Revista da semana
De 25/10 a 31/10/2015
O XX Governo Constitucional tomou posse sexta-feira dia 30 de Outubro. Mas, como refere o jornal “Observador” este não é o dia 1 do novo ciclo. É antes o dia -11 para sabermos finalmente se teremos, como tudo indica, um novo ciclo depois deste novo ciclo. O artigo citado refere ainda que, na posse do Executivo, o Presidente da República alertou para perigos da ingovernabilidade e para a necessidade de cumprir os compromissos, pediu estabilidade política e fez caderno de encargos que poderia ser dirigido a um outro eventual futuro Governo.
Bruno Simões do “jornal de negócios” dá ainda conta das apreensões/receios do Presidente da República no seu discurso da tomada de posse do novo governo, de que transcrevo as partes mais significativas:
“Portugal será um país ingovernável” sem estabilidade política, avisa Cavaco
O Presidente da República dramatizou a necessidade de prosseguir a “opção europeia” caucionada por uma “esmagadora maioria” dos portugueses nas eleições. A palavra cabe agora aos deputados.[…]
“Só conhecemos verdadeiro progresso económico e social quando existiu estabilidade política. Sem estabilidade política, Portugal tornar-se-á um país ingovernável. E, como é evidente, ninguém confia num país ingovernável”, afirmou o Presidente da República, num discurso no Palácio da Ajuda, onde tomou posse esta sexta-feira, 30 de Outubro, o novo Governo.
Sem estabilidade política, Portugal tornar-se-á um país ingovernável
Estas palavras são importantes porque Cavaco Silva considerara, quando nomeou Passos Coelho, a 22 de Outubro, que uma solução à esquerda não assegurava estabilidade e que seriam “muito mais graves as consequências financeiras, económicas e sociais de uma alternativa claramente inconsistente sugerida por outras forças políticas”.[…]
A responsabilidade voltou a ser depositada na mão dos deputados. Cabe “agora aos deputados apreciar o Programa do Governo e decidir, em consciência e tendo em conta os superiores interesses de Portugal, sobre a sua entrada em plenitude de funções”, concluiu Cavaco Silva.
Ler todo o artigo em: http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/eleicoes/legislativas/detalhe/portugal_sera_um_pais_ingovernavel_sem_estabilidade_politica_avisa_cavaco.html
As tarefas inadiáveis na vida dos ministros a prazo
Helena Pereira e Liliana Valente/O Observador (30/10/2015)
A tomada de posse é apenas o primeiro protocolo dos novos ministros. Já há gabinetes destinados aos novatos e alguns já começaram a transição de pastas, mesmo que seja só por semanas.
Os ministros na tomada de posse há quatro anos
Francisco Leong/AFP/Getty Images
Os ministros do XX Governo Constitucional tomam posse com a data do seu fim anunciada, 10 de novembro. Mas, apesar disso, os procedimentos vão seguir como se nada fosse. Esta sexta-feira, os ministros tomam posse e reúnem-se de seguida em Conselho de Ministros. Os novos já têm gabinetes garantidos e houve até encontros com os responsáveis que saem para a transição de pastas.
Além da parte política, o novo Governo vai ter de cumprir algumas rotinas. Mesmo com o barco a afundar, a banda vai continuar a tocar, que é como quem diz, o guião de implantação de um Governo vai prosseguir, mesmo que no PSD/CDS poucos acreditem que no dia 10 a esquerda não derrube o Executivo que esta sexta-feira toma posse com a anunciada moção de rejeição do programa de Governo no Parlamento.[…]
A ordem, dada pelo núcleo duro do Governo, é tratar de todos os procedimentos, administrativos e políticos, como se se tratasse de um Executivo de legislatura. Os membros dos gabinetes já estão convidados e muitos despachos de nomeação serão assinados ainda esta sexta-feira. Há ainda os pedidos de subsídio de deslocação, a que os membros do Governo têm direito se a sua residência não for em Lisboa. Resta saber se vão chegar a ser feitos ou se serão despachados a tempo. […]
Se cair no dia 10, com a moção de rejeição do programa de Governo da esquerda, o Executivo de Passos ainda ficará em funções mais duas semanas, enquanto o Presidente estiver a ponderar se indigita ou não António Costa como primeiro-ministro. O Governo que esta sexta-feira toma posse ficará então em gestão até lá.
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/30/as-tarefas-inadiaveis-na-vida-dos-ministros-a-prazo/
Entretanto vão sendo tornados públicos alguns pontos do acordo em negociação entre o PS/BE/CDU, como é referido no artigo de Helena Pereira/Observador (26/10/2015)
PS jura (ao PCP e BE): 4 anos sem cortar salários nem subir IRS
PS prepara regra de ouro no acordo com PCP e BE: se forem precisas medidas extra nos 4 anos, não serão cortados salários ou pensões – e não subirão impostos. Desvio maior implicará rever as metas.
Foto de Hugo Amaral/Observador
O acordo que o PS está a negociar com PCP e Bloco inclui um compromisso dos socialistas que é, na prática, uma linha vermelha para que comunistas e bloquistas mantenham o apoio ao Executivo do PS durante a legislatura. Na prática, o PS garantirá aos parceiros de esquerda que, se durante o caminho forem necessárias medidas extraordinárias para corrigir o défice e atingir os objetivos europeus, essas medidas nunca vão passar por cortes em salários, pensões ou aumento de impostos – pelo menos sobre rendimentos.
O primeiro dirigente do PS a admitir essa cláusula de ouro foi Carlos César, numa entrevista na sexta-feira à RTP:
“O PCP e o BE, nas conversas que têm tido connosco, têm revelado uma compreensão exata e minuciosa das dificuldades com que o país se confronta e do caráter imprevisível da própria contratualidade política e da própria evolução da economia portuguesa. O que é essencial é que, na tomada de medidas excecionais que a qualquer momento se justifiquem, não sejam lesados os princípios essenciais que têm a ver com o rendimento das pessoas e os impostos sobre o trabalho”, afirmou o presidente e futuro líder parlamentar do PS.[…]
A questão que sobra deste princípio de acordo é, assim, o que fará um governo do PS se forem precisas novas medidas. A primeira parte da resposta é a mais simples – serão tomadas medidas que não toquem nesta regra de ouro. Mas, se essas medidas não forem suficientes, o PS propõe uma mudança de paradigma: “Como temos dito – e escrevemos no documento económico do partido -, um dos erros maiores da política orçamental destes anos foi a de cortar rendimentos sempre que havia um desvio no défice”, diz a mesma fonte da direção socialista. “É preciso limitar muito as correções que sejam feitas por essa via, até porque elas não contribuem para o cumprimento das metas”, acrescenta ainda.[…]
Na entrevista que deu à RTP, Carlos César voltou a deixar claro que o PS não prescindirá de cumprir as regras do euro, mas introduziu uma variante no discurso, que mostra que o PS vai tentar carregar menos na consolidação orçamental. Em vez de falar de um compromisso com as metas definidas, mostra “um compromisso de uma trajetória orçamental” – ou seja, de redução gradual do défice. E juntou na mesma frase isto: “…e de defesa da recuperação dos rendimentos das pessoas e moderação fiscal”. […]
O que querem PCP e BE?
Para já, o que se sabe que está na mesa das negociações passa sobretudo pelo alívio de medidas de austeridade. Em pontos:
Devolução dos salários da função pública e das pensões na íntegra (o PS propunha devolução em dois anos, PCP e BE queriam reposição imediata). Nos salários, o acordo provável é o de uma reposição a cada trimestre, ao longo de 2016;
Eliminação da sobretaxa de IRS (o PS propunha eliminação em dois anos, PCP e BE queriam imediatamente) – é um ponto em aberto, segundo o DN desta segunda-feira;
Criação de mais escalões de IRS (havia oito antes da troika, agora há cinco). A ideia é dar mais rendimentos às classes mais baixas e, possivelmente, aumentar a carga fiscal sobre as médias/mais altas. O PS disse na campanha que não se comprometia enquanto não tivesse mais dados, para não inviabilizar as metas traçadas com a UE;
Aumento do salário mínimo (o valor atual é de 505 euros, PS propunha 522 e PCP e BE 600 euros). Também aqui não haverá acordo;
Baixa do IVA da restauração (todos de acordo em baixar para a taxa intermédia de 13%);
Baixa do IVA na eletricidade (PCP e BE querem baixar de 23% para 6%, como antes da troika, o PS nunca se comprometeu);
Reposição das 35 horas semanais de trabalho na função pública (onde todos estão de acordo);
Valorização da contratação coletiva;
Reposição de feriados (também com acordo geral);
Reforço do abono de família, subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego;
Reversão dos processos de concessão, subconcessão e privatização, designadamente das empresas de transportes (da TAP ao Metro de Lisboa, Carris, Metro do Porto e STCP, todos eles já adjudicados a empresas privadas);
Fim das taxas moderadoras no aborto.[…]
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/26/ps-jura-ao-pcp-e-be-4-anos-sem-cortar-salarios-nem-subir-irs/
Tal como já tinha referido na Revista da semana de há quinze dias o PC assume-se cada vez mais como o verdadeiro fiel da balança senão mesmo, como escrevi na altura, ” O “Partido comunista português” FOI O VENCEDOR DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2015?.
