Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Os países que aplicaram a austeridade viram as suas dívidas públicas dispararem
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Romain Renier |
TEXTO DISPONIBILIZADO POR PHILIPPE MURER, MEMBRO DO BUREAU DU FORUM DÉMOCRATIQUE, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO MANIFESTE POUR UN DÉBAT SUR LE LIBRE ÉCHANGE
A dívida pública aumentou mais nos países que aplicaram as políticas de rigor orçamental que foram impostas pela Troika. Isto é o que se mostra com as estatísticas publicadas na segunda-feira pelo Eurostat..
Uma panorâmica geral
Reduzir a dívida pública dos países da zona do euro, em especial a dívida pública daqueles que estão em dificuldade. Era este o objectivo dos líderes europeus, com os alemães à cabeça e a Troika igualmente para que estes países retomassem o caminho do crescimento. O meio ? Reduzir os orçamentos nacionais. É sobre este modelo que viveu a zona euro durante estes últimos cinco anos. Antes disso aqui e acolá, as opiniões começam a mudar.
Os países abrangidos pelo programa pagam a conta
Os dados publicados por Eurostat na segunda-feira á tarde são eloquentes em relação ao falhanço da gestão da crise da dívida Europeia. Estes dados mostram que os países que aplicaram as mais drásticas medidas de restrição orçamental viram a sua dívida pública aumentar muito significativamente. Na Grécia, esta explodiu, de 136% do PIB no primeiro trimestre de 2012 após o perdão parcial da dívida pública ( após o haircut) para 160% do PIB hoje, o seu nível de antes da reestruturação. Em Espanha, esta subiu de 73% para 88% do PIB no mesmo período. E em Portugal, subiu de 112 a 127% do PIB em apenas um ano.
A Irlanda, erigida como um exemplo pelos defensores dos cortes no orçamento público, não foi capaz de fazer melhor. A sua dívida pública já atingiu 125% do PIB enquanto era “apenas” de 106% da riqueza nacional há um ano antes. Quanto à Itália, que acaba de saír do Procedimento de Vigilância por défice excessivo por ter cumprido os seus objectivos, ela também não está, diga-se de passagem, muito diferente, mesmo que a progressão seja menos espectacular. No espaço de um ano, a dívida pública subiu de 123 para 130 por cento do PIB.
Variação da dívida pública da Grécia, de Portugal, da Irlanda e da Espanha de 2012 para 2013 (expressa em percentagem do PIB)
(Chiffres Eurostat / Graphique LaTribune.fr)
O modelo de austeridade e a todo e qualquer preço começa a desfazer-se
O primeiro questionamento deste modelo ocorreu em Dezembro, quando o FMI, um dos artesãos da cura de austeridade no sul da zona do euro, reconheceu ter avaliado mal o impacto da austeridade sobre o crescimento. Na verdade, os cortes no orçamento pesaram mais do que o esperado nas economias sob o programa da Troika. Em seguida, a instituição de Washington tinha feito o seu “mea culpa” pelo menos sobre a gestão da crise grega. Segundo ela, a dívida do país deveria ter sido reestruturada mais cedo e numa escala mais importante. Esta Instituição também aproveitou para beliscar o dogmatismo europeu sobre a questão. Depois, o G20 apoia um discurso virado para “o crescimento”, que deve ser uma prioridade sobre o processo de consolidação orçamental.