita gente, desde os jornais e televisão, até aos amigos, de uma forma que chega a atingir foros de cinismo. Em nome desse branqueamento assiste-se ao rolo compressor do pensamento único de quem não é por nós é contra nós.

E num continente que foi vítima da maior catástrofe bélica em nome da raça pura, a raça ariana, sabe-se agora que os descendentes das vítimas de então, o povo alemão e o mundo, estão congregados a apoiar em força um governo – não digo um povo – que toma como referência o mesmo mecanismo étnico: raças puras e impuras. Como raças puras, temos os ucranianos de origem germânica ou escandinava e, como impuras existem as outras, existem as gentes do submundo. Não é por acaso que já se fala em nazismo de características ucranianas em que os judeus de outrora serão agora substituídos pelos ucranianos eslavos contra os de matriz pró-germânica ou escandinava. E nisso, corremos o risco de se levar a cabo uma guerra mundial com armas atómicas a defender este tipo de governo ucraniano e a colaborar, assim, na destruição massiva de um país, a Ucrânia, ao prolongar-se a situação de guerra e destruição em vez de se procurarem os difíceis caminhos que levem à paz. Em vez desta, apoia-se um Presidente, Zellensky, o Presidente que arma os paramilitares e “nacionalistas” e que recusa aplicar os acordos de Minsk. Em vez da paz, Zellensky faz aprovar uma lei, a lei nº 38, sobre os povos autóctones onde se pode ler o seguinte (tradução feita com a utilização de três línguas -ucraniano-português, ucraniano-francês e ucraniano-inglês):

“1. Povo autóctone da Ucrânia – uma comunidade étnica autóctone formada no território da Ucrânia, portadora de língua e cultura de origem, dispõe de órgãos tradicionais, sociais, culturais ou representativos. Um povo autóctone da Ucrânia consciente de si-mesmo, é uma minoria étnica em termos da sua população e não tem educação estatal própria fora da Ucrânia.

2. Os povos autóctones da Ucrânia, formados no território da península da Crimeia, são os tártaros da Crimeia, os caraítas, os tártaros da Crimeia.

3. Órgãos representativos dos povos autóctones da Ucrânia – instituições representativas relevantes estabelecidas pelos povos autóctones e de acordo com a Constituição e as leis da Ucrânia têm o direito de representar os povos autóctones e de tomar decisões em seu nome (doravante – órgãos representativos).

 

Artigo 2. Personalidade jurídica dos povos autóctones da Ucrânia

  1. Os povos autóctones da Ucrânia têm direito à autodeterminação dentro da Ucrânia, a estabelecer o seu status político no quadro da Constituição e das e leis da Ucrânia, de realizar livremente o seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
  2. Os povos autóctones da Ucrânia, no exercício do seu direito de autodeterminação, têm o direito de autogoverno em assuntos relacionados a seus assuntos internos, incluindo formas de estabelecer os seus órgãos representativos formados e a operar o de acordo com a Constituição e as leis da Ucrânia.
  3. Os povos autóctones da Ucrânia têm o direito, de acordo com a Constituição e as leis da Ucrânia, de preservar e fortalecer as suas instituições políticas, jurídicas, sociais e culturais especiais, mantendo sua participação na vida econômica, social e cultural.
  4. O Estado promoverá a representação dos povos autóctones da Ucrânia na Verkhovna Rada da Ucrânia, na Verkhovna Rada da República Autónoma da Crimeia e nos órgãos de governo autonomo local da República Autónoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol.
  5. O Estado promove a formação das capacidades das comunidades territoriais que corresponderiam aos locais de residência compacta dos povos autóctones da Ucrânia.
  6. O Estado garante a proteção dos povos indígenas da Ucrânia contra atos de genocídio ou quaisquer outros atos de coerção ou violência coletiva.

