A PRAIA DOS INSURRECTOS
No rio Douro, do lado da cidade do Porto, havia praias. Já aqui falei da que existia onde hoje é a Alfândega. Hoje falo da que havia onde hoje fica o Cais das Pedras.
Situada junto ao Cais das Pedras e por promessa dos navegantes que tinham escapado a um naufrágio quando vinham de Londres, foi, em 1394 construída a Capela do Corpo Santo.
Nessa capela nasceu, pouco depois, a Confraria do Corpo Santo, que desempenhava funções muito importantes, desde a defesa da costa dos ataques dos piratas argelinos até seguros marítimos. A Confraria tinha barcos próprios, comprados com os seus rendimentos, e recebia grandes proventos dos seus negócios e doações.

CAIS DAS PEDRAS
VIADUTO DO CAIS DAS PEDRAS
PRAIA DA PAIXÃO
PRAIA DOS INSURRECTOS
Corriam os anos do domínio espanhol quando, em 1588, Filipe II organizou a Invencível Armada (contra Inglaterra). Resolveu, para fazer parte dessa Armada, confiscar, entre outros, os dois melhores barcos da Confraria, os brigues Senhora da Conceição e Esmeralda. Esses brigues tinham sido oferecidos por um dos Irmão da Confraria, em promessa que havia feito, no Brasil, a S. Telmo. Essa doação implicava a obrigação de os rendimentos líquidos serem, parte para obras de aumento da capela, e outra parte para a compra anual de doze lençóis para sepultar os cadáveres dos naufrágios.
Os tripulantes acabados de chegar de uma das suas viagens, foram confrontados com a intimação imposta pelo rei espanhol e, juntamente com os Irmãos das Almas, não aceitaram bem esse confisco e resolveram queimar as velas e rasgar e queimar a bandeira espanhola.
A partir daí, o cais e a praia que se chamava da Paixão, passaram a ser chamados “dos Insurrectos”, por expressa determinação do rei opressor.

Hoje, já nada existe. Nem a praia, desaparecida com a alargamento do cais, nem o cais, enquanto tal, já que, em 1997, na vigência de Fernando Gomes, lá se colocou um viaduto, na verdade bem desenhado e bem integrado no tecido urbano, a que chamaram “Viaduto do Cais das Pedras”, mas que bem deveria ser chamado de “Viaduto dos Insurrectos” para que a História se não apague.
A Praia e o Cais dos Insurrectos, como tal deveriam ser chamados, pois que, a par de outros epítetos com que nos brindam, também este, só nos honra.
http://www.porto24.pt/cidade/rui-moreira-garante-obras-bolhao-mesmo-sem-verbas-europeias/
Obrigado por nos dar a conhecer momentos tão importantes para a vida de quem ama o Porto. Mais um belo apontamento sobre uma das desaparecidas praias da cidade antiga. Admiro imenso o seu estilo. Continue a divulgar as Suas Cartas. Votos de um excelente 2016.
Muito obrigado, caro amigo.
Um excelente 2016 para si também.