15 de Setembro de 2016
O PALACETE DOS MONTEIRO MOREIRA
Em 1724, no topo norte da então Praça Nova das Hortas,
(ao longo do tempo foi denominada, Hortas do Bispo, Praça Nova, Praça da Constituição, voltou a chamar-se Praça Nova, Praça de D. Pedro, Praça da República (durante 14 dias), e a partir de 27 de Outubro de 1910 Praça da Liberdade)
começou a ser construído um palacete barroco projectado por António Pereira. Esse edifício, opulento, foi mandado construir por Monteiro Moreira, e, algumas décadas mais tarde, foi lá que se instalou o Senado da Relação.
Em Agosto de 1819, devido à crescente centralidade da Praça Nova, a Câmara Municipal do Porto instalou-se no palacete, adquirindo-o e abandonando a Torre Medieval (Torre da Rolaçam, como era conhecida na altura), junto à Sé, que até então lhe servira de sede. Mandou construir um frontão com as armas da cidade, rematado pela estátua de um guerreiro intitulada “O Porto”, colocando-os no topo da frontaria do edifício.
Da varanda destes Paços do Concelho foi proclamado, a 24 de Agosto de 1820, o liberalismo, D. Pedro IV proclamou, em 1832, a Carta Constitucional, pouco tempo antes do Cerco do Porto, e os revoltosos do 31 de Janeiro de 1891, anunciaram a República (de muito curta existência…).
O palacete começou a ser demolido em 1 Fevereiro de 1916, para que se efectuasse a abertura da Avenida dos Aliados.
No entanto, nem todo o edifício desapareceu dos olhares dos portuenses. Partes houve que se espalharam pela cidade, sem que no entanto, disso, hoje, haja notícia ou relato de conhecimento público e generalizado.
A estátua “O Porto”, feita pelo Mestre Pedreiro João da Silva, que encimava o edifício, deambulou por diversos pontos da cidade. Esteve junto ao Paço Episcopal (onde a Câmara se instalou aquando da demolição do Palácio dos Monteiro Moreira), no Largo Actor Dias (junto à Muralha Fernandina), foi para o Palácio de Cristal, foi posta de costas para a cidade, face à Torre Medieval (ideia do Arquitecto Fernando Távora) e hoje, encontra-se em frente ao Banco de Portugal, nas proximidades da sua localização original, olhando a Praça da Liberdade e a Avenida dos Aliados (a única peça, oriunda do Palacete, com direito a uma placa explicativa).
As armas da cidade do frontão do palacete (na altura ainda sem que houvesse lugar ao Dragão (1) que durante cerca de cem anos delas viria a fazer parte), feitas pelo Mestre Pedreiro Manoel Luiz, ornamentam hoje os jardins do Palácio de Cristal, numa espécie de “Museu ao Ar-Livre” (assim lhe chama o Prof. Germano Silva), o Roseiral, onde também se encontra uma fonte, lindíssima, que estava no átrio de entrada do edifício da Câmara.
Também as janelas do palácio, três, foram parar ao Roseiral, e, colocando-me na do meio, tento imaginar-me como salvador da Pátria a discursar para o povo atento e sedento das minhas palavras, dando-lhe boas-novas, coisa de que bem precisamos nos dias difíceis dos tempos que vivemos, sendo que agora, não o poderia fazer com o Palácio das Cardosas como pano de fundo, nem olhando a garupa do cavalo de D. Pedro e as costas do Rei distraidamente parecendo ignorar as minhas palavras, mas com a beleza imensa da vista sobre a parte ribeirinha da cidade e sobre o nosso rio Douro.
Não há, no entanto, bela sem senão; o turista, acidental ou não, o interessado, o curioso, ou o simples passante, de nada fica a saber ao ver estas maravilhas antigas. Não há nada que o informe do que está a ver. Não há uma placa, uma descrição, uma informação, ligeira que seja, que conte o que aquelas pedras significam.
A História da nossa cidade mereceria mais!
(1) – Ver, sobre este assunto, a crónica nº 33 – AQUI
EXPOSIÇÃO – Colecção Particular do Dr. Paulo Sá Machado
Muito obrigada pela informação tão preciosa! Conheço, apenas, o Porto de passagem e, quem vê os monumentos, não faz ideia do que se terá passado anteriormente. Sem a sua “ajuda” a minha publicação não estaria tão completa! Deixo aqui o link, onde faço referência a esta sua publicação, caso queira acrescentar ou corrigir algo: https://asfontesdaminhavida.blogs.sapo.pt/fonte-da-antiga-camara-municipal-do-90873