TEM DIAS
Tem dias em que abafo
Preso nestas paredes
De pedra
Dias compridos onde vagueio
Entre palavras
E deambulo de quarto em quarto
De sala em sala
Abafado entre muitas sedes
Tem dias em que me sinto assim
Cansado e farto
E preso
Fechado numa mala
Embrumado entre as paredes
Tem dias, sabes?
Tem dias…
Tem dias em que nada mexe
Nem o fumo das queimadas
Nem as letras dos avisos
Nem as vidas que vivi.
Tem dias que ninguém esquece
Cheios de ideias tresloucadas
Actos feitos de improvisos
Sabores por que morri.
Tem dias em que
Quando o dia chega ao fim
O meu pensamento alarde
Voeja por entre letras certas
Preso nas folhas
Dos livros lidos na sobretarde
Tem dias em que
Não se passou nada
Em que nunca se passa nada
Em que tenho fogo que entra em mim
Que queima, magoa
E não se apaga
Onde à minha volta tudo arde
E preciso de pousada
Amanheço muito cedo nesses dias
Em que me maço
E me encho de medo
De me entregar ao cansaço
Tem dias, sabes?
Tem dias em que tudo mexe
Em que as ideias me são escravas
E me surgem em improvisos
Em sinfonias que nunca ouvi.
Tem dias em que me apetece
Vestir-te de palavras
Cobrir-te com mil sorrisos
E pernoitar em ti.
Tem dias…
Tem dias, sabes?
Tem dias …
OBS – poema publicado no livro
“A SECRETA VIDA DAS PALAVRAS À CHUVA”
Dezembro de 2023
Muito giro. Eu confesso que também não gosto nada de estar casa, fechado em 4 paredes. Gosto muito mais de caminhadas, ir ao café e ler o jornal. Sair de casa e falar com as pessoas. Sou muito sociável
De facto tem dias…
Abraço