UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (109) – Reposição

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TORRE DE PEDRO SEM – PALÁCIO DOS TERENA – CAPELA DO SR BOM JESUS DA BOA NOVA

Mesmo em frente ao portão do Jardim do Palácio de Cristal, confluem, na rua de D. Manuel II, duas outras ruas; a rua da Boa Nova (uma das mais antigas do Porto) e a rua de Júlio Diniz (aberta em 1934).
Neste gaveto podemos encontrar três casas de interesse público. A capela do Senhor Bom Jesus da Boa Nova (Bouças), o Palacete dos Marqueses de Terena e a Torre de Pedro Sem.

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Desde o século XVII que o lugar de Massarelos era muito procurado por negociantes, que aqui mandaram construir as suas quintas. Entre estes, destacaram-se os de origem estrangeira, sobretudo flamengos, alemães e ingleses.

 

A TORRE

 

TORRE DE PEDRO SEM
TORRE DE PEDRO SEM

A Torre, de construção tipicamente medieval, está classificada como Monumento Nacional.
É, por vezes, erradamente designada por Casa da Torre da Marca, mas por manifesta confusão com uma outra torre, esta sim uma verdadeira Marca (baliza), que servia como referência aos navios que demandavam a barra do Douro e que foi construída pela Câmara, em 1542, nos terrenos onde hoje se situa o Palácio de Cristal, em substituição de um pinheiro que ali existia e que servira para as mesmas funções. Esta torre foi muito danificada pela artilharia miguelista durante o Cerco do Porto, e a sua reparação, embora decidida em 1839, nunca chegou a ser levada a efeito.
Na verdade Pedro Sem está envolvido em lendas e mistérios. Para uns foi um mercador Hamburguês que terá vindo para o Porto no último quartel do séc. XVII (Pedrossem da Silva), para outros, foi um fidalgo (Pero Docem), cavaleiro Aragonês da Casa da Rainha Santa Isabel, e chanceler-mor (de 1336 a 1341) no reinado de D. Afonso IV, que construiu a Torre como forma de assinalar a sua quinta (mais tarde apelidada pelo povo de “Quinta da Boa Vista”), sendo este o verdadeiro “Pedro Sem”.
A lenda diz respeito ao primeiro (Pedrossem).
Conta-se que o negociante, rico e orgulhoso, ao ver os seus navios entrarem a barra carregados de mercadorias preciosas, desafiou o próprio Deus: Agora nem Deus seria capaz de me fazer pobre. Acto contínuo, uma tempestade destroçou todos os barcos e reduziu-o à miséria, obrigando, o depois pobre mercador, a andar pelas ruas a pedir, dizendo: – dai esmola a Pedro Sem, que já teve e agora não tem.
A casa junto à Torre, conhecida hoje em dia como Palácio dos Terena, foi construída na segunda metade do século XVIII pela família Brandão (foram Condes e mais tarde Marqueses de Terena e, ainda mais tarde, uniram-se aos Monfalim) que tinha adquirido a quinta no final do século XV.
Mais tarde, durante um grande surto de peste, que dizimou muita gente no Porto, a Torre serviu como Hospital dos Epidemiados.

 

O PALÁCIO

 

PALÁCIO DOS TERENA
PALÁCIO DOS TERENA

Ainda o Porto se remetia à Sé e a S. Nicolau e à Vitória, quando encontramos a quinta onde está o Palácio dos Terena, com o nome de Quinta da Boavista, que então, pertencia a Cedofeita.
A casa senhorial foi erguida no final do século XVIII pelos Marqueses de Terena, sendo este palácio setecentista um dos mais importantes da cidade do Porto.
Em 1919 a Diocese do Porto é forçada pelos republicanos a sair do Morro da Sé (na sequência das nacionalizações que se seguiram à implantação da República) e, por causa disso, adquiriu o Palácio dos Terenas aos Marqueses de Monfalim. Nessa altura a Torre de Pedro Sem terá sido alvo de sucessivas remodelações, como demonstram as janelas assimétricas. Foi acrescentado um terceiro andar. As modificações, no entanto, incidiram sobretudo sobre o seu interior, pelo que o seu traço continua a ser tipicamente medieval, contudo, de estilo românico-gótico.