 

Artigo 3. Direitos fundamentais dos povos autóctones da Ucrânia

  1. Os povos indígenas da Ucrânia e os seus representantes têm o direito, coletiva e individualmente, ao pleno gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, conforme estabelecido na Carta das Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Autóctones e acordos internacionais aprovados pela Verkhovna Rada da Ucrânia, bem como previstos na Constituição e nas leis da Ucrânia.
  2. Os povos autóctones da Ucrânia têm direito a igual proteção legal. Qualquer discriminação contra os povos indígenas da Ucrânia no exercício de seus direitos é proibida.
  3. O estado implementa medidas de apoio reforçado aos povos autóctones da Ucrânia – medidas temporárias tomadas pelo estado para superar fenômenos negativos para os povos autóctones de natureza social, jurídica ou cultural através da criação de mecanismos especiais favoráveis aos direitos, liberdades e necessidades dos povos autóctones.

Medidas de apoio reforçadas são implementadas pelo Gabinete de Ministros da Ucrânia mediante solicitação e após consultas com órgãos representativos.

  1. Aos povos autóctones da Ucrânia é garantido o direito à proteção legal contra quaisquer ações destinadas a:

1) privação de símbolos de etnicidade e integridade como povos originários, privação de valores culturais;

2) despejo ou transferência forçada de locais de residência compacta sob qualquer forma;

3) assimilação forçada ou integração forçada de qualquer forma;

4) encorajar ou incitar o ódio racial, étnico ou religioso contra eles.

  1. Os povos indígenas da Ucrânia determinam os seus próprios símbolos nacionais e o procedimento para sua aplicação em conformidade com as leis da Ucrânia.
  2. Os povos indígenas da Ucrânia têm o direito de reviver, usar, desenvolver e transmitir às gerações futuras a sua história, línguas, tradições, escrita e literatura, para restaurar e preservar objetos do património cultural material e imaterial.
  3. É proibida a negação da etnia ou identidade étnica dos povos autóctones.” Fim de citação,

 

Resuma-se o que nos diz esta lei assinada pelo Presidente Zelensky em 1 de Julho de 2021. Esta lei garante aos Tártaros e Judeus caraítas o exercício dos seus direitos, nomeadamente o de falar a sua língua, mas não aos eslavos. Estes não existem. Eles não são protegidos por nenhuma lei. Eles são Untermenschen, seres infra-humanos. Foi a primeira vez, 77 anos após o fim da II Guerra Mundial, que uma lei racial foi adotada no continente europeu.

Entende-se assim porque é que pululam na Ucrânia os grupos ou movimentos de extrema-direita com estruturas paramilitares. Desses grupos debrucemo-nos sobre alguns dos seus dirigentes emblemáticos, vejamos quem são algumas destas figuras mais relevantes da extrema-direita ucraniana, figuras estas ligados a grupos paramilitares que não são, está provadíssimo, uma criação da propaganda russa, são antes gentes treinadas num dos maiores campos europeus de treino militar, na Polónia, mais precisamente na atual ESA- (European Security Academy):