Em 16 de Outubro Jerónimo de Sousa afirmou que “o seu partido só viabiliza um Governo do PS, mas nada mais”
“Quanto a um entendimento à esquerda que vá além da posse de um Governo do PS, Jerónimo de Sousa meteu gelo na discussão, afirmando que o “caminho não é fácil”, pois os três partidos partem de “programas e pressupostos diferentes”.
Lembrou ainda que, na campanha eleitoral, o “PCP sempre manifestou “a distância a que o programa do PS está da rutura com as políticas da direita”.
Agora e conforme artigo de Miguel Santos/Observador (2015/10/30), após o Presidente da República dar posse ao novo governo declarou
O PCP respeitará o Tratado Orçamental? “Obviamente, nós não fazemos isso”
Em entrevista, Jerónimo deixou claro que o PCP nunca respeitará o Tratado Orçamental. Falou ainda na necessidade de avançar para o controlo público da banca e disse desconhecer acordo do PS com o BE.
Deste modo tudo ficará em suspenso até 10 de Novembro, incluindo o processo da “dita” apresentação da ou das moções de rejeição do programa de governo.
Entre os vários artigos publicados sobre a posse do novo governo e porque entendo que a história passada nos ajuda a compreender o presente, escolhi o que apresento de seguida da autoria de Miguel Santos, Diogo Queirós de Andrade, Inês Mendes/Observador (31/10/2015)
10 terramotos políticos de novembro
A chuva fria de novembro já provocou grandes terramotos políticos em Portugal. Em 2015, a “morte anunciada” do Governo de Passos Coelho pode juntar-se à lista dos sismos que abalaram o país político.
ANTONIO ACOTRIM/LUSA
9h30. 1 de novembro de 1755. A cidade de Lisboa era abalada por um sismo de proporções catastróficas – o mais violento de que há registo em Portugal. Grande parte da capital ficou reduzida a cinzas por um terramoto que deixou um país a chorar as vítimas e meia Europa em estado de choque. Mas o mês de novembro é, em Portugal, sinónimo de outro tipo de terramotos: os políticos. Desde a fuga família real portuguesa para o Brasil, a 27 de novembro de 1807, até à tentativa de golpe militar, a 25 de novembro de 1975. Em 2015, novembro poderá ficar associado à queda do Governo de Pedro Passos Coelho.
29/11/1807 – A família real portuguesa embarca para o Brasil
Embarque da família real portuguesa no cais de Belém. Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal
O Império de Bonaparte reconfigurou as forças na Europa no final do século XVIII e forçou uma aliança com a família real espanhola. As ambições francesas chegavam a Portugal, pois a ideia de Napoleão era aprisionar e depor a família real que seria substituída por alguém da confiança do Imperador francês.[…]
12/11/1975 – Cerco à Assembleia Constituinte, por operários da construção civil
De repente, já não havia como escapar. Todas as portas do Palácio de São Bento estavam fechadas. Lá dentro, algumas centenas de deputados, funcionários e membros do governo. Lá fora, vários milhares de trabalhadores da construção civil. Os sentimentos dos primeiros variavam entre o medo, a apreensão e a raiva. Os sentimentos dos segundos não variavam – todos estavam furiosos.[…]
25/11/1975 – Tentativa de golpe militar, por parte dos paraquedistas de Tancos e da Polícia Militar
Em dois dias a situação fica resolvida, não sem situações caricatas, como a que fica imortalizada nesta reportagem de Adelino Gomes para a RTP.
Na sequência da tentativa de golpe, alguns militares revoltosos são presos, o CopCon é dissolvido e Eanes é feito General e Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Em menos de uma semana Sá Carneiro e Mário Soares apontam o dedo a Álvaro Cunhal, acusando os comunistas pela tentativa de golpe. E foi aí que nasceu o conceito do ‘arco da governação’, excluindo os comunistas do exercício do poder democrático graças à sua preferência pela via revolucionária.
A guerra civil esteve por um fio neste dia que hoje é celebrado como o toque de finados do período revolucionário e o do nascimento da estabilização democrática em Portugal.
22/11/1978 – Entra em funções o II Governo de iniciativa presidencial, com Mota Pinto nas funções de primeiro-ministro
Fonte: Arquivo PSD
1 de agosto de 1979. “Não aceitei o cargo para, irresponsavelmente, governar sem governar. Governar tem de ser reformar ativamente. Este Governo tinha de ser um Governo de viragem, banindo de vez as habilidades dos que tudo confundem e nada esclarecesse e muito menos resolvem. À voz do Partido Comunista, juntou-se a do Partido Socialista. E ambos deram as mãos na Assembleia da República, no sentido de obstruir a ação do Governo”.
Mota Pinto pede a demissão[…]
11/11/1982 – Rejeitado o projeto do PCP sobre a despenalização do aborto.
A proposta não foi aceite, mas a sua discussão ficou marcada pela troca de golpes entre João Morgado, deputado do CDS, e Natália Correia, deputada do PS. Durante o debate em torno da despenalização do aborto, João Morgado começa por argumentar que “o ato sexual é para ter filhos”. Natália Correia, do PPD, não deixou os créditos por mãos alheias e respondeu à altura, com um poema improvisado na altura que ficaria imortalizado:
“Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado”.
6/11/1985 – O governo de minoria de Cavaco Silva toma posse.
Reza a história, contada pelo próprio: Cavaco Silva foi fazer a rodagem do Citroën BX novinho em folha, de Boliqueime até à Figueira, sem “qualquer intenção de ser eleito líder do PSD”. Reza a história: a liderança de Cavaco Silva no PSD começou graças ao homem e às circunstâncias do partido. No ido mês de maio de 1985, a “mó trituradora” que era o PSD chorava um líder, Mota Pinto, falecido 10 dias antes. Cavaco ganhou o congresso, depois de chegar atrasado aos trabalhos e depois de entregar a lista fora de horas com assinaturas forjadas por Alberto João Jardim. Estava feito o homem político e as suas circunstâncias, mas não por três meses, como alguns vaticinaram – o “fado” ou o “destino” dura há 30 anos.[…]
Em abril de 1987, o PRD, dirigido nos bastidores por Ramalho Eanes, apresentava uma moção de censura para derrubar o Governo de Cavaco. O PS e a APU (coligação que juntava o PCP e o MDP) decidiram suportar a moção e o Executivo social-democrata caiu. Mário Soares, eleito Presidente da República em 1986, decidiu então dissolver a Assembleia e convocar eleições.[…]
19/11/1987 – Cicciolina visita a Assembleia da República e mostra as mamas aos deputados portugueses
Um verdadeiro furacão italiano. Ou terramoto, neste caso. Em 1987, Cicciolina, a conhecida atriz pornográfica e deputada italiana, vem a Portugal, visita a Assembleia da República sem convite e deixa todos os deputados de boca aberta. Em São Bento, quando todos os olhares já estavam concentrados nela, deixa descair propositadamente as alças do vestido, revelando as mamas.[…]
17/11/1992 – Assembleia da República aprova nova revisão constitucional, tendo em vista a adequação ao Tratado de Maastricht
A revisão constitucional de 1992, assim com a que se seguiu, em 1997, vieram a adaptar o texto constitucional aos princípios dos Tratados de Maastricht e de Amesterdão.
Com Maastricht, Portugal colocava-se na antecâmara do projeto da moeda única. Mas era também com Maastricht que chegava o reforço das regras orçamentais e do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Era a resposta da comunidade europeia à maior crise económica da sua história. E viria a servir de base ao tão contestado Tratado Orçamental.
Morria a CEE, nascia a União Europeia. Mas, apesar do admirável mundo novo que a União e o Euro prometiam, a discussão em Portugal foi tudo menos pacífica. O PSD de Cavaco Silva e o PS de Jorge Sampaio chegaram a acordo para a revisão constitucional, mas Manuel Monteiro, então líder do CDS, ameaçou deitar tudo por terra com uma proposta de referendo ao tratado.[…]
23/11/1997 – Remodelação no Governo de António Guterres, com António Costa a assumir a pasta dos Assuntos Parlamentares e José Sócrates a de ministro-adjunto do primeiro-ministro.
Dois anos após a entrada em funções do primeiro executivo de António Guterres, ocorreu uma remodelação nas principais fileiras do Governo. Com ela, saltaram para a primeira linha figuras hoje bem conhecidas do panorama político português.
