SOBRE OS LEOPARDOS QUE QUEREM BEM SERVIR BRUXELAS – DA ITÁLIA, FALEMOS ENTÃO DE UM BOM EXEMPLAR – 23. RENZI – O POPULISMO TECNOCRÁTICO DO GRANDE REFORMADOR – ERROS E ILUSÕES DA RENZINOMICS – por PAOLO PINI e ROBERTO ROMANO

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

mapa itália

Erros e ilusões da Renzinomics

merkel-renzi-europa

Paolo Pini e Roberto Romano, temi repubblica.it/micromega

Errori i e illusioni della Renzinomics, 24 de Março de 2014

 Parte IV

(CONCLUSÃO)

A fase 1 da reforma do mercado de trabalho é assim iniciada em conjunto e com a de simplificação e desregulamentação da legislação laboral. Agora só resta esperar o “texto unico”, sobre o trabalho, texto sintético e necessariamente em inglês para torná-lo compreensível para a imprensa estrangeira que chegarão “em massa” para terem a oportunidade de explicar a nova Renzinomics. Para a fase 2, a das oportunidades e das protecções do mercado de trabalho, deve-se ter que esperar, dada a ausência de significativos recursos financeiros necessários para a criação do sistema de flexsecurity e à espera da reforma da Administração Pública que permita conjugar, num sistema competitivo, o sistema público e o sistema privado no mundo das condições de trabalho e da formação. Entretanto, podem-se preparar algumas reformas mínimas, marginais, com os poucos recursos disponíveis, tais como a nova Aspi que estende o subsídio para aqueles que perdem o trabalho pelo menos a algumas centenas de milhares de pessoas.

A nível macro, portanto, não podemos esperar algo muito diferente da intensificação das políticas de desvalorização interna que têm sido seguidas e em que se combinam no trabalho, as relações de trabalho mais flexíveis, a precariedade e os salários baixos, que permitem a que as empresas possam competir mais pela via custos e preços do que sobre a qualidade do que é produzido. A idéia é que se possa reduzir a diferença de competitividade com países virtuosos e tentar reequilibrar os défices comerciais e as dívidas públicas, relançando um modelo orientado para a exportação para todos os países periféricos da zona euro, contraindo a procura interna. Esta é a política que a Europa não só recomenda como impõe a todos os estados-membros. O risco é grande para os países periféricos: cada país tentará beneficiar da sua desvalorizaçãio interna, reduzindo o volume de emprego e os salários, comprimindo os custos para salvar a sua própria base industrial em detrimento dos outros. A história ensina que este jogo não é é um jogo de soma positiva mas é sim, muitas vezes, um jogo de soma negativa, especialmente no médio e longo prazo. Mas isso faz parte da doença do curto-terminismo que os mercados financeiros têm imposto à economia real.

Se olharmos com atenção para as medidas apontadas percebemos como é difícil encontrar alguma coisa de inovador e que possa modificar o rumo do crescimento do país. Não se irá ver a redução dos impostos, o Irap ou o Irpef para relançar a procura. Como diria Keynes, não se pode esperar planos para relançar o investimento por parte das empresas se as expectativas sobre a procura dos seus produtos forem, negativas. Por fim, os investimentos são directamente proporcionais às expectativas de crescimento do sistema econômico, não às expectativas de uma redução de impostos. Além disso, a menor competitividade das empresas italianas não é atribuível ao custo do trabalho, entre os mais baixos dos países da OCDE, mas sim e sobretudo à baixa produtividade dos investimentos das empresas privadas. Poucos sabem, mas a relação Investimento/ PIB da Itália é igual à média dos países europeus (19,4%), mas o produto por unidade investimento é apenas de 1/5. Talvez a Itália tenha que enfrentar problemas muito mais graves.

Se por um lado o primeiro-ministro Renzi no início da sua aventura tenha introduzido algumas linhas de trabalho em termos de política industrial, por outro lado, as medidas tomadas têm tido o sabor amargo da renúncia. De qualquer maneira consolida a ideia de que a crise é uma crise toda ela interna à alta pressão fiscal interna que teria inibido o investimento, a investigação, o desenvolvimento e a criação de emprego. Infelizmente, o sistema produtivo nacional tornou-se progressivamente marginal no contexto europeu. A sua especialização produtiva não consentirá recuperar nenhuma nova quota de comércio internacional pela simples razão de que a procura internacional se baseia em bens e serviços que a Itália desde há tempos deixou de produzir . A Itália é o único país na área da OCDE nos quais a despesa em investigação e desenvolvimento público (GERD) é maior do que a efectuada pelo sector privado. Fácil de entender esta música: as empresas não investem em pesquisa e desenvolvimento. Devemos mudar o modelo interpretativo: as estatísticas são a fotografia do estado da arte. Por definição, as empresas fazem despesas em investigação e desenvolvimento para conquistarem quotas de mercado antes das outras empresas, sempre que a especialização produtiva o exija. Reformulemos a pergunta: e se em relação à especialização a despesa fosse coerente em investigação e desenvolvimento nas empresas? Na verdade corre-se o risco de ser coerente. É o motor do carro que já não é adequado. Nenhuma desvalorização do valor do trabalho será capaz de resolver o nó do problema . Nalguns aspectos, reproduz-se um modelo que tendencialmente empobrecerá cada vez mais o nosso país.

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Ver o original em:

http://temi.repubblica.it/micromega-online/errori-e-illusioni-della-renzieconomics/

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Para ler a Parte III deste trabalho de Paolo Pini e de Roberto Romano, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2014/09/03/sobre-os-leopardos-que-querem-bem-servir-bruxelas-da-italia-falemos-entao-de-um-bom-exemplar-23-renzi-o-populismo-tecnocratico-do-grande-reformador-erros-e-il/

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Parte I

http://aviagemdosargonautas.net/2014/09/01/erros-e-ilusoes-da-renzinomics-por-paolo-pini-e-roberto-romano/

Parte II

http://aviagemdosargonautas.net/2014/09/02/sobre-os-leopardos-que-querem-bem-servir-bruxelas-da-italia-falemos-entao-de-um-bom-exemplar-23-renzi-o-populismo-tecnocratico-do-grande-reformador/

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