UMA CARTA DO PORTO – POESIA – Por José Fernando Magalhães (585)

 

 

TEM DIAS

 

 

Tem dias em que abafo

Preso nestas paredes

De pedra

Dias compridos onde vagueio

Entre palavras

E deambulo de quarto em quarto

De sala em sala

Abafado entre muitas sedes

 

Tem dias em que me sinto assim

Cansado e farto

E preso

Fechado numa mala

Embrumado entre as paredes

 

Tem dias, sabes?

Tem dias…

 

Tem dias em que nada mexe

Nem o fumo das queimadas

Nem as letras dos avisos

Nem as vidas que vivi.

Tem dias que ninguém esquece

Cheios de ideias tresloucadas

Actos feitos de improvisos

Sabores por que morri.

 

Tem dias em que

Quando o dia chega ao fim

O meu pensamento alarde

Voeja por entre letras certas

Preso nas folhas

Dos livros lidos na sobretarde

 

Tem dias em que

Não se passou nada

Em que nunca se passa nada

Em que tenho fogo que entra em mim

Que queima, magoa

E não se apaga

Onde à minha volta tudo arde

E preciso de pousada

 

Amanheço muito cedo nesses dias

Em que me maço

E me encho de medo

De me entregar ao cansaço

 

Tem dias, sabes?

Tem dias em que tudo mexe

Em que as ideias me são escravas

E me surgem em improvisos

Em sinfonias que nunca ouvi.

Tem dias em que me apetece

Vestir-te de palavras

Cobrir-te com mil sorrisos

E pernoitar em ti.

 

Tem dias…

Tem dias, sabes?

Tem dias …

OBS – poema publicado no livro

“A SECRETA VIDA DAS PALAVRAS À CHUVA”

Dezembro de 2023

 

 

2 Comments

  1. Muito giro. Eu confesso que também não gosto nada de estar casa, fechado em 4 paredes. Gosto muito mais de caminhadas, ir ao café e ler o jornal. Sair de casa e falar com as pessoas. Sou muito sociável

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