Desde logo, António Costa. O agora líder socialista ocupava até meados de novembro de 1997 o cargo de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, até ser promovido a ministro de uma pasta-chave do Governo de António Guterres – sem maioria, o socialista estava obrigado a construir compromisso. Foi aí, quando era ministro dos Assuntos Parlamentares, que o jovem António Costa começou a desenvolver a fama de construtor de pontes que ainda hoje o persegue.[…]
30/11/2004 – Jorge Sampaio dissolve a Assembleia de República e, consequentemente, o governo em funções que era dirigido por Santana Lopes.
Cavaco Silva, mas também Santana Lopes. Os dois tiveram tomadas de posse acidentadas
O que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Tudo começou numa atribulada tomada de posse. Ou semanas antes, a bem do rigor. Durão Barroso deixara o cargo de primeiro-ministro para liderar a Comissão Europeia e Santana Lopes, a contragosto, como revelou mais tarde, acedeu substituí-lo à frente dos destinos do país. Mas Jorge Sampaio tinha muitas reservas em dar posse ao novo Governo e colocou uma série de exigências a Santana – o social-democrata chegou, inclusive, a levar o nome de vários ministros a São Bento para tranquilizar o Presidente da República. Com maior ou menor esforço, todas as resistências de Sampaio acabariam por ser ultrapassadas e começava aí a história de um Governo curto, onde aconteceu tudo.[…]
Jorge Sampaio justificou a sua decisão de dissolver o Parlamento com a existência de «uma grave crise de credibilidade do Governo» motivada por «uma série de episódios» e apontou também «sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo e das instituições em geral. O resto da história é conhecido: nas eleições seguintes, José Sócrates arrasa a concorrência e vence com maioria absoluta – a única da história do PS.
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/31/10-terramotos-politicos-novembro/
Em declarações à Lusa (30/10/2015)
Eanes preocupado com “crispação” entre dirigentes políticos
RUI OCHÔA
O antigo Presidente da República admite a existência de alguma tensão durante o confronto democrático, mas critica a “crispação desnecessária” entre líderes políticos
O general Ramalho Eanes defendeu esta sexta-feira que o atual momento político é uma “situação democrática normal” e disse ver com preocupação a posição de dirigentes políticos que têm “crispado desnecessariamente” a situação.
O ex-Presidente da República salientou que a democracia é um regime político do qual fazem parte o conflito de ideias, de interesses, “um conflito permanente”, mas “contido, tolerante, civil, porque não utiliza armas, utiliza os tribunais e o voto”.[…]
“Não podemos olhar para a democracia como o regime da economia de meios. A democracia são as eleições, são as escolhas das eleições, é o tempo que as instituições demoram para se estabelecer, para receber os novos titulares”, sublinhou.[…]
Ler todo o artigo em: http://expresso.sapo.pt/politica/2015-10-30-Eanes-preocupado-com-crispacao-entre-dirigentes-politicos-
Merece também particular destaque o artigo de Miguel Carvalho/Visão de 30/10/2015
Eles querem ver a direita na rua
Arquivo EXPRESSO
Quem são os três desconhecidos que convocaram “manifs”, uma petição contra o Governo de esquerda e estão a agitar as redes sociais?
Joana é do PSD e quer novas eleições. Mário é dirigente do CDS e não receia o confronto. Horácio admira Putin e teme que Portugal se transforme num País comunista. São três, dois do Porto e um de Lisboa, inconformados com a possibilidade de existir um governo de esquerda. Nas redes sociais, decidiram convocar manifestações para o próximo dia 10, em Lisboa e Porto, e lançar uma petição com o mesmo objetivo: apoiar a indigitação do Governo PSD/CDS e impedir um Executivo liderado pelo PS, com apoio do BE e do PCP. Quem são eles?[…]
Ler todo o artigo em: http://visao.sapo.pt/atualidade/2015-10-30-Eles-querem-ver-a-direita-na-rua
Independentemente de manifestações, declarações politicas e sociais, quem vai decidir são os deputados na Assembleia da República.
Sabe quais são as regalias dos deputados? – Artigo de Inês Mendes/Observador (28/10/2015)
Ascenso Simões enviou carta ao Presidente da AR, em que declara prescindir de algumas das regalias que acompanham o cargo de deputado, como a imunidade parlamentar.
Sabe quais são as regalias de que os deputados à Assembleia da República (AR) usufruem?
Estes são os benefícios dos deputados, consagrados no Estatuto dos Deputados:
Imunidade parlamentar
Os deputados em funções não podem ser detidos sem a autorização prévia da Assembleia da República, a não ser por “crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos e em flagrante delito”, salvaguarda o Estatuto dos Deputados.[…]
Obtenção e licença de porte de arma
Livre trânsito mediante apresentação do cartão de deputado (mesmo quando não em funções parlamentares), em locais públicos de acesso condicionado
Prioridade de reserva de passagens aéreas
Passaporte diplomático por legislatura, renovado em cada sessão legislativa
Remunerações e subsídios que a lei prescrever
* Editado por Helena Pereira
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/28/sabe-quais-sao-as-regalias-dos-deputados/
Ler também “Estatuto dos deputados” em:
http://www.parlamento.pt/legislacao/documents/legislacao_anotada/estatutodeputados_simples.pdf
Na politica Internacional merece destaque, entre outras, a situação na Síria
Irão admite possível queda do regime de Bashar Al-Assad – Jornal I (30/10/2015)
Reunião em Viena onde foi discutida a situação na Síria Fotografia cedida pelo Departamento EUA
Numa altura em que decorreram as negociações para se encontrarem soluções para a guerra civil síria, o Irão surpreende com as declarações feitas pelo vice-ministro do Exterior do Irão, Amir Abdollahian.
O Irão admitiu que aceitaria um possível afastamento do presidente sírio Bashar Al-Assad se isso significasse pôr fim aos quase cinco anos de guerra civil.[…]
A reunião contou com a presença de delegações de 17 países, incluindo EUA, Reino Unido, Egipto, Alemanha, França e Turquia, bem como representantes da ONU e da União Europeia. Fora das conversações estiveram os representantes do regime sírio de Bashar Al-Assad e da oposição.
Ler todo o artigo em: http://www.ionline.pt/artigo/419714/irao-admite-possivel-queda-do-regime-de-bashar-al-assad?seccao=Mundo_i#close
Ainda sobre a situação e conforme artigo de Miguel Santos/Observador (31/10/2015)
Obama vai enviar tropas para Síria
O Presidente norte-americano vai enviar uma equipa de forças especiais para a Síria, com o objetivo de combater o Estado Islâmico.
John Moore/Getty Images
O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, autorizou esta sexta-feira um destacamento de 50 agentes das forças especiais norte-americanas que se vão juntar aos rebeldes moderados no combate ao Estado Islâmico.
A notícia está a ser avançada por vários órgãos de comunicação internacionais que citam fontes autorizadas da Casa Branca. A decisão de enviar tropas para o terreno parece contrariar a promessa de Barack Obama de não enviar militares para o território sírio e iraquiano, como lembra o jornal Guardian. Os Estados Unidos têm ajudado a travar a ofensiva do Estado Islâmico liderando e organizando uma coligação internacional que tem bombardeado vários pontos estratégicos da organização terrorista.[…]
“O nosso principal objetivo de enfraquecer e destruir o Estado Islâmico não mudou. Temos sido sempre claros ao dizer que esta seria uma campanha de vários anos“, lembrou uma alto funcionário do Governo norte-americano, citado pela publicação britânica.[…]
Além destas duas frentes, os Estados Unidos vão também reforçar a assistência militar na Jordânia e no Líbano, para ajudar os respetivos governos a travarem a ameaça do Estado Islâmico. Para já, o Presidente norte-americano autorizou a mobilização de vários caças A-10 e F-15, para a base de Incirlik, na Turquia.
Em setembro de 2013, Barack Obama deixou a garantia de que o seu Executivo não “ia pôr ‘botas’ americanas na Síria”. “Eu não vou prosseguir uma ação de duração indeterminada, como aconteceu no Iraque e no Afeganistão”, disse mesmo na altura.
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/30/obama-vai-enviar-tropas-siria/
Enquanto se vão fazendo reuniões a situação dos refugiados que fogem da morte, continua sem soluções reais há vista. Entre os vários artigos publicados apresento o que recolhi do “jornal I” do dia 30/10/2015
REFUGIADOS NOS BALCÃS – Texto de Joana Azevedo Viana e fotos de João Couto C.
