Ainda a geringonça – Os êxitos do atual governo, vistos do exterior e vistos desde Portugal. A resposta de António Gomes Marques às interrogações de Nuti sobre Portugal

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Cartoon da autoria de Vasco Gargalo realizado para uma reportagem da RTP que regista o segundo aniversário dos inéditos acordos de Governo entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes

Os êxitos do atual governo, vistos do exterior e vistos desde Portugal. A resposta de António Gomes Marques às interrogações de Nuti sobre Portugal

Por António Gomes Marques antonio gomes marques

em 22 de maio de 2018

 

Visto desde Itália, desde 2015 Portugal é um caso exemplar de políticas socialistas com sucesso, caso único na Europa, sem austeridade, crescimento do PIB de 2% ao ano e de 3,2% do emprego, com os socialistas, os comunistas, os verdes e o Bloco de Esquerda: um exemplo para todos nós, principalmente em Itália onde a esquerda se dividiu várias vezes. Como parece a geringonça de António Costa vista desde Portugal? Desde já grato por alguma orientação que me possa dar. – Mario Nuti, 19 de maio de 2018

 

Muito gostaria de subscrever um caso de sucesso de políticas socialistas, ou de outro tipo de partidos desde que a bem de Portugal e dos portugueses; neste caso, a suceder, lamentaria que tal sucesso não estivesse associado ao Partido Socialista Português.

Somos constantemente bombardeados, onde os burocratas de Bruxelas têm papel de relevo, com o êxito do actual governo português. De facto, parece que tal êxito é bem real, a começar pela reposição dos rendimentos, a deixar os espoliados bem contentinhos e, tendo sido eu um deles, deveria também estar a bater palmas, o que não acontece. O actual governo dá com uma mão e retira com a outra, agravando os tais impostos que todo o mundo paga e de que não dá conta. Vejam, como pequenos exemplos, os recibos da água e da electricidade e analisem cada uma das rubricas e os respectivos valores.

Com os preços da electricidade e dos combustíveis que temos fico admirado como é que conseguem os produtores portugueses de bens transaccionáveis aumentar as exportações, a que não podemos deixar de juntar os custos que os esperam nos chamados «portos secos espanhóis» junto à fronteira.

Temos um ministro das Finanças, cuja competência técnica não está em dúvida, que se mostra mais preocupado com fazer carreira em Bruxelas do que no bem-estar dos portugueses.

Temos 25% da população portuguesa a viver com um rendimento abaixo do mínimo indispensável, com uma classe média a aproximar-se destes 25% e uma minoria de ricos cada vez mais ricos, onde, há uns anos, se ficou a saber que um desses mais ricos triplicou em 5 anos a sua fortuna. Quantos desses ricos foram beliscados por este governo aclamado pelos seus «êxitos exemplares»? Não, não estou a propor que se acabe com os ricos, mas um governo tão cheio de êxito teria a obrigação de diminuir substancialmente a referida percentagem de 25% da população portuguesa e promover uma bem melhor distribuição da riqueza produzida.

Seria um governo a felicitar se tivesse levado a efeito alguma das tão necessárias reformas estruturais, expressão esta com que todos os partidos enchem a boca, mas a verdade é que nem sequer uma temos para amostra. Recentemente, no meu texto «Afinal, que reformas?», publicado no blogue «aviagemdosargonautas.net», aflorei esta questão, tendo sido muito pouco exigente. Não vou repetir-me, mas não posso deixar de lembrar que na educação, na ciência e na cultura essas reformas são absolutamente urgentes, reformas essas que criariam uma massa crítica indispensável ao desenvolvimento de qualquer país e muito mais a Portugal, o que nenhum governo dos últimos 20 anos fez (já estou a desculpar os governos dos primeiros 24 anos após o 25 de Abril).

As actuais camadas jovens, as mais bem preparadas do pós-25 de Abril -afirmação que estou a aceitar sem crítica-, apressam-se a procurar vida em países que lhes oferecem o que em Portugal não conseguem. Parte dos tais mais bem preparados que vão ficando está a ser contratada para dar aulas em universidades portugueses a troco de um vencimento à hora inferior ao que em minha casa se paga à senhora da limpeza, sem que haja um responsável governamental a levantar a voz contra tal situação e sem haver um movimento de Norte a Sul do país, sem esquecer as Regiões Autónomas, a avisar para o desastre que, no futuro, isto constituirá para Portugal.

No ensino, a única preocupação governamental parece ser a de obter bons números estatísticos, continuando (ou aprofundando?) o facilitismo em que os governos chefiados por José Sócrates se especializaram e que o governo de Passos Coelho não alterou, não me parecendo que o actual esteja a reverter a situação, este governo tão louvado pela reversão das políticas do anterior.

Seria possível num país de sucesso o bombardeamento diário com a promoção da violência no futebol, com os resultados que já se vão mostrando e que virão a ser bem piores se não houver uma alteração de 180º nas políticas do desporto em geral e no futebol em particular? E ainda alguns se mostram preocupados com o populismo quando este é propagandeado diariamente, quase minuto a minuto?

Lutemos ao menos por uma indispensável reforma, uma só!, que poderá facilitar depois as outras, que é a reforma do sistema eleitoral, que permita a escolha dos melhores para nos representar politicamente. Fosse esta concretizada e eu já morreria mais tranquilo!

A terminar, vou desiludir alguns de vós ou mesmo todos! Sinto-me de tal modo desiludido mas incapaz de votar noutro partido que não seja o PS, por estar convencido, tendo em conta o panorama partidário português, a começar pelos partidos com representação parlamentar, com os portugueses a mostrarem-se absolutamente incapazes de o alterar sequer a médio prazo, ser este PS o partido que representa o menor dos males.

Como eu gostaria de ter dado uma grande alegria ao Domenico Mário Nuti, mas é-me impossível!

Abraço caloroso a todos do

António

1 Comment

  1. Responder, respondeu e – bem haja ! – fê-lo com verdade, coisa que, mal vão os tempos, já é uma novidade no actual panorama nacional. Aceitar o menor dos males pode ser necessário inclusive justo mas – haja deus – apenas, quando o mal não é tão mau. Abração do CLV

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