Selecção, tradução e nota introdutória por Júlio Marques Mota
Em França começa a ser difícil utilizar a palavra austeridade mesmo quando esta é agora a palavra de ordem da Presidência de François Hollande. Por outro um pequeno texto cuja leitura francamente se sugere ao camarada António José Seguro, ele que fala tanto em crescimento, e em que Gallois defende que este “não é possível num só país” para utilizar uma expressão muito em voga nos anos setenta. E a Europa, ou melhor, os seus dirigentes , atolados na sua fome de mais austeridade, mais austeridade , não parecem disponíveis para o crescimento.
Júlio Marques Mota
Gallois sublinha o impacto das políticas de austeridade sobre o crescimento na Europa,
Le Monde, 21 de Abril de 2013
O Comissário geral para o investimento, Louis Gallois, estimou no domingo 21 de Abril, que a Europa estava em vias de tomar consciência de que a adição das políticas de austeridade bateu já na parede “. Entrevistado no programa Grand Rendez-vous de Europe1-hoje em França-Itele, Gallois, antigo director da EADS e da SNCF e autor no Outono de um relatório sobre a competitividade, estimou que não se tinha ” suficientemente tido em conta o impacto sobre o crescimento destas políticas de austeridade”.
Recentemente, o Presidente François Hollande tinha tido a necessidade de reenquadrar quatro dos ministros do seu governo – Ayrault, Arnaud Montebourg (renovação do tecido produtivo ), Cécile Duflot (habitação) e Benoît Hamon (consumo) -, que haviam solicitado uma mudança de política económica e social. Numa entrevista ao Le Monde em 9 de Abril, Arnaud Montebourg afirmou que ” o orçamento sério, se este mata o crescimento, deixa então de ser sério. Este é então um orçamento absurdo e perigoso”. Em resposta, o presidente disse que “nenhum ministro pode pôr em causa a política que ele está a dirigir “, recusando o termo de “austeridade”.
Relançar o crescimento na Europa
O Comissário do governo diz que é preciso ‘dar uma prioridade muito alta para a recuperação do crescimento, ao crescimento de amanhã’. “Definir uma meta de crescimento de 2% ao ano, é um objectivo ambicioso e necessário”, disse ele. O crescimento em França “depende da competitividade”, mas “a França por si só não tem os meios necessários para relançar o seu crescimento”, afirmou. “Se a França faz a retoma da procura vai-se dar uma enxurrada de importações”.
Portanto, é necessário examinar como é que se pode relançar o crescimento na Europa, segundo Gallois. Ele citou três eixos: “afrouxar os calendários de retorno aos equilíbrios”, ter “uma política monetária pela parte do Banco Central Europeu mais adequada a este objectivo” e utilizar a “capacidade de crescimento ” dos países excedentários, “essencialmente a capacidade excedentária da Alemanha”.
A propósito do crédito de imposto para a competitividade (CICE), Gallois assegurou ser necessário que haja “um aumento no regime que seja forte” na procura das PME, beneficiar o dispositivo de pré-financiamento, com 460 milhões de euros na instrução sobre um objectivo de 2 mil milhões. “É preciso ao mesmo tempo a coerência (…) e a perseverança” na implementação do pacto sobre a competitividade, disse ele. Gallois considera que a margem de manobra era “limitada” para poder avançar no sentido de uma redução suplementar na carga fiscal das empresas, sublinhando que 20 mil milhões de euros por ano, ou “1% do PIB”, já era “um enorme esforço” em tempos de restrição orçamental.