Muitos na Sérvia e na Croácia não ficam indiferentes à passagem de milhares de pessoas pela chamada rota dos Balcãs. As pessoas aqui sabem o que é a guerra e o que é ser refugiado em países que lhes são estranhos. Viveram mesmo durante a Segunda Guerra e de novo nos anos 90, quando a guerra dos Balcãs marcou a ferro e fogo as populações desta região da Europa
Só um punhado de sérvios sabe hoje quem foi Peter Egner, sobretudo gente mais velha, que não esquece as atrocidades cometidas pelos nazis em Belgrado. Quando chegaram à capital da então Jugoslávia, em 1941, as forças de Adolf Hitler transformaram a feira internacional do orgulho jugoslavo, uma espécie de Expo 98 criada em 1937, num campo de concentração para prender e executar judeus, comunistas, ciganos e opositores. O campo era tão próximo do centro da velha Belgrado, apenas separado pelo rio Sava, que os habitantes da outra margem conseguiam ouvir os gritos das pessoas que, todos os dias, eram executadas às centenas pelos alemães.[…]
Ao abandono
Chamam-lhe o “campo de concentração esquecido”, apesar de ter sido ali que milhares de judeus de Belgrado, mais outros milhares de pessoas trazidas da Checoslováquia e da Áustria, foram mortos pelos membros dos Einsatzgruppen.
“É o único campo da Europa muito visível, os prisioneiros não eram escondidos do resto da população, e isso foi intencional”, contava em 2003 Aleksandar Mošić, que criou a Associação Memorial Sajmište para que ninguém esqueça para o que serviu aquele espaço – hoje ocupado por casas de famílias ciganas e ateliês de artistas, com um passado impossível de adivinhar se não fosse a pequena placa que ali foi posta, no meio de um arvoredo, a explicar que a feira foi palco de execuções em massa. “Queriam intimidar os sérvios mostrando-lhes o que se passava ali, porque os sérvios eram muito mais corajosos na resistência aos fascistas que outros países”, escreveu Mošić no livro “Os Judeus em Belgrado”. Antes da Segunda Guerra Mundial viviam cerca de 10 400 judeus em Belgrado e quase 16 mil em toda a Sérvia. Mais de 24 mil foram mortos no Holocausto. Mošić e o pai, que se refugiaram em Split, na actual Croácia, foram dos poucos sobreviventes.[…]
Conta-se que o chefe das SS, Heinrich Himmler, deu ordens para esta alteração de técnica porque estava a ficar preocupado com a saúde mental dos carrascos que, todos os dias, fuzilavam pessoas à beira do Sava e noutras partes da Sérvia. Quando passaram a usar carrinhas de gaseamento, onde depois transportavam os corpos para valas comuns longe da cidade, os nazis já tinham matado quase todos os homens adultos. As vítimas do asfixiamento aberrante em Belgrado foram sobretudo mulheres e crianças, mais de 8 mil, 50 de cada vez.
Staro Sajmište tornou-se um dos mais importantes pontos estratégicos do plano de acção de Hitler. Para ali eram levados prisioneiros de toda a Jugoslávia e países circundantes. Tão importante que uma das primeiras coisas que os nazis fizeram quando aqui chegaram foi construir uma ponte a ligar as duas margens do rio Sava; a única que existia até então estava longe do centro. Anos mais tarde, prevendo a derrota iminente, as forças nazis bateram em retirada e armadilharam com explosivos a ponte Stari Savski, uma das seis que hoje existem na capital sérvia.[…]
Onde pára a memória
Existe um website dedicado ao Staro Sajmište, com documentação, entrevistas a sobreviventes e os planos de transformar o local num monumento da Sérvia que mantenha viva a memória das vítimas do Holocausto na Jugoslávia. Contudo, parece estar tão ao abandono como o próprio local, denunciando que a última visita de grupo organizada pelos defensores da memória colectiva aconteceu em 2012.[…]
Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, as autoridades jugoslavas começaram a atribuir os espaços nos edifícios ao abandono a artistas emergentes, que ali criaram os seus ateliês. É o que nos conta Slobodan Čočić, um arquitecto de Belgrado cujo melhor amigo chegou a pintar alguns quadros em Staro Sajmište. Ao longo dos anos, as famílias mais pobres foram ocupando outros espaços do recinto da feira tornada campo de concentração tornada parque ao abandono, encontrando um abrigo que até hoje ninguém lhes tirou mas contribuindo inadvertidamente para apagar a memória do que ali aconteceu em meados do século XX.[…]
Saber a fuga de cor
Milos e a mulher, Zorica, têm dedicado todo o seu tempo livre a cozinhar comida vegetariana para distribuir nos parques centrais de Savamala, a artéria ribeirinha de Belgrado que alberga a estação central de comboios, o terminal de autocarros e, desde Agosto, milhares de refugiados que invariavelmente passam por aqui a caminho dos países nórdicos. Hoje trouxeram o filho de cinco anos, Srjan, para um dos parques, antes de o levarem na sua primeira viagem à Índia.[…]
Em 1992, um ano depois do início da guerra, a tanto a Áustria como a Hungria davam abrigo a 50 mil refugiados jugoslavos, a Suécia a 40 mil, a Suíça a 13 mil, a Holanda a 4 mil e Itália a 7 mil pessoas. A Alemanha encimava a lista, como agora, dando asilo a 200 mil refugiados no primeiro ano. Na altura as críticas recaíam sobre o Reino Unido, França, Espanha e Portugal, que continuavam a recusar-se a seguir o exemplo e a aliviar os países que mais gente acolhiam. No final da guerra, a 14 de Dezembro de 1995, o saldo de refugiados estava bem acima das mais de 600 mil pessoas que, 20 anos depois, já fugiram para a Europa desde Janeiro deste ano — encontrando ironicamente nos Balcãs a rota mais segura para chegarem à Alemanha, pelo menos até agora.[…]
“Eu nem sabia falar inglês”
Hoje há agentes da polícia que parecem ter corações empedernidos, como um croata que, na estação de Tovarnik, na fronteira com a cidade sérvia de Šid, tenta ignorar os risos marotos de um miúdo sírio que tenta incitá-lo à brincadeira. […]
Os casos destes agentes – talvez cansados dos turnos de 24 horas à chuva que outros colegas, mais simpáticos, denunciam –, e sobretudo a postura dos actuais governos destes países chocam de frente com o genuíno entusiasmo da sociedade civil, de famílias sérvias como a de Milos ou de Karoljna, uma rapariga de 19 anos nascida e criada em Tovarnik que se juntou à Cruz Vermelha Croata assim que os milhares de refugiados começaram a passar por aqui, depois de a Hungria fechar totalmente a fronteira com a Sérvia, a 15 de Setembro.[…]
Karoljna desculpa-se várias vezes pelo seu inglês, quer falar mas às vezes faltam-lhe as palavras. “Eu nem sabia falar inglês antes disto.[…]
Antes de as autoridades se organizarem para gerir estas passagens no território croata, diz Karoljna, os refugiados apareciam de todo o lado, pelo meio das florestas, por várias passagens não oficiais nas fronteiras, e iam parar às pequenas terriolas esfarrapados, com fome e sede. “Ninguém lhes fez mal, ninguém lhes disse que não”, diz a rainha de Tovarnik, os grandes olhos castanhos a brilharem de emoção. “Toda a gente os ajudou porque toda a gente se lembra. Ninguém esquece a guerra.”
Nota: Os jornalistas viajam no âmbito do projecto “Aquele Outro Mundo que é o Mundo”, promovido pela ACEP, CEsA, seisXX e Coolpolitics, com o apoio do Instituto Camões e da Fundação Gulbenkian
O artigo é extenso mas recomendo a sua leitura
Ler todo o artigo em: http://www.ionline.pt/artigo/419751/refugiados-nos-balcas-anatomia-de-milhares-de-fugas-em-tr-s-actos?seccao=bi
Sobre o tema dos refugiados e para que não esqueçamos a história, Ricardo Silva no “Expresso diário” de 29/10/2015, apresenta um texto notável a que dá o título
Em busca de (nova) vida e que começa assim
As vagas de refugiados e migrantes são cíclicas desde o início dos tempos, por todo o mundo. Na edição de hoje, contamos as primeiras perseguições e migrações em grande escala na Europa, que começaram logo com o antissemitismo do século XIII. Na edição de amanhã, abordaremos as do século XX até à atualidade
No final desta “revista da semana” transcrevo os artigos publicados pelo Expresso Diário em 29 e 30/10/2015. Não deixem de ler.
Mas outros temas merecem também destaque, pelas implicações internacionais que terão
Direita ultraconservadora alcança maioria absoluta na Polónia
Artigo de David Santiago/Jornal de negócios (28/10/2015)
O partido nacionalista e eurocéptico conseguiu mesmo chegar à maioria absoluta nas eleições realizadas no passado domingo. O Lei e Justiça chegou aos 37,58% dos votos, o que lhe garante 235 assentos na câmara baixa do Parlamento polaco.