Figuras emblemáticas da extrema-direita ucraniana

  1. Arsen Avakov é Ministro dos Assuntos Internos da Ucrânia desde 2014 e patrono político do movimento paramilitar Azov, cujos laços com os ultranacionalistas ucranianos remontam a quase uma década, de acordo com Anton Shekhovtsov, reconhecido investigador da extrema-direita europeia. Foi sob o comando de Avakov que Azov foi incorporado na Guarda Nacional num movimento que, embora tenha sido apresentado como meio de desarmar o batalhão ultra-nacionalista, levou ao seu crescimento explosivo e à sua ramificação no partido político chamado Corpo Nacional e no movimento cada vez mais assertivo das Milícias Nacionais de rua.
  1. Andriy Biletsky é o chefe do movimento Azov e membro do Parlamento da Ucrânia. Toda a vida de Biletsky está na política ultra-nacionalista, e ele cultivou a criação de Azov a partir de um grupo de militantes mal armados e hooligans do futebol para um grande movimento de três frentes, e um movimento político e de rua em expansão agressiva com ambições na sua maioria incontroladas. Biletsky goza do patrocínio do Ministro dos Assuntos Internos da Ucrânia Arsen Avakov e está alegadamente ligado a este último há quase uma década.
  2. Andrzej Bryl é o fundador do forte Grupo de Segurança Delta, que inclui a Academia Europeia de Segurança (ESA), com mais de 1500 funcionários. Bryl é um especialista militar e de segurança na Polónia com alegadas décadas de experiência, incluindo alegada cooperação com os militares polacos. Os clientes da sua empresa incluem vários governos estrangeiros. Bryl posou numa fotografia com um grupo de estagiários da Ucrânia, composto pelo menos parcialmente por veteranos Azov e ativistas de organizações ultranacionalistas na Ucrânia.
  3. Bartosz Bryl é diretor-geral da Academia Europeia de Segurança. Embora ele insista que a empresa negaria a formação a ultranacionalistas e diz que efetua verificações profundas sobre os seus candidatos, a empresa prestou serviços ao controverso Regimento Azov e, por investigação Bellingcat, treinou ultranacionalistas que ocupam posições de liderança em organizações com um historial de violência, indivíduos que professam abertamente o apoio ao “nacional-socialismo” e à supremacia branca, e os que estão atolados em ataques racistas de alto nível na Ucrânia.
  1. Sergiy Korotkih é um dos comandantes de combate e líderes organizacionais de Azov e um antigo cidadão da Bielorrússia com ligações a organizações neo-nazis na Rússia. Foi-lhe concedida cidadania ucraniana pelo Presidente Petro Poroshenko em 2014. É alegadamente um associado próximo de Arsen Avakov como chefe do Departamento para a Proteção de Objetos Estratégicos da Polícia Nacional da Ucrânia, uma unidade policial distinta que aparentemente recebeu formação da ESA na Ucrânia em Julho de 2016, apesar de ser dotada, por prova fotográfica, com vários indivíduos que apoiam aberta e publicamente as ideologias de extrema-direita, supremacia branca, e ultranacionalista.
  2. Ivan Pilipchuk é um aparente veterano da guerra da Ucrânia com a Rússia e separatistas liderados pela Rússia e é atualmente um dos líderes da “Tradição e Ordem”, uma violenta organização ultranacionalista que a Human Rights Watch liga aos ataques contra os ciganos ucranianos, pessoas LGBT e ativistas dos direitos LGBT.

  1. Ihor “Maliar “ (nome de guerra) é um veterano de combate Azov e uma figura proeminente na cena de extrema-direita da Ucrânia, com um enorme seguimento online de quase 20.000 pessoas na Instagram. Foi um participante ativo de alguns dos momentos icónicos e mais controversos da Ucrânia durante as manifestações da Euromaidan, bem como o autor de um ataque racista de grande visibilidade em 2015 que foi amplamente noticiado nos meios de comunicação social internacionais. Os desportos praticados por “Maliar” mostram tatuagens suásticas claramente visíveis na sua cabeça e sabe-se que recebeu formação militar sofisticada na ESA em 2016. É também um veterano de ATO (“Anti-Terror Operation”, a expressão para as operações na Ucrânia na zona de Donbas, a partir de 2014) e alegadamente ferido em batalha, Maliar é atualmente um ativista do Corpo Nacional e um associado próximo de muitos líderes do movimento Azov

“Maliar”, como ele próprio confirma no documentário “Day of a Provocateur”, foi a peça central de um dos acontecimentos mais controversos do protesto e eventual revolução de  Maidan: um ataque às formações defensivas da polícia em frente à Administração Presidencial da Ucrânia. Durante o ataque,  Maliar mascarado utilizou uma corrente de metal pesado contra dezenas de polícias.

Em Outubro de 2015  “Maliar” , segundo uma fonte de investigação  aberta pela  publicação ucraniana Bukvy e provas em vídeo publicadas pelo The Guardian , fez  parte de um ataque racista a adeptos de cor  presentes no estádio de  futebol durante o jogo Dínamo de Kiev contra o Chelsea em Kiev. O incidente foi amplamente coberto pelos meios de comunicação social internacionais.

  1. ”Create to Create”

Figura à esquerda do líder de Azov, tem a cabeça rapada.

Em 20 março publicou no Instagram o seguinte texto que me recuso a traduzir. Intitulado reminiscência de Berlim:

“… voices of young national-socialists were once heard on these streets, along with barking of German Shepherds, thunderous marches shook the air, young Aryan women were praising Adolf Hitler with a Roman salute. But what’s happening now? Turks, negroes and Arabs fuck with blonde whores! Bavarian-style houses are covered in Turkish flags. All over Berlin faggots and junkies rap in German. Is this the modern world that the war was fought for? Fucking scum, kikes and blacks, have built their own heaven? Well, we the whites shall build our own white heaven!” Fim de citação

 

Custa a acreditar, é o mínimo que se pode dizer, custa a acreditar que se esteja a colocar em risco a Humanidade para defender estruturas políticas que abrigam e financiam estes homens e as suas estruturas paramilitares. Custa a acreditar.

