REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Revisão dos multiplicadores e revisão das previsões – do discurso aos actos?

Bruno Ducoudré,  Dezembro de 2012

Parte I

Na sequência do FMI e da Comissão Europeia (CE), a OCDE também ela reviu recentemente à  baixa a sua  previsão de crescimento do PIB para a zona euro em 2012 ( – 0,4% contra – 0,1% em Abril de 2012) e em 2013 ( – 0,1% contra + 0,9% em Abril de 2012). No  seu último exercício de previsão, a OCDE diz agora partilhar com outras instituições internacionais (FMI [i] e CE [ii]) a ideia de que os multiplicadores são actualmente elevados na zona euro [iii]: a austeridade orçamental  feita simultaneamente em todos os países da área   enquanto a situação económica já está em clara  degradação, combinada  com um Banco Central dispondo de  pouca margem de manobra para  reduzir ainda mais as suas taxas de juro,    conduz  a aumentar o impacto da actual consolidação orçamental sobre a actividade económica.

Esta mudança radical de posições das três instituições levanta duas questões:

• Quais são os principais factores que conduziram à revisão da previsão de crescimento? Dada a dimensão das políticas de austeridade praticadas na zona euro, pode-se desde então  esperar que as revisões da previsão das  impulsões orçamentais  sejam   um importante determinante das revisões das previsões de crescimento. Estas revisões são o primeiro factor explicativo das revisões da previsão de crescimento do  OFCE para a França em 2012.

• Esta mudança de discurso traduz, concretamente, uma revisão à alta  dos multiplicadores utilizados nos  exercícios de previsão? Geralmente, estas instituições não especificam  o valor dos  multiplicadores utilizados nas suas  previsões. A análise das revisões das previsões para a zona  euro em 2012 e 2013 pode, no entanto,  indicar-nos  em que medida é que os  multiplicadores foram na verdade revistos à alta.

O gráfico abaixo mostra que entre a previsão feita em Abril do ano N-1 para a zona  euro e a última previsão disponível  para o ano de previsão do ano  N, os três institutos reviram fortemente à baixa a  sua previsão de  menos 2,3 pontos em média para 2012 e de menos 0,9 ponto em média para 2013.

Ao mesmo tempo, as impulsões orçamentais também foram revistas, de menos 0,6 pontos do PIB para a OCDE, para menos 0,8 ponto do PIB para o FMI para 2012 e de menos 0,8 ponto para a Comissão a + 0,2 ponto para a OCDE em 2013, o que explica algumas das revisões de crescimento para estes dois anos.

Comparativamente, para 2012, o   OFCE é o Instituto, que menos tem revisto a sua previsão de crescimento, mas é quem mais mudou a sua previsão de impulso orçamental  ( menos 1,7 ponto do PIB em de 2012 em  Outubro contra – 0,5 ponto percentual do PIB previsto em Abril de 2011), ou seja, uma revisão de menos 1.2, conforme se ilustra no gráfico abaixo. Para 2013, a revisão da previsão de crescimento é semelhante para todos os institutos, mas as revisões das impulsões orçamentais  são muito diferentes. Estas diferenças podem assim ser o resultado em parte da revisão dos multiplicadores.

Ducoudré - I

As revisões das previsões de crescimento, g, podem ser decompostas em vários termos:

• Uma revisão da impulsão orçamental  IB, designada por  ΔIB.

• Uma revisão do multiplicador k, designada por  Δk, sendo  k0  o multiplicador inicial e k1  o multiplicador revisto;

• Uma revisão do crescimento espontâneo da zona euro (excluindo o efeito da política orçamental), das impulsões orçamentais feitas fora da zona  euro…designando-se se  por  ΔE;

A revisão da previsão de OFCE em menos  1.5 para o  ano de 2012, que teve lugar entre Abril de 2011 e Outubro de 2012, decompõe-se pois  em  menos 1.3 ponto  de revisão das impulsões orçamentais  e de menos 0,3 ponto provindo da  revisão à alta  do multiplicador (tabela). A soma dos efeitos das outras fontes de revisão adicionam  0,1 pontos de crescimento em 2012, em comparação com a previsão feita em Abril de 2011. Por outro lado, para 2013, a revisão explica-se principalmente pelo aumento no valor do multiplicador.

No que diz respeito às instituições internacionais, todos estes elementos (dimensão do  multiplicador, crescimento espontâneo,…) não  são conhecidos mas são por nós conhecidas as impulsões orçamentais.  Há, então, vários casos polares para inferir um intervalo para os multiplicadores utilizados em previsão. Além disso, se são principalmente as revisões de impulsão  orçamental e as revisões do  valor do multiplicador que são a fonte da revisão das previsões de crescimento, então pode-se  em primeira aproximação, fazer o pressuposto de Δe = 0. Pode-se  então calcular o multiplicador implícito tal que o conjunto de revisão é atribuído à  revisão das impulsões  orçamentais  e que uma tal revisão se reparta em revisão de multiplicador e revisão da impulsão.

(continua)

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