A FALÊNCIA DE WALL STREET, por Georges Ugeux, Le Monde

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

8. 2012 : os abusos da finança mundial em análise 

 

É pouco credível que, após a crise de 2008, o mundo financeiro tenha ignorado até este nível quais foram as lições a tirar dos seus abusos. A acumulação destes durante o primeiro semestre de 2012 é uma perfeita confirmação de que algumas práticas, apesar de uma maior regulamentação, continuam a verificar-se através dos mercados financeiros.

1. A utilização de capital para actividades especulativas: é o caso do JP Morgan, que perdeu 5,8 mil milhões de dólares nas suas operações em Londres. Ultra-dimensionando em termos de activos utilizados o seu Corporate Investment Office, em Londres, o banco efectivamente procurou utilizar uma excepção à regra Volcker em que se proíbe a utilização dos seus fundos próprios como proprietary trading . Esta excepção, que tinha dado aso a um lóbi enormíssimo pela parte dos bancos e devia em princípio assegurar a cobertura de riscos, levou o banco a tomar novas posições especulativas. Os inquéritos parlamentares estão em curso.
2. O uso de fundos de clientes para reconstituir os fundos próprios: é o caso da MF Global, dirigida por  um ex-presidente da Goldman Sachs, ex-senador e ex-governador de Nova Jersey. O corretor mentiu ao seu banco depositário, quanto ao colateral para empréstimos, afirmando que os fundos colocados em depósito para garantir o seu rácio de solvabilidade eram na verdade, fundos próprios. Este foi afectado por perdas pelas posições especulativas assumidas, especialmente em títulos da dívida pública de países europeus. Está insolvente e os seus clientes estão desesperadamente a tentarem recuperar o seu dinheiro que nunca poderia ser misturado com o capital do corretor. As autoridades de supervisão tentaram parar esta situação. Aguarda-se, agora, o resultado do processo judicial.
3. O desvio de fundos dos clientes por um corretor e 20 anos de fraude nas contas. A firma Peregrine Futures está falida. Esta firma era um corretor em produtos derivados. O seu director, Russell Wasendorf, reconheceu na nota que acompanha a sua tentativa de suicídio falhada, ter desviado 100 milhões dólares para salvar a situação do seu fundo. Este está preso.
4.  A manipulação da taxa Libor por uma dúzia de bancos europeus e norte-americanos tornou-se um assunto de Estado. A multa de 350 milhões de euros aplicadas ao Barclays e a demissão de vários dos seus líderes são apenas o começo desta saga. Desde 2008, o Tesouro americano havia notado as tentativas de subestimação para proteger a reputação dos bancos e da escrita e propôs por escrito ao Banco da Inglaterra para examinar o funcionamento da LIBOR. Recentemente, foram as sobreavaliações que foram notadas. Esperam-se multas de mais de mil milhões  de dólares a outros bancos. Esta é a maior fraude da história financeira. Processos penais estão a ser encarados.
5.  O delito de iniciados dos Hedges funds, delito este chamado insider trading, O caso do Hedge fund Galleon levou a que o seu director tenha apanhado uma pena de 14 anos de prisão e espera-se a penalização de um dos seus amigos, ex-sócio-gerente da McKinsey. Ex-Director da Goldman Sachs, abandonou  uma reunião crucial do Conselho para informar o Hedge fund,   alguns minutos antes do encerramento  do mercado, da entrada de Warren Buffett (Berkshire Hathaway) com capital para o Goldman Sachs. Ele imediatamente comprou imediatamente acções da empresa. Ele está a aguardar a leitura da sentença quanto á sua condenação por insider trading. No Japão, as autoridades lançaram uma investigação importante sobre a hipótese de insider trading sobre as actividades de  Japan Advisory LLC, que tinha laços especiais com os Hedges funds . Nos Estados Unidos, foi finalmente abolida a disposição que isentava  os membros do Congresso, enquanto os diplomatas norte-americanos estão a tentar  manter este privilégio.
6. O branqueamento do dinheiro da droga ou do terrorismo voltou a aparecer à luz do dia nesta terça-feira com uma audiência no Congresso, dos executivos do HSBC. Em questão? A existência de transacções suspeitas com o cartel mexicano, cartel da droga, incluindo um pagamento em dinheiro de 8 mil milhões de dólares nos Estados Unidos e de  25.000 operações com o Irão,  num total de quase US $ 20 mil milhões. A investigação do departamento de Justiça continua. Estamos agora ao nível do penal. Seis bancos internacionais tinham posto a mão no saco: eles apagavam as informações sobre a origem dos fundos.

Estes casos são diferentes, mas mostram uma resistência fundamental dos dirigentes das instituições financeiras às novas (ou velhas) regulações. Será que eles se julgam acima das leis? Esperam eles nunca serem apanhados? Essa sensação de sobre poder está longe de ser erradicada nas principais instituições financeiras ou nas salas de mercado.

Nalguns destes casos, no entanto, as autoridades financeiras parecem terem não terem estado à altura das suas obrigações. O Banco da Inglaterra não tomou as medidas para necessárias para reformar a LIBOR. A SEC tem sido negligente no acompanhamento da afectação dos fundos próprios dos corretores. Que foram as dezenas de representantes da Reserva Federal instalados nos escritórios de JP Morgan?

Enquanto os factos são, se não conhecidos, pelo menos suspeitos, aqui haveria uma certa relutância em enfrentar tais situações potencialmente explosivas. Isto faz-nos lembrar que é difícil controlar de forma eficaz os abusos financeiros. Eles são feitos por dirigentes ou operadores das salas de mercados infinitamente melhor treinados e melhor remunerados do que aqueles que devem supervisioná-los. Elles tombé estão  sujeitos a pressões políticas.

Esta questão permanece em aberto. Não é o suficiente mudar as regulações. Também é necessário adquirir os meios necessários para a sua implementação. Os republicanos recusaram qualquer aumento dos recursos das autoridades de supervisão. Uma boa maneira de evitar que os abusos sejam detectados e punidos.

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