Em contraponto a esta lógica vejamos o que nos diz um especialista militar português.

Numa entrevista conduzida por Pedro Santos Guerreiro ao Major General Agostinho Costa pode-se ler:

P. Esta semana houve uma grande mobilização política do Ocidente, sobretudo a partir dos Estados Unidos, na cimeira da NATO em Bruxelas e na visita de Joe Biden à Polónia. O que mudou esta semana?

R. É o epílogo de uma sucessão de patamares que temos vindo a assistir ao longo destas quatro semanas de conflito – e que até já vinha de antes, da iniciativa do Kremlin junto dos EUA e da NATO de propor uma discussão para uma nova arquitetura de segurança para a Europa que desse garantias de segurança a ambas as partes, e que envolvia o estatuto da Ucrânia e o posicionamento de armas nucleares de alcance intermédio. No patamar do “mutual assured destruction” [doutrina da Destruição Mútua Assegurada], em que o desenvolvimento progressivo de armas é feito para impedir a sua utilização pela outra parte] temos dois níveis a descoberto, o do antimíssil e o dos misseis intermédios.” Fim de citação.

 

Quer isto dizer que mesmo com o perigo de cairmos onde estamos agora, os europeus e os americanos assim como a NATO preferiram manter a sua posição de belicismo frontal em vez de procurarem responder aos caminhos de paz que os russos estariam a querer! E isto antes da guerra estalar! Mas o Demónio, dizem-no, é só um e tem um nome: Putin!

Inacreditável. Neste caso, é inacreditável que seja só Putin a ser considerado como representando o Mal, o Demónio. Não, muita mais gente merece o mesmo adjetivo, a começar pelos generais da NATO e a terminar no outro lado do Atlântico, onde reinam os neoconservadores. De forma mais simples. o adjetivo, lamento dizê-lo, de Demónio assenta que nem uma luva a muito mais gente. E o custo enormíssimo dessa política de diabolização única, que impede a procura da paz, pagamo-lo todos nós, o povo russo, o povo ucraniano, não as elites, não Putin, não Zelensky, o povo dos dois países e todo o mundo.

Sobre os enormes custos, económicos, sociais, ambientais, humanos, pensemos nas crianças que sofrem estes horrores da guerra e que os irão marcar para toda a vida. Pensemos na destruição de vidas e de património, pensemos na reestruturação dos fluxos internacionais de comércio de bens e serviços, pensemos nas mudanças políticas em todos os lados que se terão de verificar e tudo isto, afinal em nome de quê? Em nome do povo ucraniano que se leva ao martírio dia a dia que passa? Não me parece que assim seja, porque se assim fosse era a paz que estaria a ser procurada e não a diabolização com uma só referência, um só destinatário, Putin. Então em nome de quê?  Se não é em nome do povo ucraniano será então em nome das elites, ou antes, das elites que defendem um nazismo de matriz ucraniana que reinam neste país. O quê? Pôr o mundo em perigo na defesa destas estruturas políticas a que cinicamente dão o nome de democracia? Em 2014 inventaram que em Maidan o povo morria na defesa de um acordo comercial com a União Europeia. Agora põe-se o mundo em perigo, destroem-se países em nome desta falsa democracia, em nome da limpeza étnica! Lamentável que assim seja, muito lamentável mesmo.

Tem razão Helder Costa quando pergunta: E a Europa?

E responde: “a nossa Europa que sempre se orgulhou por lutar pelos direitos humanos, pela Paz e pelo consenso?

Porque não assumiu a sua situação privilegiada para conseguir o entendimento entre as partes?

Porquê sempre essa postura seguidista em relação aos que ” quero, posso e mando”?

E a luta por um Federalismo Europeu que criasse a unidade entre os nossos povos, desapareceu para sempre?

Esta é a derrota, a GRANDE DERROTA”.