As eleições polacas resultaram mesmo numa maioria absoluta para o partido Lei e Justiça (PiS). De acordo com os dados oficiais divulgados pelas autoridades polacas, aquele partido conservador, nacionalista e eurocéptico alcançou 37,58% dos votos, o que lhe garante 235 deputados no total de 460 que compõem a câmara baixa do parlamento polaco. […]
A vitória do eurocéptico PiS também poderá significar uma mudança nas políticas pró-União Europeia seguidas pela PO. O PiS, além de se opor à política europeia relativa às crises migratória e dos refugiados, também tem uma posição mais céptica face à adesão polaca ao euro. Por outro lado, o PiS tem desde há algum tempo defendido a NATO mantenha uma posição permanente em solo polaco, de forma a dissuadir a alegada ameaça russa.
Ler todo o artigo em: http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/eleicoes/detalhe/direita_ultraconservadora_alcanca_maioria_absoluta_na_polonia.html
Argentina elege novo Presidente em inédita segunda volta – Revista Visão (26/10/2015)
Reuters
A Argentina vai escolher, a 22 de novembro, numa inédita segunda volta, o seu novo Presidente, entre o ‘kirchnerista’ Daniel Scioli e o conservador Mauricio Macri, já que nenhum candidato obteve os votos suficientes nas eleições de domingo
Quando estavam apurados mais de dois terços dos votos, Mauricio Macri liderava a contagem, com 36%, contra 35% de Daniel Scioli.[…]
Ler todo o artigo em: http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2015-10-26-Argentina-elege-novo-Presidente-em-inedita-segunda-volta
Acabou a limitação de os chineses só poderem ter um filho, norma que vigorava há 35 anos
Expresso diário 29/10/2015 – POR JOSÉ CARDOSO (Editor Adjunto)
No dia em que veio da China uma notícia que é quase uma revolução (acabou a limitação de os chineses só poderem ter um filho, norma que vigorava há 35 anos), chegou também um dado que é tão importante para a China como para o resto do Mundo: Pequim abandona meta política de 7% de crescimento. O Jorge Nascimento Rodrigues conta, nesta edição, que a maioria dos economistas chineses aponta para um crescimento médio anual de 6,5% até 2020. É bem menos do que as previsões, é. Mas é o suficiente para duplicar o PIB per capita chinês numa década.
Comediante Jimmy Morales é o novo presidente da Guatemala – Lusa/DN (26/10/2015)
REUTERS/JOSE CABEZAS
Morales, animador de televisão sem nenhuma experiência política, venceu com 67 por cento dos votos
O comediante evangélico Jimmy Morales venceu no domingo a segunda volta das eleições presidenciais na Guatemala com um resultado histórico, que duplica a votação da sua rival, Sandra Torres.
Com 100% das mesas escrutinadas (num total de 19.582), Morales, de 46 anos, da Frente de Convergência Nacional, foi eleito Presidente daquele país centro-americano com 67,43% dos votos
A sua rival, a ex-primeira-dama Sandra Torres, da Unidade Nacional da Esperança (UNE), granjeou apenas 32,57% dos votos.[…]
Ler todo o artigo em: http://www.dn.pt/mundo/interior/comediante-jimmy-morales-e-o-novo-presidente-da-guatemala-4855006.html
No próximo dia 11 de novembro, Angola fará 40 anos de independência.
No “Expresso curto” de 26/10/2015 – João Vieira Pereira escreve:
40 anos depois da independência, Angola, um país que podia ser uma potência económica de África, enfrenta um momento económico e político, no mínimo, complicado. Mas em Portugal os cidadãos angolanos continuam a ser recebidos de braços abertos em todas as esferas da sociedade. E quem não vê isso ou é míope ou não é sério. Se existe algum problema entre Portugal e Angola esse é provocado pelo país africano e incentivado pela atitude passiva e temerosa dos governos portugueses.
Sobre Angola veja-se o artigo de Francisco Galope – VISÃO (29/10/2015)
Angola: O fim da miragem
DR
Se alguma vez existiu um Eldorado em Angola, tinha pés de barro e desmoronou-se. VEJA OS GRÁFICOS
Com a cotação dos preços do crude a afundar-se nos mercados mundiais, o valor das exportações petrolíferas angolanas deverá fechar o ano 60% abaixo do registado em 2013. Com o caudal de petrodólares reduzido, Angola está à míngua de divisas. Encomenda menos, consome menos, atrasa pagamentos.[…]
A situação pode ter repercussões graves na ainda frágil economia portuguesa. Melhoras só em 2017, diz o FMI com muitos “ses” e “mas”…
Ler em: http://visao.sapo.pt/actualidade/economia/2015-10-29-Angola-O-fim-da-miragem
Outras noticias da área da economia portuguesa. Para além da débil situação nos Bancos BANIF, e MONTEPIO, continua sem solução à vista o NOVO BANCO.
Ex-secretário de Estado dos Transportes será contratado pelo Fundo de Resolução através de um contrato de prestação de serviços, que terá a duração necessária até à venda do banco – Artigo de João Vieira Pereira/Expresso (29/10/2015)
ALBERTO FRIAS
Sérgio Monteiro vendeu quase tudo o que havia para vender no Estado enquanto passou pelo Governo. Agora que saiu vai continuar a fazer aquilo que o notabilizou, ao ser contratado para vender o Novo Banco.
O ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações vai tornar-se a peça fundamental em todo o processo de alienação do Novo Banco. Uma espécie de PMO (project management officer) que será responsável máximo pela venda.[…]
Ler todo o artigo em: http://expresso.sapo.pt/economia/2015-10-29-Sergio-Monteiro-vai-vender-Novo-Banco
Também na Grécia a situação dos Bancos está complicada, conforme notícia da Agência Lusa/Observador (31/10/2015)
Quatro bancos gregos precisam de 14,4 mil milhões de euros para tapar ‘buraco’
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje que os quatro maiores bancos gregos precisarão de 14,4 mil milhões de euros se a economia enfrentar os piores cenários.
JENS BUETTNER/EPA
O BCE, que divulgou hoje os testes de solidez da banca grega, refere que, no que concerne aos quatro bancos – Alpha Bank, Eurobank, NBG e Piraeus Bank -, as administrações deverão submeter um plano até 6 de novembro explicando como tencionam preencher o ‘buraco’ de capital.
TRADIÇÃO
A história do Dia de Todos os Santos. Que quase morreu com o Halloween
Artigo de Maria Leite Ferreia/Observador (30/10/2015)
Doçuras e travessas, bruxas e santos, celtas e americanos. Este fim de semana celebra-se a vida… e a morte. O que têm o Halloween e Todos os Santos em comum? Uma linha ténue entre a Terra e o Além.
Para alguns, durante os dias 31 de outubro, 1 e 2 de novembro os vivos conseguem contactar com os mortos
DANIEL MIHAILESCU/AFP/Getty Images
Todos os anos, na manhã de 1 de novembro, Maria do Céu sai de casa para entrar no cemitério de Taveiro, em Coimbra. Ao lado do portão de metal, que tem a cruz de Cristo num lado e uma caveira do outro, há sempre uma florista com plantas da época. Maria do Céu é cliente fiel da florista e compra orquídeas, gipsófilas, fetos reais e crisântemos. Um grande ramo de flores, suficiente para homenagear todos os membros da família que já morreram.[…]
É assim — com pequenas variações ao longo do País –, que se vive o Dia de Todos os Santos, em Portugal. Ou se vivia, até 2012, ano em a crise obrigou a diminuir o número de feriados – civis e religiosos -, e a Igreja cedeu o seu 1 de novembro. Agora, o hábito é cumprir estes rituais no domingo anterior à data. Antes as campas, de terra, eram cobertas por completo de flores, de forma muito semelhante ao que acontece na celebração do Dia dos Mortos no México.
Mas quando começou esta celebração?
A origem do Dia de Todos os Santos
Para chegarmos à implementação do Dia de Todos os Santos é preciso recuar ao tempo dos celtas. Este povo que passou pelo território que é hoje Portugal celebrava o arranque do inverno com dois objetivos: apaziguar os poderes do outro mundo – isto é, as forças do Além, onde estariam as almas dos mortos – e pedir a abundância nas colheitas futuras.
Quem o explica é o padre Anselmo Borges, teólogo e professor da Universidade de Coimbra. Nesta festa, a Samhain, os celtas recordavam os antepassados “concentrando o sagrado num tempo e lugar determinados”. Depois acendiam o “primeiro fogo”, que tinha um outro significado: a vida.
Ilustração da festa celebrada pelos celtas. Créditos: History Stuff
O Samhain era celebrado aquando da chegada do inverno, quando a natureza parecia estar “adormecida”. À época, os celtas usavam um calendário lunar que dividia o ano em duas épocas, quente e fria. Depois de tempos de fertilidade, era altura de manter a esperança em boas colheitas. Como? Acendendo a tal fogueira, contrariando o ambiente sombrio da noite que chegava cedo, organizando verdadeiros banquetes e bebendo “até perder a razão”, como descreve o padre Anselmo Borges. Era o réveillon da fé celta.[…]
O Dia de Todos os Santos nasceu quando Gregório IV estava em frente à Igreja Católica.
