Caro editor de A Viagem dos Argonautas
Agora que se fala tanto em liberdade de imprensa, a propósito do brutal massacre sobre Charlie Hebdo, é bom não escondermos o Sol com uma peneira e que até nem tem rede. Nesse sentido perguntemos então onde é que está a liberdade de imprensa em França actualmente, sob o reino dos socialistas dirigidos por François Hollande e capitaneados por um “hacker” da Democracia, que se dá pelo nome de Manuel Valls? Os exemplos de que abaixo se fala são exemplo do cinismo que cobre agora a ideia de liberdade de imprensa em França, cinismo este que se desencadeou a partir da hedionda chacina ocorrida em Paris, desencadeada por franceses de “souche”. A liberdade de imprensa é um valor inalienável da Democracia, é certo, mas exactamente porque esta está em perigo neste país e muito antes disto, não será então a Democracia que está perigo em França sob a política económica e social praticada por Hollande e orquestrada a partir de Berlim? Se a Democracia está em perigo, amordaçada já diríamos mesmo, necessariamente assim está também a liberdade de imprensa. Em perigo e sob o silêncio da imprensa que agora se diz ser livre? Tanto é assim que quem sobre esta política se atreva a opor-se publicamente é despedido. E despedidos então em nome da liberdade de imprensa, não mo digam!
Não é o que se passou agora um sinal disto mesmo, de uma profunda crise que atravessa a sociedade francesa e toda a Europa inclusive, não será que o que se passou pode também ser visto como imagem do que se está a passar actualmente na Alemanha de Frau Merkel? Se os judeus não existissem tinham que ser inventados, terá dito o autor de Mein Kampf e não será uma outra imagem, mas equivalente, a que se está a tentar criar na Alemanha, a partir de Dresden, a propósito do Islão?
Face a isto, três textos sobre a realidade francesa lhe envio.
Júlio Marques Mota
***
Charlie Hebdo: Nada de amálgama?
Ok, mas isto é válido para toda a gente!
Luc Rosenzweig, Charlie Hebdo: Pas d’amalgame? Ok, mais cela vaut pour tout le monde!
Revista Causeur.fr, 9 Janeiro de 2015
« Nada de amálgama ! », a palavra de ordem consecutiva a cada atentado djihadista, em França, na Europa ou algures, tem sido a palavra de ordem proferida até à exaustão pela maior parte das personalidades políticas e mediáticas que se exprimem-se sobre a chacina perpetrada nas salas de Charlie Hebdo, com Marine Le Pen incluída. Como se a vingança popular corresse o risco de se desencadear contra o merceeiro árabe da esquina da rua, que não é sequer ameaçado do mais pequeno boicote, ao contrário dos vendedores de máquinas de soda israelitas!
O povo francês, na sua sabedoria popular, não tem nenhuma necessidade que lhe dêem lições de antirracismo, pela boa e simples razão que pratica a common decency orwellienne, como Monsieur Jourdain fazia a prosa. Seja o que for que eles pensem de tal ou tal religião, qualquer que seja a sua opinião sobre os Árabes, os Judeus ou os Zulus, os Franceses não têm para hábito de se entregar a pogroms, nem de infligir punições colectivas a grupos em razão dos crimes cometidos por alguns dos seus cidadãos. Eles simplesmente confiam na lei.
Isto não impede, certamente, que os prejuízos, as generalizações, ou mesmo as posições claramente racistas alimentem as conversas de café ou como os escritos e os espectáculos: Dieudonné, que eu saiba, vive e trabalha na França.
É em Dresden, na Alemanha, e não em Paris ou Lyon que as multidões se movimentam para denunciarem a suposta islamização do seu país. Então, senhores e senhoras moralizadores autoproclamados do nosso país de quem desconfiamos de terem segundas intenções e com uma meticulosidade digna da inquisição, deixem-nos!
E escutem então, em vez de andarem a falar e a escrever continuamente estas amálgamas que denunciam com voz trémula! Sim, Edwy Plenel, Laurent Joffrin, Jean Birnbaum e outros, sois os reis da amálgama, da reductio ad lepenum de todo aquele que se interroga sobre a crise da nossa identidade nacional e sobre a nossa sociedade fora dos dogmas de que os senhores se assumem como sendo os seus vigias. Alain Finkielkraut, seguidamente Eric Zemmour, por fim Michel Houellebecq são, um a um, convocados diante do vosso tribunal inquisitorial. Como nos bons velhos processos estalinianos, o veredicto é estabelecido mesmo antes de que o acusado seja convidado a explicar-se.
O cúmulo do infâmia foi atingido, na quinta-feira 8 de Dezembro, de manhã, em France Culture por Jean Birnbaum, director do Le Monde des Livres, que bem sublinhou “a concomitância” da saída em livraria de Soumission de Houellebecq, livro que “lhe deu náuseas”, com a chacina da rua Nicolas-Appert. “Isto não tem nada a ver, certamente, mas todos o pensaram, eu pensei-o…”, afirma ele, antes de apontar a sua carga crítica contra o romancista, que reduz aos escritos islamofóbicos da britânica Bate Yé’or, como ontem ele apenas via em Alain Finkielkraut um epígono de Renaud Camus. Birnbaum é a versão estampilhada da rue Ulm da fórmula popular “eu digo isto, eu não digo nada!”. Então, nada de amálgama? Que estes Senhores comecem!
________