UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (73) – Reposição

CARTA DO PORTO

O GILREU

VISTA AÉREA - SATÉLITE Fot. Internet
VISTA AÉREA – SATÉLITE
Fot. Internet

No dizer carinhoso do meu caro amigo Joaquim Pinto da Silva, o Gilreu é uma ilha da cidade do Porto, melhor dizendo a única.
Eu, diria mais, e com mais ênfase, é a ilha da Foz do Douro, muito mais que um ilhéu, uma ilhota, um penedo ou um simples calhau postado a uns escassos trezentos metros da praia.
O Gilreu é um dos símbolos da Foz do Douro.
Fica situado em frente à praia da Luz e está habitado. Lá, vivem percebes, mexilhões, caramujos, estrelas-do-mar, e uma família de gaivotas com pelo menos três elementos. Tomaram o penedo de assalto ainda antes da revolução, e por lá têm vindo a viver sossegados. De vez em quando, nos dias de mar calmo e maré baixa, sucedem-se as visitas de alguns pescadores, e só esses, porque as turistas loiras dos tempos de antigamente, que fugiam aos olhares ávidos dos frequentadores das praias, já lá não vão tomar banhos de sol no corpo inteiro, ficando-se pelas areias, muito embora, hoje, já só em top less, misturadas calmamente com algumas das nossas residentes.
Apesar de, por uma só vez, ter nadado desde a praia de Gondarém (a minha praia de sempre) até ao Gilreu, e voltado até meio caminho, acompanhado pelo barco a remos comandado pelo Sr. Joaquim Lavadeira (de quem vos falei em outra crónica) que me trouxe, extenuado e com frio na parte final do regresso, nunca lá pus os pés. Falha minha, como é evidente, e que espero poder remediar, requerendo a breve prazo, a um grupo cultural da Foz que se disponha a fazê-lo, uma visita guiada.

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Olhar para o Gilreu e ver somente um penedo no meio do mar, distante da praia umas poucas dúzias de braçadas de nadador experiente, é por si só, quase um sacrilégio.
O Gilreu, esse pedaço de pedra sólida e milenar que emerge do Atlântico, constantemente fustigado pela chuva, pelo vento e pelo mar, eterno e indiferente ao passar do tempo, testemunha, muda, das transformações que a Foz, o Porto, e as suas gentes, sofreram, é para muitos de nós um importante local de constante alusão, um ponto de partida para as nossas viagens imaginárias, uma graduação que regista os deslocamentos angulares no mecanismo da vida, simbolizando o sonho, a procura, e um mistério referencial.
Estar sentado junto à escultura de Camões, da autoria de Irene Vilar, seja Verão ou seja Inverno, e perder o olhar no mar e na ilha da Foz, acalma os sentidos, faz-nos sonhar, e ver, nua e transparente, a beleza que a vida nos pode dar.
Faz imensa falta a energia eléctrica (1). Não a há, na ilha. Seria uma mais-valia para a cidade, se o Gilreu fosse electrificado e por via disso, iluminado, tanto nas noites estivais, cálidas e calmas, como nas invernosas, gélidas e ventosas. Se tivesse luz, por ténue que fosse, nas noites brumosas, adensar-se-iam os mistérios e os sonhos românticos, característicos de gentes de todas as idades.

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(1) – Uma ideia a ser considerada pela União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, e também pela Câmara Municipal do Porto

 

 

11 Comments

  1. Tenho fotos e vídeos do Gilreu, inclusivamente do fundo, em dia de água transparente. Posso enviar por e-mail.

  2. Viva!
    Morei durante muitos anos em frente ao Gilreu, na Av. Brasil, esquina da Rua da Agra o meu exame de natação com o Senhor Joaquim, foi exatamente nadar até junto do Gilreu.
    Faz parte do nosso património afetivo, dos nossos sonhos e ainda hoje é o marco certo de tempestade quando aparece totalmente coberto.

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