 

Mas mais inacreditável ainda é que esta guerra, que altos responsáveis norte-americanos apelidam de “guerra por procuração” (por exemplo, Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleeza Rice [secretária de Estado De George Bush filho] entre 2007 e 2009, em artigo publicado no The Atlantic, vd aqui), e toda a frenética propaganda ocidental sobre o seu desenrolar, que divide o mundo entre os “bons” (nós) e os “maus” (eles), fazem com que as nossas perceções sejam diferentes da realidade e desviam a nossa atenção sobre causas mais profundas que se podem descortinar por detrás da guerra e sobre o devir na Europa e no Mundo.

De facto, todo este apoio a um regime que apoia estes neonazis e os tem incrustados nas suas próprias instituições, um regime que aprova leis que discriminam os seus habitantes com base em supostas raças e bombardeia aqueles que considera não terem direitos (vd. os bombardeamentos desde 2014 às regiões leste do país), é este regime dito “democrático” que os EUA e os seus aliados da NATO apoiam [e consideram cumprir os requisitos para aderir à UE!!!] e utilizam como pretexto (e carne para canhão) para objetivos bem mais vastos: enfraquecer a Rússia, impedir que a Europa Ocidental se aproxime ao menos comercialmente da Rússia, isolar a Rússia da China e outros países asiáticos como forma de enfrentar os desafios postos pela potência emergente: a China.

Cabe aqui relembrar o que disse o jornalista Ben Norton (ver aqui em A Viagem dos Argonautas e aqui em english.almayadeen.net) a propósito da notícia do Washington Post de 5 de Abril último sobre as conversações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, em que o WaPo revelou que a NATO teme que Kiev ceda a algumas das exigências de Moscovo. Ou seja, que alguns estão dispostos a prolongar a guerra para evitar que as preocupações da Rússia com a segurança sejam satisfeitas. Para alcançar estes objetivos a NATO está mais que disposta a manter os ucranianos na “picadora”. Por outras palavras, a NATO (leia-se os EUA e mais alguns) vê os ucranianos como carne para canhão na sua guerra imperialista por procuração contra a Rússia.

Como disse o acima citado ex-conselheiro de Condoleeza Rice, Eliot Cohen, é uma guerra por procuração e os soldados russos têm de se render ou morrer, quanto mais e mais depressa melhor!

Tal como em guerras anteriores (anos 1990 na ex-Jugoslávia, 2001-2021 no Afeganistão, 2003 no Iraque, 2011 na Líbia), os EUA e os seus aliados da NATO não hesitam em destruir um país para alcançar os seus objetivos de expansão e domínio.

Ainda que, como no caso atual da Ucrânia, pisando o risco de a guerra descarrilar num conflito global e atómico e o nascimento de uma nova ordem monetária internacional (que, verdadeiramente, se desconhece como será) que poderá pôr em causa o atual domínio do dólar.

Obviamente nada disto tem a ver com “democracia”, “liberdade” e outras belas palavras…

 

Disso nos falam os 10 textos de autores ocidentais que compõem esta pequena série:

  1. Será o euro salvo pela crise ucraniana, por Jean-Claude Werrebrouck
  2. A Economia terá de operar à sombra dos políticos e militares, por Jean-Claude Werrebrouck
  3. Rússia e Ucrânia num mundo novo, por José Natanson
  4. O divórcio dos impérios com o Ocidente: mais complicado para a China, menos complicado para a Rússia, por Olivier Passet
  5. O Império Americano Autodestrói-se, por Michael Hudson
  6. O czar russo da geo-economia Sergey Glazyev apresenta o novo sistema financeiro mundial, por Pepe Escobar
  7. O dólar americano pode ser a próxima vítima da guerra da Ucrânia, por Branko Marcetic
  8. O Dólar Devora o Euro, por Michael Hudson
  9. A bomba financeira que ameaça ser atómica, por AbrilAbril
  10. O que se disputa na Ucrânia e o que virá depois, por Gerson Almeida

 

 


Notas

[1] Portugal joga hoje com a Macedónia do Norte; A Macedónia do Norte enquanto país, sublinhemo-lo, é um produto dessa balcanização.

 

 

 

 

 

 

 

 

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