Imagem do Papa Gregório IV. Créditos: Wikimedia Commons
Estávamos no ano 835 d.C.. O processo de Cristianização – conversão ao credo cristão – continuava através da proliferação dos ensinamentos dispostos na Bíblia. Foi por isso que o Papa Gregório IV escolheu o dia 1 de novembro para celebrar todos aqueles que morreram com “uma vida plenamente realizada, que são exemplos de vida e estão na glória de Deus”. Neste dia, acredita-se que a fronteira entre a vida na Terra e a vida divina estava enfraquecida e portanto podia haver “contacto entre os vivos e os mortos do Além”. É uma forma de homenagear “os heróis da fé”, acrescenta o padre.
Imagem ilustrativa do processo de Cristianização. Créditos: Wikimedia Commons
Este é um capítulo da história, mas a criação do Dia de Todos os Santos também juntou o útil ao agradável. De acordo com a explicação do padre Anselmo Borges, os cristãos já celebravam os mártires, aqueles que celebravam até à morte a obra e a palavra de Jesus, no século II. A Igreja Católica festejava a vida de um santo em cada dia do ano e este era um modo de venerar aqueles que “intercediam a Jesus pelos humanos”. A certa altura, o número de santos aumentou (em consequência da perseguição dos romanos) e então foi necessário criar um dia em que se celebrassem todos eles.
Halloween: um Dia de Todos os Santos “made in USA”
Hoje, o Dia de Todos os Santos está influenciado por um fenómeno americano cuja celebração atravessou o Oceano até chegar à Europa. O Halloween tem uma origem semelhante à festividade católica e surgiu nos Estados Unidos também por via dos celtas, ou seja, depois da emigração em massa dos irlandeses, povo de origem celta, para o continente americano no século XIX. Mas aqui, a festa ganhou outro cunho: a crença de que a barreira entre vivos e mortos está mais vulnerável nesse dia levou os americanos a procurar celebrar o contacto com forças sobrenaturais negativas, mais sombrias, misteriosas e maléficas.[…]
É também dos celtas que as celebrações do Halloween herdaram o típico jogo americano em que as pessoas tentam apanhar só com os dentes uma maçã dentro de uma taça cheia de água. Antigamente, os celtas acreditavam que o contacto com as entidades divinas podiam ajudá-los a entender o futuro e usavam esse jogo para tentar adivinhar com quem iriam casar.
E o Dia dos Finados?
Mas a festa não acaba aqui: a 2 de novembro ainda é dia de celebrar a vida e a morte. Apesar de as pessoas aproveitarem o antigo feriado de dia 1 ou o domingo mais próximo a este dia para homenagear os entes queridos que já partiram, o Dia dos Finados é oficialmente a 2. Com uma pequena diferença: é que os finados são aqueles que estão no purgatório à espera de julgamento antes de chegarem ao céu. Esta celebração foi implementada pelos monges de Cluny, em França, no século IX. A New Catholic Encyclopedia afirma que “durante toda a Idade Média era popular a crença de que, nesse dia, as almas no purgatório podiam aparecer em forma de fogo-fátuo, bruxa ou sapo”.[…]
Em Portugal, o dia 1 de novembro traz um outro marco da história. Foi neste dia, em 1755, que um grande terramoto sacudiu Lisboa e destruiu grande parte da capital, quando milhares de pessoas assistiam às missas do Dia de Todos os Santos. A partir daí, e para assinalar a data que destruiu as casas de várias pessoas atirando-as para a pobreza, as crianças corriam as ruas a pedir “pão por Deus” para receber comida.
Alegoria ao terramoto de 1755. Créditos: Wikimedia Commons
Ler todo o artigo em: http://observador.pt/2015/10/30/a-historia-do-dia-de-todos-os-santos-que-quase-morreu-com-o-halloween/
Professores em Portugal – Visão (30/10/2015)
Fabrizio Bensch / Reuters
Esta semana, a rubrica em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos trata ao detalhe o tema dos professores, ainda no âmbito do mês da Educação
FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
A encerrar a reflexão no âmbito do Mês da Educação, a FFMS apresenta um conjunto de informação sobre os professores, agentes fundamentais no processo educativo, e a sua formação.[…]
Em 2014, existiam, em Portugal, 141.250 professores no Ensino Não-Superior – desde a Educação Pré-Escolar até ao 12.º ano. De modo geral, o número de professores cresceu em contínuo até 2005, altura a partir da qual desceu, embora com flutuações.
Destaca-se o acréscimo de docentes na Educação Pré-Escolar – em 1961 eram 226, em 2014 eram 16143.
No Ensino Superior, existiam, em 2014, 32.346 docentes.
Em Portugal, tem-se assistido à feminização da profissão docente. Olhando para os docentes do Ensino Não-Superior de modo global, em 2014, três em cada quatro (77,4%) eram mulheres.
Esta situação é particularmente evidente na Educação Pré-Escolar, em que 99,1% dos docentes são mulheres.
Já no Ensino Superior, a situação inverte-se: apenas 44,4% são do sexo feminino. Na Europa, apenas em três países existem mais mulheres que homens a leccionar no Ensino Superior: Letónia, Lituânia e Finlândia (respectivamente com 56,3%, 55,5% e 50,7%).
O envelhecimento da profissão docente é também notório, ocupando Portugal um dos lugares cimeiros a nível europeu, apenas ultrapassado pela Itália, Bulgária e Grécia, no Ensino Não-Superior. Mas nem todo o país é igual. A título de exemplo, no 1.º ciclo de escolaridade, os municípios onde existem mais professores com 50 ou mais anos por 100 professores com menos de 35 anos são Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Valpaços. No extremo oposto estão Lagoa, Ferreira do Zêzere e Vizela.
Isto sublinha a necessidade da criação de políticas eficazes para atrair, recrutar e formar candidatos de qualidade e assegurar o seu desenvolvimento profissional contínuo.[…]
Estes e outros dados disponíveis em:
PORDATA (www.pordata.pt)
Formação de Professores: tendência e desafios (http://ffms.pt/conferencia-online/72/formacao-de-professores-tendencias-e-desafios-ii)
Ler todo o artigo em: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2015-10-30-Professores-em-Portugal
História do rock português por ele próprio – Luísa Oliveira/Visão (28/10/2015)
Estreia-se hoje à noite na RTP1 o documentário A Arte Elétrica em Portugal, baseado numa ideia de António-Pedro Vasconcelos. Nele contam-se as estórias do rock em Portugal, desde os anos 1960, dando voz aos seus protagonistas. Ainda se lembra de Lena d´Água, do Quarteto 1111 ou de Vítor Gomes?
Sim, fui eu a lançar a ideia, mas pouco mais do que isso, porque a seguir fui filmar Os Gatos não têm Vertigens”, responde o realizador António-Pedro Vasconcelos, assim que o interpelamos por telefone, a poucas horas da estreia da série A Arte Elétrica em Portugal, na RTP1. “Depois, entreguei esse projeto ao meu sócio Leandro Ferreira. Quer falar com ele? Ele está mesmo aqui ao lado…”
O telefone passa de mãos e continuamos a conversa com um dos realizadores (Pedro Clérigo também assina). Leandro explica que apadrinhou a ideia do sócio e amigo imediatamente. “Trata-se de um tema que me é especialmente querido.” Os seus 58 anos permitiram-lhe acompanhar o crescimento do rock em Portugal, primeiro em Ponte de Lima, pela mão do irmão mais velho, ao som dos Sheiks e dos Gatos Negros. Depois, já em Lisboa, não perdia um concerto, era habitué do Rock Rendez-Vous e até se tornou amigo de alguns dos protagonistas.[…]
A partir de hoje à noite, e todas as quartas às 23 horas, ouvir-se-á muita música em antena, misturada com imagens de arquivo. E quem sabe se a história terá continuidade depois de 2 de dezembro, data em que o último episódio passará. Os realizadores não perderam a esperança de ainda pôr um ponto final, porque esta série fica em 1993. To be continued?
Ler todo o artigo e ver fotos em: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2015-10-28-Historia-do-rock-portugues-por-ele-proprio
Como apagar o rasto de todas as suas pesquisas no Facebook – Revista Visão
Reuters
Aquela vez em que procurou o nome do seu “ex”? O Facebook guardou o registo. Quando tentou ver o perfil do chefe? Idem. Mas é possível, e simples, apagar este rasto de atividade
O Facebook mantém um registo de todos os movimentos dos utilizadores dentro da rede social: o que gostou, o que comentou, quem procurou. A razão é a mesma pela qual o Google também regista todas as pesquisas: torna a utilização mais fácil e personalizada: Se, por exemplo, pesquisar “revista VISÃO” no Facebook, na próxima vez que começar a digitar “re” verá a sugestão “revista VISÃO” aparecer automaticamente no campo de pesquisa.
