O fim do euro está mais próximo do que se poderia pensar
(Avi Tiomkin, Novembro de 2018)
A Europa sempre foi um continente desunido, com amplas divisões étnicas, culturais, linguísticas, políticas e económicas. Dadas estas disparidades, a imposição de uma moeda única numa população que agora totaliza 340 milhões pessoas, sem dúvida, esteve condenada desde o seu início.
Um dia de acerto de contas para o euro foi adiado em 2012, quando o Presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse que o Banco Central Europeu faria “o que for preciso” — um mandato que viria a incluir um estímulo monetário massivo para preservar a moeda comum.
Mas as ações desesperadas do BCE, que conduziram ao atual confronto orçamental da Itália com a União Europeia, poderiam finalmente acabar por resultar na morte do euro.
Antes da crise da zona euro de 2011-12, causada pela incapacidade de vários Estados-Membros em refinanciarem as suas dívidas e resgatar os seus bancos em dificuldade, era difícil imaginar que a liderança política e burocrática da Europa sacrificaria todos os princípios monetários e adotaria políticas draconianas de austeridade fiscal que infligiram danos irreversíveis numa grande faixa da população da União Económica. De facto, a declaração de julho de 2012 feita por Draghi — que foi considerada pelo Secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner e outros, como sendo uma afirmação improvisada — pareceu, na época, ter travado a crise.
Mais provavelmente, foi o lançamento de uma política de flexibilização quantitativa, uma politica monetária não convencional e expansionista, levada a cabo pelo Federal Reserve dos EUA que precipitou o que parecia ser uma mudança positiva da trajetória europeia. No decorrer de um curto período de tempo, em 2012, o FED adquiriu cerca de $1 milhão de milhões de ativos financeiros, com o banco do Japão a fazer o mesmo e numa escala similar. .
No entanto, os problemas da Europa nunca foram verdadeiramente atenuados. Por volta de 2015, a zona euro foi novamente envolvido na crise, com o foco principalmente na Grécia, cujo sistema bancário estava em perigo. Só então é que o BCE empreendeu um vasto programa de compra de activos, gastando cerca de 80 mil milhões de euros por mês. A campanha do BCE (que está a terminar este ano) injetou na economia europeia um total de $2,5 milhões de milhões ao longo de três anos e conduziu as taxas de juro até um valor negativo, no caso, de 0,4%.
Draghi foi saudado nos últimos anos como o homem que salvou a Europa. Mas a política monetária e a austeridade impostas à maioria dos europeus revelaram-se desastrosas, resultando em turbulência sociopolítica e níveis severos de desigualdade económica. O euro, afinal, era o problema, não a solução.
Não é por coincidência, dado a medicamentação do BCE, que Marine Le Pen recebeu 34% dos votos nas eleições presidenciais francesas mais recentes, e que o seu partido ultranacionalista está a frente do partido do Presidente Macron nas sondagens para as eleições para o Parlamento Europeu. A Itália é atualmente liderada por uma coligação de direita composta pela liga do Norte e pelo Movimento populista 5 Estrelas, ou M5S.
Mesmo na Alemanha, o partido da extrema-direita Alternativa para a Alemanha(AfD) e o partido de esquerda Os Verdes tiveram grandes ganhos nas eleições estatais recentes. A Chanceler Angela Merkel anunciou que não voltará a concorrer em dezembro pela sua liderança partidária da União democrática cristã, e não procurará a sua reeleição como Chanceler.
Enquanto isso, o mecanismo do TARGET2 que financia as deficiências da zona euro é integralmente sustentado pelo sistema financeiro alemão, que, juntamente com os Países Baixos, Luxemburgo e Finlândia, registam mais de $1 milhão de milhões de transferência a favor de países que incluem a Itália, Espanha, e, em menor grau, a França. Em retrospetiva, a flexibilização quantitativa do BCE apenas substituiu uma solução a longo prazo.
Neste contexto, é agora importante observar atentamente a Itália. A Comissão Europeia exigiu que o novo governo da Itália, que prometeu acabar com o mal-estar económico do país, reveja o seu orçamento, reduza o nível de despesa pública e diminua o défice. Mas ao contrário da Grécia, a Itália não é um país fácil de manejar.
Matteo Salvini, líder da Liga do Norte, rotulou Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, um “inimigo da Europa”, e chamou ao euro de “moeda alemã”, acrescentando que “esta criação foi, é, e continuará a ser um erro.”
Muitos esperam que o impasse atual seja resolvido por uma política orçamental expansiva a ser aplicada a toda a Europa. Mesmo que a Alemanha e os seus satélites concordem em pôr em prática uma tal política, o que é duvidoso, esta terá que ser feita a uma escala que é suscetível de causar uma explosão inflacionária, a desestabilização de moeda, a fuga de capitais, e um aumento dramático das taxas de juros de longo prazo.
A Comissão Europeia demonstrou pouca flexibilidade nas suas negociações sobre a Brexit, com o objetivo de punir eficazmente o Reino Unido pela sua decisão de abandonar a União Europeia. Neste caso, Bruxelas (que é o capital de facto da UE) está a ter em mente a Itália .
A solução mais plausível para o último impasse parece ser “Italexit” — a saída da Itália da zona euro. As inúmeras negações dos líderes que essa ideia “não está a ser considerada e não existe uma tal opção” sugerem, em vez disso, que é isso que está a ser considerado.
Dada a dimensão da economia italiana, uma tal saída precipitaria a dissolução da própria zona euro. Como Salvini, na verdade sentido como o líder de fato da Itália, disse recentemente sobre o euro, “só a morte é irreversível.”
(Avi Tiomkin is an adviser to hedge funds. He previously managed money for several large hedge funds and specializes in global macroeconomic analysis)
O terceiro texto desta série será publicado amanhã, 15/11/2019, 22h
Tradução de Júlio Marques Mota