Nuvens bem negras sobre a Europa, sobre o mundo, enquanto lhe vendem a esperança dos amanhãs que cantam
Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
3. A economia alemã tropeça enquanto a Europa sofre um retrocesso no crescimento
Por Piotr Skolimowski
Publicado por , em 15 de maio de 2018
– As estimativas sobre o PIB de Portugal, Holanda e Alemanha estão em queda
– O BCE sublinha a natureza temporária da expansão mais fraca da zona euro
O crescimento económico desacelerou na Europa no início do ano, com a Alemanha a ver o seu ritmo de expansão cair para metade no quadro de uma desaceleração do comércio internacional.
O aumento de 0,3% na maior economia da Europa foi mais fraco que o previsto e o mais fraco desde há mais de um ano. O crescimento na Holanda e em Portugal também desacelerou mais do que o esperado no primeiro trimestre, enquanto uma tendência semelhante foi observada na Europa central e oriental.
A desaceleração na dinâmica do crescimento económico da zona euro para 0,4 por cento foi confirmada, enquanto as expectativas dos investidores no que se refere às perspetivas permaneceram próximas do ponto mais baixo verificado desde 2016. Isso levanta a questão para o Banco Central Europeu se esta desaceleração é simplesmente um ponto fraco ou a indicação de algo mais alarmante.
Um começo de ano tépido
Até agora, as autoridades em geral desvalorizaram o facto de que se estar perante um começo lento do ano – culpando fatores como o clima mais frio – e expressaram a sua confiança de que esta desaceleração se dissipará. Discursando na segunda-feira, o membro do Conselho do BCE, François Villeroy de Galhau, argumentou que o crescimento da zona do euro continua sólido e abrangente e que os decisores de política [monetária] deverão suspender as compras de ativos ainda este ano.
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A Comissão Europeia também minimizou as suas preocupações quanto a esta desaceleração e este mês manteve a sua previsão de que o crescimento anual quase que igualará o alto ritmo da década alcançado em 2017. Ainda assim, existem ameaças, nomeadamente o crescente protecionismo comercial e um euro mais forte que poderão funcionar como amortecedores da expansão na Alemanha e na zona do euro.
Algumas dessas questões foram destacadas pelo Fundo Monetário Internacional num seu relatório publicado na terça-feira. Embora vendo, por enquanto, um “crescimento forte”, uma “perspeciva favorável está sujeita a vários riscos que são principalmente negativos em termos do médio prazo”.
O Departamento de estatísticas da Alemanha disse que o crescimento do primeiro trimestre foi impulsionado pela recuperação no investimento em equipamentos e na construção assim como por um ligeiro aumento no consumo privado. As despesas públicas diminuíram pela primeira vez em quase cinco anos, com as exportações e as importações também a caírem.
O Ministério da Economia disse na terça-feira que a recuperação “permanece intacta”. Na semana passada, a Siemens AG aumentou as suas perspetivas para os lucros do ano, e a HeidelbergCement AG afirmou que a recuperação económica impulsionará a atividade de construção nos seus principais mercados depois de um longo inverno ter feito recuar os seus resultados do primeiro trimestre.
Embora ignorando o recente enfraquecimento, o BCE disse no mês passado que os riscos globais se tornaram “mais proeminentes”. O instituto ZEW disse na terça-feira que as preocupações comerciais, a retirada dos EUA do acordo nuclear iraniano e os preços mais altos do petróleo estão a ter um “impacto negativo” sobre as perspetivas económicas.
“O ambiente internacional permanece razoavelmente bom, a menos que Trump o estrague totalmente e o ambiente interno é muito bom”, disse Holger Schmieding, do Berenberg Bank, em Londres. “A perspetiva económica alemã parece boa, apesar da queda de agora.”
Quanto a notícias que poderiam agradar aos banqueiros centrais europeus na sua longa batalha para reavivar a inflação, o crescimento dos salários franceses acelerou no primeiro trimestre, para 0,7%. Embora a evolução do trimestre seja frequentemente mais forte que o do resto do ano, trata-se ainda do maior aumento desde 2013.
— Com a colaboração de Kristian Siedenburg, Harumi Ichikura, Zoe Schneeweiss, Viktoria Dendrinou, e Radoslav Tomek
Texto original em https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-15/german-economic-growth-slows-more-than-forecast-in-first-quarter
Piotr Skolimowski: na Bloomberg desde 2009, é repórter para o BCE e a eurozona. Anteriormente foi correspondente da Thomson Reuters. Mestrado pela Universidade de Varsóvia.