Selecção, tradução, montagem e introdução por Júlio Marques Mota
PARTE II
(continuação)
Expulsando do poder a chamada “esquerda”, como os franceses expulsaram a chamada “direita”, os eleitores portugueses verificaram que os seus votos não serviram rigorosamente para coisa nenhuma.
Colocado sob a tutela da oligarquia euro-atlantista como todos os outros governos da União Europeia, o novo governo português tem implementado, tem colocado em prática a mesma política que o seu antecessor, endurecendo-a ainda mais, ou seja, está a destruir as conquistas sociais, os direitos sociais adquiridos, e a colocar a preços de saldo no sector privado o património público nacional, o que é exigido pelo FMI e pela Comissão Europeia.
Assim que foi nomeado primeiro-ministro de Portugal em Junho de 2011, como perfeito europeísta extremamente dócil, o líder da chamada “oposição de direita” teve exactamente a mesma política que o seu antecessor considerado “de esquerda”.
O governo de Lisboa apela oficialmente a que os jovens portugueses saiam do seu país
O governo português foi bem mais longe.
- Tendo em conta o aumento do desemprego, em particular o desemprego de juventude – mais do que um português jovem em cada 3 está desempregado- o governo lançou também uma política oficial de imigração, para incentivar os desempregados ou sub-empregados, que desejam escapar à pobreza endémica e à regressão social a procurarem encontrar emprego no estrangeiro.
- Há um mês e meio – em 4 de Julho de 2012, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na verdade apelou aos seus compatriotas para emigrarem. Ele aconselhou-os “a mostrarem mais capacidade de esforço”, exortou-os a que “deixem a sua zona de conforto” e que vão procurar trabalho noutros lugares.
- Em particular, os professores incapazes de encontrarem trabalho no país devem, portanto, pensar em emigrar para Angola ou para o Brasil, as antigas colónias portuguesas.
- Salvo erro da minha parte esta é a primeira vez que um governo da União Europeia apela oficialmente a que os seus compatriotas abandonem o país para irem procurar uma vida melhor no estrangeiro.
- Uma brutal caricatura da situação. Um dono de bar discute com um cliente sob o olhar plácido de um representante do FMI (de cima para baixo e da direita para a esquerda):
(Obrigado ao Bartoon e ao Público)
Alguns humoristas ridicularizarem a situação e criaram mesmo uma fotomontagem apresentando um “Kit de emigração” governamental. Estes foliões foram ao ponto de abriram mesmo uma página no facebook:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=320683671289053&set=a.320683667955720.82862.320683567955730&type=1&theater
A emigração portuguesa é uma constante histórica, que teve um enorme pico na década de 1960
Os portugueses mais velhos nem queriam acreditar no que ouviram, as propostas do seu novo primeiro-ministro. Porque estes conselhos governamentais fizeram com que vivamente se recordassem do que viveram e sofreram há meio século atrás, e assim reviveram um regresso à geração dos jovens adultos que partiram de Portugal em massa para a França na década de 1960.
Nessa época que estava já perto do fim da ditadura salazarista, muitos jovens portugueses, principalmente originários do extremo norte do país (Minho e Trás-os-Montes) e principalmente saídos dos meios proletarizados e ou campesinos fugiam do seu país. Eles queriam escapar à pobreza extrema e à ditadura. Além disso, muitos jovens queriam fugir de um serviço militar longo devido às guerras coloniais, então a serem travadas em Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.
Nesta época o país eldorado chamava-se França. Porque a França da década de 1960, sob a Presidência de Charles de Gaulle, estava a ter um forte crescimento económico e em que o futuro parecia garantido e onde faltava mão-de-obra em especial nas diversas profissões ligadas ao sector da construção, onde se concentrou a esmagadora maioria dos imigrantes portugueses.
Os portugueses eram 50.000 em França, em 1962. Em 1975, estes eram 750 000, e passaram a ser a primeira comunidade de estrangeiros na França. Cerca de 8% da população portuguesa tinha assim partido para a França…
Hoje, as estatísticas indicam que havia ainda 555 000 nacionais de origem portuguesa a viverem em França. Mas, isso era sem contar alguns 240 000 binacionais franco-.portugueses. E era também sem contar com os numerosos franceses de origem portuguesa ou nascidos de um casamento misto franco-português, o que escapava de facto às estatísticas, porque estes não têm só a nacionalidade francesa e que eles de facto se integraram perfeitamente na comunidade nacional.
Diga-se de passagem que a UPR se orgulha de contar com a presença de franceses de origem portuguesa entre os seus membros e os seus responsáveis.
Como outros franceses – cujos pais eram imigrantes de países do Sul da Europa, do Magrebe, África e Ásia – e que se juntaram nas nossas fileiras, são uma evidência tangível que o mecanismo de integração à francesa continuou a funcionar, apesar de tudo o que se possa dizer e apesar de todas as armadilhas que se lhes colocam.