Por Júlio Marques Mota
(continuação)
A fuga de capital
Como já o discutimos antes, a característica interessante dos saldo TARGET2 é o facto de que numa base mensal eles reflectem os fluxos líquidos de capital a sair ou a entrar anualmente numa economia .
E, nas actuais circunstâncias estamos uma direcção clara quanto aos fluxos de capital, e há mesmo dados para o mostrar.
Os gráficos abaixo mostram os detalhes dos saldos da balança de pagamentos de Espanha e de Itália. Os dados da balança de pagamentos são detalhados para os meses de Abril e de Maio para as figuras do TARGET2 na situação de Espanha e de Junho para a Itália. Nós dividimo-los de duas maneiras. No primeiro caso mostra-se a divisão da balança de pagamentos, através de fluxos líquidos por grupo de investidores –nacionais e estrangeiros. No segundo gráfico, nós tentamos medir a distorção total dos vários fluxos a nível de análise mais fina, mais detalhada (tipo de investimento por tipo de investidor), somando-se os fluxos de capital total saído e entrado.
O gráfico, especialmente no caso de Espanha, é preocupante. Em ambos os casos mostra-se que
– desde meados do ano passado, os fluxos líquidos de capitais têm sido sempre de capitais a saírem do país e a um ritmo considerável. No caso da Espanha, essas saídas continuaram a acelerarem-se ao longo do segundo trimestre e actualmente estão a realizarem-se a uma taxa anual de cerca de 50% do PIB de Espanha.
Nos últimos meses, alargou-se a amplitude das saídas de capitais. Até ao início deste ano o único elemento que determinante e de modo significativo dessas saídas foram os investidores estrangeiros a desinvestirem em Espanha. Mas, mais recentemente, parece que algumas dessas saídas se devem aos investidores nacionais, que estão a movimentar os seus activos para o exterior. O que é mais preocupante é a clara tendência que essas saídas mostram para aumentarem e para se tornarem extremamente desordenadas: a capacidade para os agentes nacionais moverem os seus activos para o estrangeiro começa a ser aproveitada. E mais uma vez, este problema parece bem mais agudo para a Espanha do que para a Itália.
Finalmente, a tendência dos fluxos de capital tem-se tornado extremamente enviesada particularmente na Espanha. Embora não tenhamos um elevado nível de detalhe dos dados, tudo aponta para que se possa considerar que o volume de saídas líquidas tenha sido impulsionada não apenas pelo aumento da taxa de saída mas também por um colapso – para níveis extremamente baixos – dos fluxos de entrada de capital. Com efeito, o sector privado está rapidamente a abandonar a Itália e sobretudo a Espanha e há uma pequena e decrescente quantidade de capital a sair por outras razões.
Os dados de fluxos do TARGET2 sugerem que o volume destas saídas estacionou em Itália, mas acelerou em Espanha. E até que estes fluxos líquidos parem, a periferia e toda a zona euro em termos gerais irão provavelmente sofrer uma contínua situação de pressão e de dificuldades económicas e financeiras.