Por defeito, a privacidade do histórico de busca do Facebook está definida de forma a que apenas o utilizador lhe possa ter acesso. Mas, como deve imaginar, não é difícil a um interessado furar a segurança, sobretudo se a sua password foi previsível ou deixar a sessão ligada no computador ou no telemóvel.
Eis como apagar esse registo:
– Primeiro, clique na barra de pesquisa do Facebook. Além das suas pesquisas recentes, terá a opção “editar” disponível. É aí que deve clicar:
Agora, já está a visualizar a página do histórico. Pode optar por apagar todas em “apagar pesquisas”, no canto superior direito, ou só algumas, escolhendo o círculo à frente de cada uma.
Ler todo o artigo em: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2015-10-01-Como-apagar-o-rasto-de-todas-as-suas-pesquisas-no-Facebook-1
Finalmente e como referido no inicio desta “Revista da Semana” transcrevo so artigos publicados pelo Expresso Diário em 29 e 30/10/2015. Não deixem de ler.
Em busca de (nova) vida – Ricardo Silva/Expresso (29/10/2015)
NOVO MUNDO. Chegada de migrantes à América, no século XIX
D.R.
As vagas de refugiados e migrantes são cíclicas desde o início dos tempos, por todo o mundo. Na edição de hoje, contamos as primeiras perseguições e migrações em grande escala na Europa, que começaram logo com o antissemitismo do século XIII. Na edição de amanhã, abordaremos as do século XX até à atualidade
Todos os dias repetia-se o mesmo cenário. Um barco aproximava-se com o convés cheio de gente onde o desespero e a tragédia preenchiam o olhar. Eram refugiados que fugiam de guerras e perseguições étnicas e religiosas, emigrantes que escapavam da miséria e de sociedades estagnadas e sem esperança. Quando o barco acostava, aquela massa humana desaguava no porto e as autoridades começavam a registar os seus nomes e nacionalidades. Eram uma amostra da babel de onde vinham, falavam em diversas línguas e traziam consigo a diversidade religiosa que os distinguia, mas apesar das diferenças todos partilhavam a mesma esperança, a de um destino melhor nos Estados Unidos.
Corria o século XIX, e aqueles refugiados não fugiam da fome em África ou de um conflito no Médio Oriente. Eram europeus que fugiam de um continente envolto em guerras que se renovavam constantemente, onde a fome matava milhões e os ódios nacionalistas originavam limpezas étnicas. As grandes potências travavam uma infindável série de lutas entre si e a religião continuava a dividir o continente e a dar lugar a massacres. A revoluição industrial dera à Europa o poder para dominar grande parte do mundo e criou fortunas incalculáveis, mas a maioria do seu povo continuava reduzido a uma pobreza atroz e a violência endémica, e o dia a dia era uma autentica luta pela sobrevivência, como Charles Dickens tao bem retratou nos seus romances.
UM GENOCIDIO NO REINO DE PORTUGAL
O antissemitismo foi das primeiras perseguições de grande escala a serem registadas na Europa, e logo em 1290 a Inglaterra expulsou os judeus da sua ilha. Em 1492 foi a vez dos Reis Católicos seguirem o seu exemplo e ordenarem a sua expulsão, tendo 93.000 procurado refúgio em Portugal, onde se juntaram a uma comunidade com séculos de vivência no nosso reino. A perseguição religiosa ainda não se fazia sentir com a mesma intensidade que em Castela. Porém, quatro anos mais tarde os judeus viram-se perante o dilema de se converterem ao cristianismo ou enfrentar a possibilidade de serem expulsos ou mortos. Muitos optaram por aceitar a conversão e tornaram-se cristãos-novos, mas a desconfiança nunca desapareceu e o perigo da perseguição manteve-se elevado.
No inicio do seculo XVI, enquanto os marinheiros lusos desbravavam os mares do Oriente, em Portugal a peste e a seca faziam crescer a tensão entre o povo. No dia 19 de Abril de 1506, as igrejas de Lisboa encontravam-se repletas de gente que rezava pelo regresso da chuva e o fim da doença. Naquele clima de elevado fervor religioso, o Convento de São Domingos acabou por ser palco de um episódio que poderia não ter tido maiores consequências, quando um crente jurou ter visto o rosto de Cristo iluminado no altar e os restantes entraram em euforia ao acreditarem estar na presença de um milagre.
No entanto, entre os presentes encontrava-se um cristão-novo que tentou explicar que o “milagre” na realidade era apenas um reflexo de luz, o que originou um momento de raiva cega entre os fieis que tomaram a sua explicação como uma demonstração de heresia. Logo ali foi espancado até à morte e não tardou muito para que o povo saísse à rua para acusar os judeus de todos os males que afligiam o reino.
Estava encontrado o bode expiatório, e o rastilho acendeu no momento em que alguns frades dominicanos prometeram a absolvição daqueles que matassem os hereges e assim expiassem os seus pecados. Uma multidão foi se formando e passado pouco tempo começaram a ser derrubadas as portas das casas onde moravam cristãos-novos. Homens, mulheres e crianças foram arrastados pelas ruas de Lisboa numa autentica orgia de violência que desembocava no Rossio, onde foram espancados, torturados e humilhados, terminando o seu purgatório em fogueiras improvisadas.
Durante os três dias que se seguiram, um cheiro enjoativo a carne queimada fez-se sentir na capital do reino e nem os gritos de dor dos que morriam foram capazes de causar compaixão entre a populaça que continuava a procura de novas vitimas para massacrar no Rossio.
Só a chegada das forças enviadas pelo rei pôs fim à mortandade, tendo D. Manuel I mandado enforcar os dominicanos que instigaram a violência e punido aqueles que se aproveitaram dela. Porem, o antissemitismo não cessou e quando passados alguns anos a Inquisição chegou a Portugal, voltaram as fogueiras no Rossio e a morte de judeus e cristãos-novos. Os que conseguiram escapar a perseguição abandonaram Portugal com as posses que podiam carregar consigo, seguindo para destinos onde a Inquisição ainda não tinha chegado. Foi o êxodo generalizado da comunidade judaica e a sua quase extinção no nosso país.
Porem, apesar da distância e da forma como tiveram de abandonar o reino, os refugiados mantiveram a cultura portuguesa viva ao longo dos anos e chegaram ao seculo XX orgulhosos das suas origem e identidade, formavam comunidades únicas no mundo e desapareceram apenas quando o Holocausto os aniquilou, perante a passividade do governo português, que desperdiçou a oportunidade de os salvar e compensar pelas injustiças do passado.
A PERSEGUIÇÃO ALASTRA PELA EUROPA
O antissemitismo foi apenas uma das faces dos conflitos motivados pela religião. Com o advento do protestantismo, no seculo XVI, o continente dividiu-se entre os que se mantiveram fieis à igreja católica e os que decidiram desvincular-se do poder papal e converter-se a uma das várias correntes protestantes. O conflito alastrou rapidamente e arrastou toda a Europa para a Guerra dos 30 anos, acabando os territórios alemães por sofrer a pilhagem e a destruição de forma mais severa e a sua população caindo para metade.
Os calvinistas holandeses e os huguenotes franceses tiveram de abandonar uma Europa onde não era possível sobreviverem, escolhendo a Africa do Sul como local de exilio. Os seus descendentes deram origem ao povo boer que juntamente com os colonos britânicos foi expandindo o seu controlo pela Africa Austral. Numa ironia da história, os descendentes daqueles refugiados que fugiram da Europa para escapar à opressão acabaram por se tornar nos opressores dos povos que ali viviam há milénios. Em pleno seculo XX impuseram o Apartheid através do qual a minoria branca sujeitou a maioria negra a uma sociedade regida pela segregação racista.
Nas Américas a chegada dos Europeus foi ainda mais brutal. A população Índia das Américas foi massacrada pelos invasores e vitima das doenças que traziam consigo, seguindo-se vagas continuas de europeus que procuravam ali a fortuna que nunca lhes chegaria numa Europa envolta em guerras internas. A violência não era seguramente um exclusivo da Europa, e tanto na Asia como em Africa travavam-se guerras mortíferas que davam lugar a enormes vagas de refugiados. A diferença é que os refugiados africanos e asiáticos mantinham-se nos seus continentes, já os Europeus procuravam segurança fora da Europa e as vagas de refugiados e migrantes que produziram acabaram por ter um profundo impacto em várias sociedades não europeias.
Com o seculo XIX a Europa enfrentou novos desafios. A revolução francesa lançou os ideais da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, mas ao avançarem pela Europa as tropas de Napoleão espalharam um outro tipo de ideal e Portugal foi um dos territórios invadidos e alvo de extensas pilhagens.
A família real portuguesa tornou-se refugiada no Brasil e o retorno da soberania não significou o fim da violência no reino.
Desta feita era a política a dividir o país, rebentando uma guerra civil entre absolutistas e liberais que entre 1832 e 34 concluiu a destruição do país e levou centenas de milhares de portugueses a emigrar para o Brasil.