Em 1986 a torre foi restaurada de forma a constituir-se um anexo residencial da diocese, remodelando-se por completo o seu interior. Em 1995 o mesmo espaço daria lugar à fundação SPES, criada por disposição testamentária do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.

O Palácio dos Terena está classificada pelo IPPAR como Monumento Nacional desde 1910.

 

A CAPELA

CAPELA DO SENHOR BOM JESUS DA BOA NOVA Ao lado pode ver-se o Palácio dos Terena e por trás a Torre de Pedro Sem O pedestal do Cruzeiro pode ver-se no canto inferior esquerdo da Capela
CAPELA DO SENHOR BOM JESUS DA BOA NOVA
Ao lado pode ver-se o Palácio dos Terena e por trás a Torre de Pedro Sem
O pedestal do Cruzeiro pode ver-se no canto inferior esquerdo da Capela

A Capela do Senhor Jesus da Boa Nova (Bouças) nasceu de um cruzeiro que, no século XVII, um piloto das carreiras da Índia, Pantaleão Gomes, mandou construir por ter sido salvo de uma terrível tempestade. Durante o temporal, pediu ao Senhor de Bouças (Senhor de Matosinhos) que o salvasse e que se isso acontecesse e chegasse são e salvo a Miragaia, onde vivia, erigiria, em seu louvor, um Padrão (Cruzeiro) – E assim aconteceu, em 1628.
Com o passar dos anos, os devotos do Senhor da Boa Nova, começaram por colocar uma cobertura sobre o Cruzeiro, e depois, por volta de 1750, construíram a capela, ingénua e graciosa, que hoje ainda se abre ao culto, semanalmente. A torre sineira só apareceu mais tarde, deslocada para “dentro”, a deslado da Capela. Aos sinos, nunca os ouvi, nem sei se alguma vez tocam.
O Cruzeiro, encontra-se no Museu de Arte Sacra, e a sua base faz parte das paredes da Capela, podendo ver-se as inscrições nele contidas (onde facilmente se vê a data) na esquina exterior com a Rua da Boa Nova.

 

 

 

 

Faleceu Nuno Ortigão,

Presidente da União de Freguesias de Aldoar – Foz do Douro e Nevogilde.

Perdemos um Excelente Autarca, uma Boa Pessoa e um Bom Amigo.

Descansa em Paz, Nuno.

 

 

NO DIA 5 DE MAIO:

 

10 Comments

  1. Quer saber que nunca reparei no cunhal da Capela da Boa Nova…
    Tenho o hábito de olhar mais para cima , talvez por isso, nunca dei conta dessa pérola do rosário da História do Porto.
    Também o felicito por ter incluído o vídeo referente a Paulo Cunha e Silva.

    Um abraço.

  2. É com prazer que recebo pela primeira vez informação sua, o que desde já agradeço.Muito obrigado pela interessante informação sobre este conjunto de edifícios frente ao Palácio que se refere. Serviu-me para esclarecer dúvidas que tinha quer sobre a Torre, como sobre a história de Pedro Sem. Obg tb por incluir a notícia sobre Paulo Cunha e Silva ( uma grande perda nacional, um Homem enérgico cheio de propostas e iniciativas promovendo Portugal onde quer que estivesse. Que descanse em paz)

  3. És a pessoa que me faz ver aquilo que julgava já ter visto muitas vezes.
    Oportuna reportagem. Continua.

    Com um abraço de amizade,
    Joaquim Pinto

  4. Gostei imenso de saber da Torre de Pedro Sem, que não fazia ideia de onde era, apesar de conhecer a história… Os meus sentimentos pelo seu amigo, do qual não consegui saber a data de nascimento (1964 ou 1965?). Quanto ao Cunha e Silva, meu vereador, tenho pena que a morte o tenha impedido de começar a olhar para a Biblioteca…

  5. Esqueci-me de dizer que desconhecia por completo a história desta capela e que tinha a ver com Bouças! Nunca entre lá dentro… Muito interessante!

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