Sobre os nossos dirigentes internacionais: da falta de ética à incapacidade de compreender a realidade económica. 7. A franqueza dos banqueiros centrais tarda a ouvir-se. Por James Grant

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Fotografia de Leonel Brás. Tirada junto à IP3, 24 horas depois do fogo ser considerado extinto.

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

 

texto 7 banqueiros centrais tardam a oouvir-se

 7. A franqueza dos banqueiros centrais tarda a ouvir-se

James Grant Por James Grant (*), em julho de 2017

 

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Quando é que alguém já ouviu os mandarins falarem claramente acerca da política monetária radical?

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Texto 7

As palavras nebulosas dos banqueiros centrais obscurecem o como e o porquê da gestão monetária moderna. Eles também dissimulam o que está certo ou errado nessa gestão.

A Reserva Federal dos EUA está a tentar desembaraçar-se dos métodos de gestão de crises que improvisou quando se estava em crise. Ben Bernanke era o presidente quando o FED começou a prometer inverter as suas políticas de emergência – para aumentar as taxas de juros e diminuir o desequilíbrio do seu balanço. Isto foi em 2011. Janet Yeller, a sua sucessora, reiterou essa intenção no mês passado. Falar é agora a nova forma de agir.

O volume absoluto de palavreado monetário enfraquece a mensagem dos banqueiros centrais, se é que existe uma mensagem a transmitir. Em 2007, quando as chuvas financeiras começaram a cair, as declarações de política do Comité de fixação de taxas do FED tinham em média cerca de 214 palavras. Este ano, elas pesam 892 palavras.

Não é pouco o conteúdo extra que é dedicado a vacilar. A “Adenda aos Princípios e Planos de Normalização da Política”, do mês passado concluiu-se com uma longa cláusula de salvaguarda. A “normalização” cessará se a economia americana encontrar dificuldades, disse o banco central em tantas palavras.

Se ao menos os mandarins falassem com tanta clareza, e dissessem que “as taxas de juros são preços”, o que não têm o hábito de fazer mas que devem certamente admiti-lo. “Suprimindo-as, as taxas de juro, distorcemos as perceções de risco e embelezamos o valor dos fluxos de caixa futuros. Na forma, isto vai-nos explodir na cara”.

Ora, nunca ninguém ouviu algum banqueiro central dizer, “realmente, o que estamos agora a fazer nunca foi feito antes. Não há nenhuma possibilidade de prever como isto vai acabar. Os rendimentos nominais negativos que estão ligados hoje a um certo número de títulos de dívida pública na Europa e no Japão é um acontecimento único na história desde há 5.000 anos –uma situação nunca antes vista na história. Nós não somos capazes de dizer com exatidão o que é que exatamente irá resultar da flexibilização quantitativa. E nós certamente também não podemos prever a que é que nos levar a retirada deste estímulo à economia. O futuro é um livro fechado.”

Seria útil se os banqueiros centrais fossem obrigados a manter os mesmos padrões de dizer a verdade, como os que são exigidos aos fabricantes da indústria farmacêutica. “Aqui está uma terapia, e aqui estão os seus efeitos colaterais,” a lei exige que os fabricantes da indústria farmacêutica assim façam. Enquanto se aguarda a adaptação dessa esclarecedora regra aos assuntos monetários, o público terá de traduzir a linguagem patois dos bancos centrais da melhor forma possível.

A inflação é um assunto que exige uma exegese textual especial. As actas da sua reunião de junho revelam a preocupação do FED com o aumento dos preços – o FED quer que eles aumentem um pouco mais rapidamente. Os banqueiros centrais preocupam-se com que o dólar comande um quociente indesejavelmente alto de poder de compra. Eles querem enfraquecê-lo. Contudo – como as mesmas actas igualmente revelam – os membros do Comité temem que um dólar mais fraco possa vir a servir para levitar os preços das ações, das obrigações e dos bens imobiliários, e isto quando estes preços já estão quase a atingir o céu.

A franqueza exigiria ser totalmente honesto quanto ao facto de que os dados sobre a inflação são difíceis de interpretar e que a margem de erro na medição dos preços é talvez maior do que o intervalo objetivo em que o FED e os seus bancos centrais afins continuam a querer alcançar como objetivo.

De qualquer forma, se a “estabilidade de preços” é o grande desiderato, porque é que as autoridades monetárias pugnam por uma taxa de 2 por cento da inflação? E não estão essas autoridades conscientes de que as consequências da formação de crédito são complexas e imprevisíveis? Será que elas não reconhecem que milhões de milhões de dólares de novo crédito podem fazer subir os preços de ações e das obrigações em vez do preço da gasolina e dos produtos de mercearia (como de facto o têm feito)? Ou que, desde 1960-65 nos Estados Unidos o índice de preços ao consumidor nunca mostrou um aumento anual que tenha atingido os 2 por cento, mas o país cresceu, ou não cresceu?

“O risco, como a energia, tende a ser conservado, não a ser dissipado, pode mudar a sua composição, mas não o seu quantum”, disse em 2014 Andy Haldane, economista chefe do banco de Inglaterra. Tendo essas sábias palavras em mente, devemos esperar ter problemas que podem inflamar-se em lugares inesperados. E devemos esperar que os bancos centrais respondam com a força principal de que dispõem: ainda mais baixas taxas de juros e mais flexibilização quantitativa?

A verdade, implícita mas ainda não dita bem alto, é que a política monetária radical leva a uma política monetária ainda mais radical.

James Grant, “Candour from central bankers is overdue- When did you last hear mandarins speak clearly about radical monetary policy?“, texto disponível em https://gonzaloraffoinfonews.blogspot.pt/2017/07/candour-from-central-banks-is-overdue.html

(*) James Grant, licenciado pela Universidade de Indiana, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia. É fundador e editor de Grant’s Interest Rate Observer, jornal bi-mensal sobre os mercados financeiros. Entre outras tem as seguintes obras publicadas: Money of the Mind (1992), The Trouble with Prosperity (1996), John Adams: Party of One (2005), Mr. Speaker: The Life and Times of Thomas B. Reed, the Man Who Broke the Filibuster (2011), e The Forgotten Depression (2014).

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