UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (104) – Reposição

carta-do-portoUM VELÓDROMO NO PORTO

Poucos são os Portuenses que sabem da sua existência.

Bicicletas antigas
Bicicletas antigas

Para os mais distraídos, ou melhor, para quem nunca ouviu falar, devo dizer que há um velódromo no Porto.
E o velódromo que cá temos, ou tivemos enquanto tal, por acção do Arquitecto Fernando Távora, já nada tem a ver com uma estrutura dedicada às artes velocipédicas. O espaço ainda lá está, as curvas em “relevéé”, ainda existem, bem assim como partes das rectas paralelas que o compunham. Mas agora, desde o “trabalho” do sr. Arquitecto, chama-se Cerca. Trata-se do velódromo da cidade do Porto, que se encontra escondido, vergonhosamente diria, esquecido e, mais grave, destruído e vilipendiado. Restam alguns vestígios que nos permitem ver, ou pelo menos “ sentir”, que ali, naquele local, existiu algo que nos liga ao ciclismo. O velódromo é, por si só, um monumento, que foi grosseiramente destruído, por quem não teve respeito pela história e pelo passado da cidade e também pela história do desporto nacional.
Mas comecemos pelo princípio, que é como quem diz, pelos finais do século XIX.
O ciclismo foi, nos finais do século dezanove e primeira década do século XX¸ uma modalidade das elites.
Em 1893 foi criado no Porto o “Real Velo Club do Porto”, com sede no antigo Chalet do Palácio de Cristal. Era seu Presidente Honorário El-rei D. Carlos.

Chalé Palácio de Cristal
Chalé
Palácio de Cristal

 

Palácio dos Carrancas Actual Museu Soares dos Reis
Palácio dos Carrancas
Actual Museu Soares dos Reis

O Palácio dos Carrancas (hoje, Museu Soares dos Reis), era pertença da família Real desde 1861.
Em 1894 o Rei D. Carlos decidiu oferecer àquela instituição, como prenda integrada nas comemorações do V centenário do Infante D. Henrique – Comemorações Henriquinas, um espaço no Palácio, na parte da quinta dedicada à lavoura (Quinta do Paço), para a construção de uma pista de ciclismo em macadame, e dois campos de ténis no seu interior. A esse velódromo foi dado o nome de Rainha D. Amélia. O espaço tinha entrada lateral, pela rua do Pombal (actual Adolfo Casais Monteiro) e a pista tinha 333,33 metros de perímetro, sendo o segundo velódromo do país. O primeiro tinha sido inaugurado em 1893, na Quinta de Salgueiros, pela Secção Velocipedista do Clube de Caçadores do Porto.

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Junto ao topo poente, ainda se pode observar uma pedra de granito, comemorativa da fundação do Club, trazida da sua original localização, no Palácio de Cristal.

Bancada Principal do Velódromo
Bancada Principal do Velódromo
Meta - Velódromo
Meta – Velódromo

O Velódromo Rainha D. Amélia foi, na primeira década do século XX, o maior recinto desportivo da cidade, sendo palco de uma modalidade a que os tripeiros logo aderiram, mal se começaram a interessar por desporto.
Inaugurado em 1895 ali se realizaram muitas corridas e demonstrações desportivas, incluindo a primeira corrida de motorizada realizada em Portugal.
O Velódromo do Porto encerrou em 1910 com a implantação da República e a ida do rei D. Manuel II para o exílio. O espaço foi legado à Misericórdia do Porto, à morte de D. Manuel, mas em 1939 o Estado Novo decidiu “nacionalizar” o palácio e a sua envolvente para aí ser instalado o espólio do Museu Municipal do Porto e do ex-Museu Portuense de Pinturas e Estampas, fundado em 1833, mais tarde Museu Soares dos Reis.
O terreno foi objecto da última requalificação no contexto da “Porto 2001, Capital Europeia de Cultura”.
Entretanto, o espaço está bonito, arejado e é muito simpático e moderno. Está fechado ao público, o que quer dizer à cidade, dizem que por falta de funcionários.
A direcção do Museu parece estar a preparar o recinto para uma futura abertura aos visitantes, mas, disso, já se fala há quase dois anos, e até ver… nada!

Na Actualidade…

Velódromo na actualidade
Velódromo na actualidade

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Na actualidade Espaço onde havia os campos de Ténis Portal manuelino do convento de Monchique.
Na actualidade
Espaço onde havia os campos de Ténis
Portal manuelino do convento de Monchique

 

 

 

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3 Comments

  1. Desconhecia a localização deste velódromo, por única e exclusiva culpa minha.
    Estou sempre interessado no reconhecimento das estruturas urbanas da nossa cidade, até pela minha formação profissional mas….esta tinha-me escapado.
    Agradeço as “Cartas do Porto” anteriores que me tem sido transmitidas.
    Fico curioso em saber quem foi o “meliante” que indicou o meu e-mail?
    O mtº grato
    António Menéres

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