Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A Europa não tem alavancas para o crescimento – I
Delusional Economics – 28 de junho de 2012
Estamos a ficar horrorizados com o nível de comentários económicos na Austrália e estamos determinados a combater o fluxo diário de propaganda dos interesses estabelecidos para produzir um contraponto equilibrado. Texto publicado a partir de : http://www.macrobusiness.com.au/2012/06/the-european-summit-is-a-write-off/ “>.
É a véspera da XIX ª cimeira da EU e enquanto eu digito Angela Merkel e François Hollande devem estar a começar o seu encontro antes da cimeira . Eu não acho que haja qualquer dúvida na mente de alguém que, embora já tenhamos visto antes 18 cimeiras, esta cimeira é de particular importância. Hollande e Merkel tinham algumas palavras para dizer antes do seu encontro:
“Muitos estão a olhar para a Europa”, disse Hollande: “Queremos afirmar a sua consistência, a sua força, a sua unidade e a sua solidariedade”.
Merkel disse dois dias antes da cimeira da UE a partir de Bruxelas que a próxima quinta-feira será “de grande importância para o futuro da Europa.”
“A situação é grave e temos a obrigação de construir um futuro forte e estável para a Europa”, disse ela.
“Progressos significativos já foram feitos sobre o pacto de crescimento”, disse ela, referindo-se a um plano para investir até 130 mil milhões de euros a desencadear rapidamente o crescimento económico da zona do euro.
“Espero que este programa possa ser aprovado amanhã”, disse Merkel.
“Precisamos de mais Europa, precisamos de uma Europa que funcione, é o que os mercados estão à espera e, assim, precisamos de uma Europa, cujos membros se ajudem uns aos outros”, acrescentou ela.
Belas palavras, mas é de acções que dizem a verdade e, deste ponto de vista, a história recente fala-nos de uma realidade muito diferente.
Como mencionei ontem, se o pacto de crescimento na sua forma actual é a única coisa a sair da cimeira, então eu suspeito que o resto do mundo vai encarar a cimeira como sendo um enorme fracasso. O jornal Der Spiegel publicou um artigo ontem a crucificar o pacto como não sendo nada mais que uma fachada e uma tentativa de fazer parecer que na cimeira realmente se conseguiu alguma coisa:
No entanto, os participantes da cimeira sabem bem que a resolução é bem pouco mais do que um pouco de uma montra, de uma fachada, dirigida para os eleitores e para os mercados financeiros. O pacto não contém nada de novo, de acordo com uma análise interna realizada por um Estado-Membro. Isto só significa que se acordou, na linha da análise que estamos a citar, com o modo para que o novo presidente francês pudesse salvar a face. Durante a sua campanha presidencial, Hollande exigiu esforços para estimular a economia.
“É exactamente o mesmo vinho velho colocado agora em novas garrafas “, afirma Daniel Gros, director do Centre for European Policy Studies, um centro de reflexão com sede em Bruxelas. “Os políticos só pretendem mostrar que eles estão a levar a sério os desejos do eleitorado.” Mas, ele acrescenta, que o efeito sobre a economia será praticamente nulo.
Entretanto os rendimentos sobre os títulos da dívida pública de Espanha estão lenta mas seguramente a voltarem a atingir os altos níveis anteriores , o que levou Mariano Rajoy a emitir um aviso antes da cimeira de que o seu país está em sérios apuros esem qualquer resolução de curto prazo:
O Primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy disse que a Espanha não se pode aguentar a financiar-se por muito tempo às taxas actuais. Os títulos espanhóis a 10 anos foram negociados com rendimentos acima de 6,8%, aproximando-se já dos 7% considerados não suportáveis.
Mariano Rajoy estava a falar antes da realização da cimeira da União Europeia, esta semana. .
“O assunto mais urgente é o tema do financiamento”, disse ele. A Espanha pediu apoio para o financiamento dos seus bancos, mas o país não solicitou nenhum resgate.
Eu não sei porque razão Rajoy insiste em afirmar que 100 mil milhões de empréstimos não são um resgate quando é mais que óbvio que o é. Suspeito que é por causa do estigma associado a uma coisa dessas, juntamente com as condições que lhe estarão associadas. O primeiro-ministro espanhol tem vindo a insistir desde há semanas que, em termos de país soberano, trata-se de dinheiro livre, mas a este nível isto é que é completamente falso nesta fase. Se há quanto a isto alguma dúvida basta ler o comunicado do Eurogrupo sobre o assunto:
O Fund for Orderly Bank Restructuring (FROB), a actuar como um agente do governo espanhol, receberia os recursos e canalizá-los-ia para as instituições financeiras em causa. O governo espanhol permanecerá totalmente responsável e irá assinar o Memorando de Entendimento e o Acordo de Facilidade de Apoio Financeiro.
O Eurogrupo reitera a sua confiança de que a Espanha irá honrar os seus compromissos no âmbito do Procedimento dos Défices Excessivos, e no que diz respeito às reformas estruturais, com vista a corrigir eventuais desequilíbrios macroeconómicos tal como foram identificados no âmbito do semestre europeu. O progresso nessas áreas será acompanhado de perto e regularmente revisto em paralelo com a assistência financeira.
A Espanha vai solicitar a assistência técnica do FMI, que irá apoiar a implementação e a monitorização da assistência financeira com relatórios periódicos.
Seguramente, tudo isto é bem claro.