31 de Março de 2016
CINE FOZ
A Foz do Douro, é no princípio do século XX uma consolidada e reconhecida zona balnear, dispondo de um teatro (Vasco da Gama), e na Esplanada do Castelo, de uma sala de projecção de cinema (Au Rendez-vous d’ Êlite).
O Au Rendez-Vous d´Êlite terá sido o segundo cinema da cidade do Porto. O primeiro, inaugurado em 1906, foi o High-Life, que estava inicialmente na Feira da Boavista (Rotunda da Boavista) e que mais tarde, em 1908, se transferiu para a Batalha, no local onde foi construído, em 1946, o cinema Batalha.
Até ao aparecimento da energia eléctrica o Au Rendez-Vous d´Êlite funcionava com uma máquina a vapor, através de uma caldeira colocada nos terrenos anexos. Na casa da caldeira, dizem, morava também o gerente do cinema.

Nos meus tempos de catraio passeava imensas vezes pela Foz com os meus pais. Eram passeios de fim-de-semana, a pé, que me faziam aprender a minha terra, o rio, o mar, as casas e as pessoas.
Com a atenção possível a um chavalo que ainda não tinha chegado à adolescência, o meu pai debitava repetidas vezes, algumas das histórias dos locais por onde passávamos. Aqui esteve a Pensão tal, aquele é o Hotel, mais ou menos ali era a Farmácia Amorim, algures por aqui o Clube Rigollot, lá ao fundo a Casa Brasileira, e acolá o Cinema. E eu olhava, olhava, imaginava o para mim inimaginável e tentava memorizar.
O Castelo da Foz era o que eu mais gostava, vendo-me em lutas contra os selvagens, os piratas, os mouros ou os franceses, sempre pelo lado de fora do Castelo, que me não lembro de nessas alturas alguma vez lá ter entrado. E o outro lugar que bolia com os meus sentidos era o cinema.

-Já não funciona, mas, quando passava filmes, era a sala com melhor acústica do Porto – dizia o meu pai de cada vez que por lá passávamos. Não é que eu soubesse o que era a acústica, mas lá ia acenado que sim com a cabeça, enquanto os meus pensamentos fervilhavam com as imagens do Cantinflas, ou dos cowboys ou de outras quaisquer aventuras.
Um dia, já adolescente, e sem que eu desse por isso, o cinema desapareceu e em seu lugar surgiram prédios altos. Quando me apercebi disso, num outro qualquer passeio, já os monstros de betão lá estavam, bem altos, novinhos, com novas pessoas a por lá viverem, com vista privilegiada sobre a barra do Douro e sobre o mar.
Praticamente esquecido, perdido nas brumas da cidade e do tempo, o Cine-Foz teve um papel muito importante na história do cinema, não só da cidade do Porto mas acima de tudo, de Portugal, nos primeiros anos do cinema no nosso País. Foi inaugurado em 1907 com o nome de Au Rendez-vous d’ Êlite. Uns anos mais tarde, o edifício, que não passava de um barracão que nem átrio tinha, foi transformado pelo Eng.º Xavier Esteves, passando a designar-se Cine Foz. Tinha uma lotação máxima de 370 espectadores. Ficava situado na Esplanada do Castelo, e rapidamente as sessões de animatógrafo fizeram sucesso. Prolongou a sua actividade até sensivelmente 1958, mas actualmente poucas memórias restam. Algumas fotografias do edifício, e muitas imagens na memória dos mais velhos. Foi demolido em 1967 para dar lugar aos actuais prédios.

ERA AQUI, NA PARTE DOS PRÉDIOS NOVOS, QUE FICAVA O CINE FOZ
Actualmente, como memória de um saudoso passado, só um estabelecimento de cabeleireiro, que usa o nome Cine Foz. É pouco, e os responsáveis autárquicos bem que poderiam fazer mais, e melhor.

O Cine Foz, que conheci e frequentei, ainda existia em 1971. Deixou de ter actividade em 1963. Era contíguo ao jardim (na 1ª. foto) do palacete da família Cabral. Posteriormente nesse local construíram o prédio onde está o cabeleireiro Cine Foz.
Qualquer sexagenário, natural da Foz, chama à parte alta da Esplanada do Castelo: “Alto Castelo”.
A parte de baixo, junto ao castelo, é conhecida como o “Fosso”.
Nomes que estão a ficar em desuso.
De facto, António Tavares, o Cine-Foz exibiu a última sessão em Maio de 1967. Esta informação foi-me dado pelo próprio Sr. Bessa que, como sabes, era funcionário do cinema. Entretanto permite-me acrescentar que, em 13 de Janeiro de 1912, o Cine-Foz (Au rendez-vous d’Êlite domo se chamava na época) foi sujeito a profundas obras e melhoramento conforme licença de obras nº 204/1912 de 12 de Fevereiro deste ano. Anexo a esta licença que pode ser consultada no site GISAWEB do Arquivo Histórico do Porto, está o projecto dos melhoramentos propostos. Um abraço.
À porta do palacete que referes (família Cabral) passei horas, em miúdo, à espera que entrassem ou saíssem os dois carros da família. Quando isso acontecia ficava maravilhado pela beleza dos mesmos.
A d. Isabel Cabral foi madrinha de Batismo da irmã mais nova ( Rosalinda Martins ) –JOMAR