Menos sorte tiveram outros povos, como o irlandês, que, sujeito a ocupação britânica, ainda teve de enfrentar a grande fome de 1845-52 em que mais de dois milhões tiveram de se fazer ao mar e viajar ate ao Canadá e aos Estados Unidos, mas um milhão e meio acabou por morrer na ilha e os sobreviventes tiveram de sobreviver como indigentes.
Refugiados parte II/Expresso (30/10/2015)
Pesadelo Nazi, Purgas Estalinistas e guerras de independências (e os nossos “retornados”)
SÉCULO MORTÍFERO O seculo XX foi um dos períodos que mais migrações forçadas provocou por causa de guerras. Na imagem refugiados da II Guerra Mundial FOTO D.R.
Se o refugiado do seculo XIX tinha uma origem distinta da do seculo XXI, o desespero e o sonho de uma vida melhor são os mesmos. A História demonstra que as fronteiras nunca foram portas encerradas, e o século XXI não será diferente
Com a Revolução Industrial a atingir o apogeu no principio do seculo XX, a Europa viveu um aumento demográfico sem paralelo na sua História e a tecnologia permitiu atingir a produção em massa de todo o tipo de produtos. Não tardou muito para que a tecnologia também começasse a inovar na “indústria da morte” e em poucos anos foram construídas frotas de couraçados, aviões e tanques, milhões de armas de fogo e de artilharia capazes de transformar o campo de batalha numa paisagem lunar onde nenhum ser vivo poderia sobreviver durante muito tempo.
Em 1914 a Europa caminhou alegremente para uma guerra que todos acreditavam acabar no Natal, mas que na realidade duraria quatro longos anos e custaria a vida a milhões de soldados e civis.O desastre não terminou no dia do Armistício e o fim dos impérios alemão, austro-húngaro, otomano e russo foi o ponto de partida para um período de instabilidade que levaria ao
“reordenamento populacional” da Europa de Leste e à morte de milhões nos conflitos civis e nas purgas coletivas do estalinismo dos anos 30.
Com a II Guerra Mundial a Europa enfrentou um dos maiores perigos da sua História. Um povo que alegando possuir superioridade racial sobre os demais se achou no direito de cometer genocídio de forma industrial e tornar a Europa no seu império pessoal. À medida que os nazis iam ocupando o velho continente, o destino de judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, testemunhas de Jeová e pacientes com deficiências mentais passou a ser o da morte e o da eliminação total nos fornos crematórios dos campos de extermínio.
Em desespero milhares de judeus tentaram passar a fronteira nos Pireneus e escapar duma morte certa, tendo encontrado em homens como o consul Aristides de Sousa Mendes a salvação. Mas para a maioria não foi possível arranjar um bilhete para fora da Europa e o seu fim revelou-se trágico. Na Frente Leste os eslavos foram relegados à condição de servos e sujeitos a uma violência que custou dezenas de milhões de mortos e implicou a deslocalização de milhões para servirem na industria de guerra .À medida que os nazis iam ocupando o velho continente, o destino de judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, testemunhas de Jeová e pacientes com deficiências mentais passou a ser o da morte e o da eliminação total
O nazismo também permitiu ajustes de contas e o avivar de ódios adormecidos. Os ustasha croatas e os muçulmanos bósnios massacraram os sérvios (que durante a guerra civil jugoslava trocariam o papel de vitima pelo de algoz),e com a derrota de 1945 foi a vez de os alemães viverem uma das maiores vagas de refugiados da história europeia. Milhões viajaram do Leste da Europa para escapar à vingança das atrocidades cometidas pela Wehrmacht, e a Prússia Oriental foi “desgermanizada”.
Os povos de ascendência alemã que durante séculos viveram no Leste da Europa foram deslocados para a Asia Central, e na Alemanha em ruinas foram muitos os alemães que decidiram abandonar a Europa para tentar um novo começo nas Américas, incluindo muitos nazis que procuravam escapar a Justiça e que viram na Argentina um refúgio para o seu passado tenebroso.
Terminada a II Guerra Mundial, o mundo entrava na Guerra Fria e a Europa dizia adeus às suas colónias. A França desenvolveu uma perspetiva muito própria que aceitava a independência de todas as suas colónias, exceto uma; a Argélia. No discurso politico francês, a Argélia constituía parte inalienável da França, e quando a insurreição começou, em 1954, a resposta foi violenta e envolveu tortura e execuções extrajudiciais, que se tornaram comuns ao longo dos anos seguintes.
Povos de ascendência alemã que durante séculos viveram no Leste da Europa foram deslocados para a Asia Central, e na Alemanha em ruinas foram muitos os alemães que decidiram abandonar a Europa para tentar um novo começo nas Américas.
Na Argélia viviam mais de um milhão de franceses e seus descendentes, gente que atravessou o Mediterrâneo à procura da riqueza que aquela colónia oferecia aos gauleses brancos que constituíam a elite económica e administrativa do território. Terminada a guerra, mas não os ódios que incendiara, tornou-se insustentável a permanência dos europeus na Argélia e quase um milhão atravessou o Mediterrâneo com temor das represálias. Foram porem deixados para trás os argelinos colaboracionistas e entre 50.000 e 150.000 foram executados como traidores.
Portugal não terá aprendido com o erro francês. Em 1961começou a insurreição no Norte de Angola e o Estado Novo desde logo negou qualquer possibilidade de independência às várias colónias que se foram revoltando sucessivamente. Durante a longa guerra colonial que se seguiu, a violência constante gerou ódios nas colónias e um apoio cada vez menor na metrópole.
A miseria que grassava em Portugal levou tambem a uma nova vaga de emigrantes, que seguiram por terra para paises como a Alemanha, Franc;a, Luxemburgo e Suic;a, e por mar para o Brasil, Canada, Estados Unidos e Venezuela. Entre os anos 50 e 70 o seu numero ultrapassou os dois milhoes, sendo muitos os jovens em idade militar que encontravam na emigrac;ao a possibilidade de escapar ao envio para uma guerra longinqua.
A 25 de Abril de 1974, a revolução estalou em Portugal e um povo farto da ditadura e da miséria quis terminar rapidamente uma guerra que levava centenas de milhares de jovens a lutar por uma causa em que muitos já não acreditavam. A descolonização que se seguiu revelou-se um autêntico desastre. Por um lado, o clima revolucionário vivido em Portugal não permitiu alongar o período de transição; por outro, os partidos africanos que lutaram pela independência não conseguiam negociar entre si uma solução governativa e o clima da Guerra Fria potenciava a ingerência externa e a chegada de armamento em grandes quantidades.
A miséria que grassava em Portugal levou também a uma nova vaga de emigrantes, para Alemanha, França, Luxemburgo, Suíça, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Venezuela. Entre os anos 50 e 70 o seu numero ultrapassou os dois milhões
Quando as independências chegaram, as guerras civis foram-se instalando nas antigas colónias e as comunidades portuguesas viram-se subitamente entre dois fogos. Muitos escaparam para a Africa do Sul, mas a maioria foi retirada numa verdadeira ponte naval e aérea que transportou mais de meio milhão de volta a Portugal (incluindo alguns refugiados que já tinham nascido em Africa).
ÊXODO Chegada a Portugal de “retomados” das ex-colónias, em1974 – ARQUlVO “A CAPlTAL”
Os recém-chegados chegaram a um país em pleno PREC (Processo Revolucionário Em Curso) e com poucas ou nenhumas condições para os receber, e muitos milhares acabaram por engrossar a emigração “tradicional” que partia do país em direção às Américas e ao centro da Europa. O PREC também criou uma nova classe de refugiados em Portugal, as famílias poderosas que durante o Estado Novo tinham enriquecido sob a proteção do regime e cujas empresas e propriedades eram agora alvo de nacionalizações. Famílias como os Espirito Santo e Champalimaud, que seguiram os seus conterrâneos mais pobres e atravessaram o Atlântico para recomeçar as suas vidas no Brasil, e com eles também seguiram Marcelo Caetano e muitos funcionários ligados ao regime, coma agentes da PIDE.
O êxodo português foi mais um episódio dos movimentos de refugiados e emigrantes que marcam a Historia europeia. Durante séculos o mundo acolheu os milhões de homens e mulheres que fugiam de um continente em guerra constante e a Europa e desde há séculos uma terra de emigrantes, imigrantes e refugiados.
A Hungria, que hoje encerra as suas fronteiras, é o mesmo país que viu 200.000 cidadãos fugirem para a Áustria em 1956, quando o país se insurgiu contra o domínio soviético. E se o refugiado do seculo XIX tinha uma origem distinta do refugiado do seculo XXI, o desespero e o sonho de uma vida melhor são os mesmos. A história demonstra que as fronteiras nunca foram portas encerradas, o seculo XXI não será diferente.