EDITORIAL – A COMPETITIVIDADE, UMA REGRA DO MUNDO DE HOJE

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Como humildes súbditos da União Europeia que somos, uns mais contrariados, outros menos, temos sido repetidamente sujeitos a vários discursos que preconizam princípios, que, no seu conjunto, poderiam constituir até uma manual do bom europeu. Pessoas importantes, como Durão Barroso, Angela Merkel e outros preconizam efectivamente esses princípios, com ar seguro e muito grave, sem dúvida que para nos fazer crer que, sem uma aplicação metódica e muito séria desses princípios não vai haver Europa, não vai haver prosperidade nem segurança, em resumo, sem esses princípios não seremos ninguém. Um deles é o da competitividade.

O caso torna-se grave, muito grave mesmo, quando nos procuram fazer crer que nós, portugueses, não somos competitivos. E que temos que o passar a ser. Parece que é esse um dos principais problemas que nos afectam. Como havemos de fazer? A primeira coisa é, com certeza, tentar perceber o que será ser competitivo. Das acções dos nossos governantes, que parecem acreditar a cem por cento nesta ideia da competitividade, infere-se que, para merecermos a qualificação de competitivo temos que aceitar ser despedidos facilmente, ganhar pouco e estar prontos a emigrar em qualquer altura. Ah, e não ter reforma, ou então só muito pequenina.  Estar no trabalho muitas horas por dia, sempre que nos queiram lá, mas estar sempre pronto que nos mandem embora, de um momento para o outro.

Nos dicionários vem muito pouca coisa sobre o que é ser competitivo. Do que se observa por esse mundo, tira-se a ideia de que, competitivos serão aqueles jogadores de futebol (os que têm muito êxito, claro) que andam sempre nos jornais ou na televisão. Serão todos? Parece que não.  A maioria não são com certeza.

Falando noutro tom, este conceito é utilizado mais para silenciar as pessoas que protestam contra as exacções que são cometidas em nome da austeridade, ou de outro princípio obscuro. Só por si mesmo, o conceito de produtividade é vago e perigoso. Aplicado a um país, então torna-se complicado concretizá-lo. No tempo dos reis absolutos, serviria talvez para justificar as guerras de uns contra os outros. Num tempo de integração europeia, então é inaceitável. A Alemanha chegou onde chegou (vamos por momentos aceitar, que foi positiva a sua evolução recente) não foi graças a uma “competitividade” da sua força de trabalho. Senão, não aceitaria tantos emigrantes. Foi graças a uma visão profundamente nacionalista, e a uma actuação das suas classes dominantes muito sagaz, do seu ponto de vista. Trata-se de um exemplo irrepetível, e que torna a União Europeia inviável.

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